Multiculturalismo, um valor a preservar
Há poucos dias chegou-me às mãos um exemplar da obra “Macau, Século XXI – 澳门的廿一世纪”, com apresentação marcada para Domingo, 15 de Maio, no Clube Militar de Macau, após ter sido oficialmente lançada em Lisboa no passado mês de Janeiro.
Ao folhear o livro, não pude deixar de prestar atenção a determinados conteúdos, pelo meu ávido interesse em melhor conhecer a História de Macau. A mais-valia desta publicação, efectuada pela Liga da Multissecular Amizade Portugal-China, está na feliz ideia de ser bilingue (Português e Chinês simplificado), servindo genericamente os leitores de Macau, de Portugal e da China continental.
Gostei particularmente dos esparsos “Alma de Macau”, de Rogério Beltrão Coelho e Cecília Jorge, que retratam algumas características e singularidades do território, enquanto para os artigos de fundo são dois os meus destaques: 1 – “Economia da RAEM, aos 15 anos”, de José I. Duarte, que de forma sóbria e objectiva toma o pulso ao tecido económico no período pós-transferência de poderes. 2 – “Comunicação Social na RAEM: um desafio permanente”, de Rogério Beltrão Coelho, que traça com rigor o percurso da Imprensa portuguesa em Macau, já com quase dois séculos de existência.
É também de grande utilidade a cronologia do território entre 25 de Abril de 1974 e 20 de Dezembro de 2014, por abranger um período testemunhado, parcialmente ou na sua totalidade, por muitos de nós. Após esta primeira edição de 750 exemplares, é meu desejo que se concretizem outras no futuro. São obras deste calibre que nos fazem lembrar o quanto importante foram e continuam a ser os portugueses de Macau, porque também ajudaram a construir e continuam a cimentar as relações luso-chinesas.
Ramal dos Mouros
O Conselho do Planeamento Urbanístico aprovou, na passada terça-feira, o projecto que prevê a construção de uma torre habitacional, espaços comerciais e uma mesquita, na zona do Ramal dos Mouros, conforme pretensão da Associação Islâmica de Macau, concessionária do terreno. A última palavra cabe à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, vulgo DSSOPT.
Embora seja católico, nada tenho contra o facto de haver uma mesquita no Ramal dos Mouros que sirva as necessidades religiosas dos seus crentes, porque as cinco grandes religiões merecem todas o meu respeito.
O Islão tem estado nos últimos anos nas bocas do mundo, infelizmente pelas piores razões. Estou plenamente convicto que o extremismo não reflecte a vontade e o pensamento de todos os muçulmanos. Se cabe ao(s) líder(es) da comunidade muçulmana de Macau a responsabilidade de contribuir para a harmonia social, também é seu dever primar pelos valores que fazem desta terra um bom exemplo do multiculturalismo étnico-religioso.
Por outro lado, a exagerada cota altimétrica da torre do Ramal dos Mouros, assim como as de outros projectos de grande envergadura oriundos do sector privado, tais como o de David Chow, na Doca dos Pescadores, e o de Sio Tak Hong, no Alto de Coloane, nada mais são do que más práticas urbanísticas que correm o risco de continuar a “fazer lei” e a descaracterizar o território.
Uma ressalva: para evitar interpretações erróneas e mal-entendidos, não é por escrever numa publicação de inspiração católica que deixo de ter opinião própria sobre o assunto. Tenho e partilho-a livre de preconceitos, a salvo de qualquer tipo de discriminação.
Pensões ilegais
As pensões ilegais são uma chaga que persiste há muito tempo, podendo apenas servir para alojamento mediante remuneração, mas também para acolher práticas de âmbito criminal (tráfego de droga, lenocínio, falsificação, contrafacção, etc.). Qual a solução mais adequada para a revisão da Lei de Proibição de Prestação Ilegal de Alojamento? Criminalizar ou não?
Para este tipo de situações não há volta a dar porque o combate só vai ter sucesso com uma forte medida dissuasora. A criminalização é a melhor via, caso contrário não só vão florescer as pensões ilegais (as redes sociais são um bom veículo para captar clientes), como determinadas actividades criminosas vão continuar a estar fora do radar das autoridades competentes.
Se a grande dor de cabeça tem sido a insuficiência de recursos humanos para aplicar com eficiência a lei vigente, imagine o leitor o que acontecerá se as pensões ilegais não forem criminalizadas. A revisão de uma lei deste calibre representa sempre um claro sinal para quem vive à margem da sociedade.
Rectificação
Na edição da semana passada, a propósito dos “Cadetes da Air Macau”, escrevi nesta mesma rubrica que a companhia aérea «tornou claro que os candidatos devem ser portadores do BIR e de um passaporte válido com outra nacionalidade, sem ser a chinesa», quando o mais correcto seria mencionar que a mesma «tornou claro que os candidatos devem ser portadores do BIR, não excluindo cumulativamente os titulares de um passaporte válido com outra nacionalidade, sem ser a chinesa».
Pelo lapso, apresento as minhas sinceras desculpas à Air Macau Contudo, mantenho as afirmações sobre o que penso do concurso de admissão em relação ao sexo feminino. Já agora, as inscrições terminam este Domingo.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA