Papa quer compromisso contra a pobreza
O Papa denunciou, no Vaticano, o que chamou de «globalização da impotência», perante as guerras e as várias formas de pobreza, apelando a um compromisso concreto das comunidades católicas e dos responsáveis políticos. «O nosso estado de impotência parece ser confirmado, em primeiro lugar, pelos cenários de guerra que infelizmente estão presentes em várias regiões do mundo. Mas a globalização dessa impotência nasce de uma mentira: da crença de que a história sempre foi assim e não pode mudar», disse Leão XIV, na homilia da Missa a que presidiu no passado Domingo, na Basílica de São Pedro, por ocasião do Jubileu dos Pobres.
Integrado este ano na celebração do Ano Santo, o IX Dia Mundial dos Pobres foi dedicado ao tema “Tu és a minha esperança”.
Na Santa Sé, o Papa Leão XIV sensibilizou os presentes para a importância do “outro”. «Queremos estar atentos ao outro, a cada um, ali onde estamos e onde vivemos, transmitindo essa atitude já na família, para vivê-la concretamente nos locais de trabalho e de estudo, nas diferentes comunidades, no mundo digital, em toda a parte», disse, alertando para a necessidade de que cada comunidade católica seja sinal de «salvação no meio dos pobres».
«A pobreza interpela os cristãos, e também todos aqueles que têm cargos de responsabilidade na sociedade. Exorto, portanto, os chefes de Estado e os responsáveis das nações a ouvirem o clamor dos mais pobres», insistiu.
Durante a reflexão, o Santo Padre identificou várias formas de pobreza que «oprimem» o mundo contemporâneo. «Trata-se, primordialmente, de pobrezas materiais, mas também existem inúmeras situações morais e espirituais, que muitas vezes afectam sobretudo os mais jovens. E o drama que atravessa todas elas, transversalmente, é a solidão», precisou o Pontífice, tendo sublinhado que a solidão obriga a olhar para a pobreza de «forma integral». «Certamente, às vezes é necessário responder às necessidades urgentes, mas, de modo mais geral, é uma cultura da atenção que devemos desenvolver, justamente para quebrar o muro da solidão», justificou.
No centro da celebração estiveram as pessoas em situação de pobreza, a quem o Papa quis dirigir-se directamente, referindo que a Igreja é «mãe dos pobres, lugar de acolhimento e justiça».
Leão XIV deixou uma palavra de gratidão «aos operadores da caridade, aos muitos voluntários, a todos aqueles que se ocupam de aliviar as condições dos mais pobres», tendo-os encorajado a serem «cada vez mais consciência crítica na sociedade».
A questão dos pobres – continuou – remete para «o essencial da fé», pois «para nós eles são a própria carne de Cristo e não apenas uma categoria sociológica». Deste modo, pediu que os cristãos evitem viver «voltados para si mesmos», nem num intimismo religioso que signifique falta de compromisso perante os outros e a história. Pelo contrário, devem procurar transformar a convivência humana «num espaço de fraternidade e dignidade para todos, sem excluir ninguém».
Evocando o exemplo de muitos santos e santas, propôs a figura de São Bento José Labre, conhecido como «vagabundo de Deus», como possível padroeiro dos pobres e sem-abrigo.
Simbolicamente, também no passado Domingo, a Basílica de São Pedro acolheu as relíquias de São Bento José Labre (1748-1783), que normalmente estão na igreja de Santa Maria ai Monti; este santo não tinha residência fixa e escolheu o Coliseu de Roma como casa.
Antes da Missa, Leão XIV dirigiu-se à Praça de São Pedro para saudar a multidão reunida no exterior para acompanhar a celebração (cerca de doze mil pessoas, segundo o Vaticano).
Perante a multidão, o Papa foi peremptório: «Quando lemos o Evangelho, uma das frases que todos conhecemos é “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. Todos nós desejamos estar entre os pobres do Senhor, porque a nossa vida é uma dádiva de Deus e recebemo-la com muita gratidão».
No final do Ângelus, que teve lugar após a Missa, o Papa almoçou com mil e 300 pessoas, que se encontram em situação de fragilidade e pobreza.
«O Dia Mundial dos Pobres pretende recordar às nossas comunidades que os pobres estão no centro de toda a acção pastoral. Não só na sua dimensão caritativa, mas igualmente naquilo que a Igreja celebra e anuncia», assinalou ainda Leão XIV, na sua primeira mensagem para esta celebração.
In ECCLESIA – texto editado

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