A persistência da teoria da vontade única: Vitaliano, Adeodato II, Dono

SÃO VITALIANO
(30.VII.657 – 27.I.672)
Os efeitos do monotelismo perduraram até ao tempo de Vitaliano, o 76.º Pontífice Romano. Recém-eleito, Vitaliano tomou medidas para aproximar o imperador bizantino Constâncio II e Pedro (o Patriarca de Constantinopla) de Roma. Ambos responderam ao seu gesto. O imperador Constâncio II graciosamente enviou ao Papa uma cópia dos Evangelhos com capa dourada adornada com pedras preciosas; o Patriarca Pedro afirmou que pensava da mesma forma que o Papa, sem especificar o que isso significava.
Aconteceu também que Constâncio II estava a perder popularidade em Constantinopla e tentou ganhar mais apoio no Ocidente. O Papa Vitaliano e o clero de Roma deram-lhe as boas-vindas. Constâncio teve uma estadia agradável em Roma, tendo visitado os seus famosos santuários. Mas, para espanto de todos, ao deixar Roma, roubou as obras de arte em bronze e até mesmo as telhas de bronze do Panteão (hoje Santa Maria dos Mártires). Os lombardos levaram-no para a Sicília, onde semeou o terror. Foi assassinado, à facada, enquanto se banhava, no ano de 668. O filho, Constantino IV, sucedeu-lhe. Embora não tivesse querido usar a força para impor o monotelismo, o Papa Vitaliano não conseguiu, também pela via diplomática, levá-lo de volta à verdadeira doutrina.
No que diz respeito aos assuntos da Igreja, Ravena e Creta trouxeram alguns desafios. O arcebispo de Ravena desejava obter mais independência de Roma e apelou com sucesso ao imperador Constâncio II. Este problema duraria até ao Pontificado de Leão II (682-683).
“De Creta veio um apelo de João, bispo de Lappa. O bispo João tinha sido deposto por um sínodo sob a direcção do metropolita de Creta. O papa realizou um sínodo em Roma, decidiu que João tinha sido injustamente condenado e ordenou ao metropolita que o reintegrasse na sua sé” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 152).
O Papa Vitaliano também “enviou núncios apostólicos para a Gália, Espanha e Inglaterra” (Caporilli, “Os Pontífices Romanos”). Ainda havia disputas em Inglaterra entre o clero anglo-saxão e o britânico, em relação a vários costumes eclesiásticos. Aparentemente, os principais pontos de discórdia eram o método de cálculo da data da Páscoa e a forma da tonsura clerical. No Sínodo de Whitby (664), convocado pelo rei Oswiu da Nortúmbria, foi decidido adoptar as práticas romanas em detrimento das celtas. As práticas celtas eram seguidas pelos monges irlandeses na Abadia de Iona e em instituições a ela ligadas.
Entretanto, um novo arcebispo da Cantuária teve de ser nomeado após a morte do arcebispo Adeodato (664). O Santo Padre enviou um monge altamente instruído – Teodoro de Tarso – a Inglaterra, em 668, para assumir o cargo. Teodoro foi reconhecido como chefe da Igreja da Inglaterra por todo o clero (anglo-saxão e britânico). O Papa concedeu-lhe todos os privilégios que o Papa Gregório Magno havia concedido anteriormente ao arcebispo Agostinho de Canterbury.
O Papa Vitaliano e o arcebispo Teodoro conseguiram colocar a Igreja inglesa em total conformidade com a autoridade e as práticas romanas.
ADEODATO II
(11.IV.672 – 17.VI.676)
Adeodato era um monge beneditino bondoso e generoso do mosteiro de Santo Erasmo, em Roma. Era acessível e fazia o que podia para deixar todos satisfeitos. Também aumentou a mesada que os Papas desse período concediam ao clero.
“Liberal com todos, Adeodato era muito generoso com o seu antigo mosteiro. Concedeu a Santo Erasmo as rendas de muitas propriedades” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 154).
Não se sabe muito sobre o Papa Adeodato II. Embora tenha trabalhado para reprimir o monotelismo, não se envolveu em eventos políticos, incluindo os relacionados com a heresia monotelista. Pelo contrário, dedicou o seu reinado à restauração de igrejas que estavam em mau estado. Também trabalhou para melhorar a disciplina monástica.
“Com o auxílio de missionários, esforçou-se por converter os maronitas, um povo determinado de origem arménia-síria”. “Foi o primeiro a usar nas suas cartas a fórmula ‘Saúde e Bênção Apostólica’” (Caporilli, “Os Pontífices Romanos”).
DONO
(2.XI.676 – 11.IV.678)
“Houve um intervalo de 138 dias entre a morte de Adeodato e a consagração de Dono, seu sucessor, um intervalo marcado por um tempo extremamente adverso. Os relâmpagos matavam homens e animais, e as tempestades eram tão violentas que as pessoas rezavam em litanias diárias para que o trabalho agrícola necessário pudesse continuar” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 156).
Recordaremos o problema de São Vitaliano com Ravena, que queria ser independente de Roma. O Papa Dono conseguiu pôr fim ao cisma.
Quanto a Constantinopla e aos monotelitas, as relações de Dono com Constantinopla eram cordiais. A 10 de Agosto de 678, o imperador Constantino IV dirigiu-se a ele como “o santíssimo e abençoado arcebispo da nossa antiga Roma e Papa universal”. O imperador esperava que ele negociasse com o Patriarca de Constantinopla e os monotelitas.
O Papa Dono também trabalhou para reparar, restaurar ou melhorar algumas das igrejas romanas. Mais: “encorajou os bispos a apoiar as novas escolas na Gália germânica e a de Cambridge, em Inglaterra” (Caporilli, “Os Pontífices Romanos”).
Pe. José Mario Mandía



Follow