Problemas persistentes no Oriente: Félix III e Gelásio I
SÃO FÉLIX III
(13.III.483 – 25.II ou 1.III.492)
O 48.º Bispo de Roma é Félix III. Recordemos que houve um antipapa Félix II (355-365) que foi instalado depois de o imperador ariano do Oriente, Constâncio, ter banido o Papa Liberio (352-366) para a Trácia. É por isso que Brusher & Borden (“Popes through the Ages”, pág. 96) o consideram como “Felix II”. No entanto, o Liber Pontificalis, bem como o site oficial do Vaticano (https://www.vatican.va/content/vatican/en/holy-father.html) e Caporilli, (“Os Romanos Pontífices”) atribuem-lhe o nome “Felix III”. De 1439 a 1449, surgiria outro antipapa: Félix V. A história regista cinco Papas Félix, mas apenas três deles foram realmente Papas.
Felipe III era casado, mas a sua esposa morreu antes de se tornar padre e um dos seus filhos tornou-se pai do famoso Papa São Gregório Magno.
No Pontificado anterior do Papa Simplício, observámos que este não teve muitos problemas com o primeiro rei bárbaro da Itália, Odoacro, que respeitava a Igreja. Em 489, Teodorico liderou os ostrogodos na invasão da Itália. Em 493, matou Odoacro e assim assumiu o poder. Também crente no Arianismo, tal como Odoacro, respeitava igualmente a Igreja. Assim, o Papa Félix III não teve muitos problemas no Ocidente. Teve, contudo, um problema em África, que foi invadida pelos vândalos arianos liderados por Hunerico. Quando Hunerico morreu, a perseguição diminuiu.
O Papa teve mais problemas na Igreja Oriental. Já no Pontificado anterior de Simplício, o Monofisismo era promovido tanto pela autoridade secular (imperador oriental Zenão), quanto pelos líderes religiosos (Patriarcas Acácio de Constantinopla; Pedro, o “Fuller”, de Antioquia; e Timóteo Eluro, de Alexandria, mais tarde sucedido por Pedro Mongo). Vimos também que o Imperador Zenão e o Patriarca Acácio emitiram um documento chamado “Henotikon” (Henótico), que tentava seguir um caminho intermediário entre o Monofisismo e o Nestorianismo, mas sem mencionar a condenação do Monofisismo no Tomo de Leão (a carta a Flaviano) e no Concílio de Calcedónia. O Papa Félix rejeitou o documento, tal como o Papa Simplício o havia feito anteriormente. O Santo Padre excomungou o Patriarca Acácio, que não lhe deu ouvidos. Isto levou ao Cisma acaciano, que separou Constantinopla da Igreja Romana. Este cisma durou até ao século seguinte.
SÃO GELÁSIO I
(1.III.492 – 21.XI.496)
O Papa Gelásio é o terceiro Papa de ascendência africana, depois de Vítor I (186/189 – 197/201) e Melquíades (311-314).
«Mais um servo do que um soberano» – assim Dionísio Exíguo [o monge romano oriental do Século VI que elaborou a datação Anno Domini (AD)] descreve São Gelásio I. No entanto, falou tão bem da majestade da Sé de Pedro que as suas palavras vêm sendo citadas ao longo dos tempos. Ainda no último Concílio ecuménico, o Papa Gelásio foi citado como uma autoridade em matéria de infalibilidade papal (Brusher & Borden. “Popes through the Ages”, pág. 98).
Gelásio é o autor do livro “De duabus in Christo naturis” (“Sobre a dupla natureza de Cristo”), que defende a Doutrina da Igreja contra os monofisitas. Colaborou estreitamente com o falecido Papa Félix III e teve de enfrentar o cisma no Oriente com o Imperador Anastácio (sucessor de Zenão) e o Patriarca Eufémio. Eufémio tinha realmente abraçado a verdadeira fé, mas manteve o nome do anterior Patriarca cismático Acácio no díptico. O díptico é uma tabuinha onde estavam escritos os nomes das autoridades eclesiásticas vivas e mortas. Como Acácio não estava em comunhão com a Igreja, devido ao cisma que apadrinhara, o Papa queria que o seu nome fosse apagado da lista.
O Sumo Pontífice também exerceu a sua supremacia defendendo os Patriarcados de Antioquia e Alexandria da interferência do Patriarcado de Constantinopla.
Como mencionado acima, o líder ostrogodo Teodorico, que era rei da Itália no Ocidente, mantinha boas relações com a Igreja. No entanto, no que diz respeito ao Oriente, “Gelásio, tal como o seu predecessor, falou com firmeza ao Imperador sobre a necessidade de independência da Igreja. Nenhuma história da teoria política está completa sem uma discussão sobre a exposição magistral deste Papa sobre o papel da Igreja e do Estado numa famosa carta ao Imperador Anastácio. Gelásio defende a posição da Igreja como uma sociedade perfeita e, ao mesmo tempo, reconhece as funções legítimas tanto da Igreja como do Estado. Embora fosse um grande escritor, Gelásio causou maior impressão como homem santo. Devoto e austero, amava a companhia dos monges. Destacava-se pelo seu senso de justiça e, acima de tudo, pela sua caridade para com os pobres” (Brusher & Borden. “Popes through the Ages”, pág. 98).
Pe. José Mario Mandía