Confrontando monofisitas, hunos e vândalos: Leão, o Grande
SÃO LEÃO I
(29.IX.440 – 10.XI.461)
O 45.º Papa é Leão Magno. É o primeiro dos três Papas listados no “Annuario Pontificio” (o directório anual da Santa Sé) com o título “Magno”, juntamente com os Papas Gregório I e Nicolau I. “Diplomata, estadista, administrador, teólogo, orador e, acima de tudo, um homem santo, este Papa merece bem o título de Leão, o Grande” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 90). Leão “desempenhou um papel importante na formulação do dogma cristológico. A ele também é atribuída grande parte da teologia da primazia romana e sua base bíblica na primazia conferida por Cristo a Pedro” (José Orlandis, “A Short History of the Catholic Church”, pág. 45). É o décimo Papa com o reinado mais longo, tendo servido por 21 anos.
O Papa Leão enfrentou dois grandes desafios. No Oriente, uma nova e perigosa heresia ameaçava a fé. No Ocidente, os bárbaros estavam a invadir o Império Romano em ruínas. Embora relutante em assumir o fardo do Papado, o Papa Leão provou ser um líder sábio, capaz e santo.
O problema no Oriente envolvia os dois patriarcados de Alexandria e Constantinopla. Eutiques, um arquimandrita (superior de um mosteiro) de Constantinopla, e Dióscoro, o Patriarca de Alexandria, rejeitaram a doutrina de que em Cristo existem duas naturezas. Eutiques, em particular, opôs-se fervorosamente à heresia nestoriana, que ensinava que havia duas pessoas em Cristo. É aqui que a compreensão da terminologia correcta (a diferença entre “natureza” e “pessoa”) teria evitado outro erro. A doutrina católica ensina duas naturezas numa única Pessoa. Por outro lado, Nestório ensinava duas naturezas e duas Pessoas. Eutiques, tentando corrigir Nestório, caiu noutra heresia ao ensinar que Cristo tinha uma natureza e era apenas uma Pessoa. Esta doutrina é chamada Monofisismo (do Grego “mono”, um; e “physis”, natureza). Afirmava que a Natureza Humana de Cristo foi absorvida pela Natureza Divina durante a Encarnação. O Patriarca de Constantinopla, São Flávio, pediu ao Santo Padre que agisse a respeito. Leão escreveu uma carta a Flávio (chamada “Tomo de Leão”) onde “expos e condenou de forma tão clara e contundente o erro monofisita que esta carta foi venerada como um credo” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 90).
Dióscoro, o Patriarca de Alexandria que se aliou a Eutiques, procurou o apoio do imperador oriental Teodósio II. Dióscoro, então, presidiu a um Concílio improvisado em Éfeso, no ano de 449. Resultado: destituíram e exilaram o Patriarca Flávio de Constantinopla, um acto além da sua competência. É por isso que o Papa Leão I falou de “roubo (Latim: ‘latrocinium’) de Éfeso”.
“Para neutralizar a influência monofisita sobre [o imperador oriental] Teodósio, Leão conseguiu que Valentiniano III, o imperador ocidental, alertasse o seu primo para o perigo de fomentar a heresia. Embora Teodósio tenha morrido, o seu sucessor, Marciano, deu ouvidos ao Papa. Para resolver a questão, um grande Concílio, o quarto ecuménico, foi convocado para se reunir em Calcedónia em 451” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 90). O Concílio de Calcedónia utilizaria a Carta do Santo Padre para reafirmar a doutrina da união hipostática, de que há duas naturezas em Cristo unidas em uma única Pessoa. Eutiques foi excomungado. Os padres deste Concílio declararam: “Pedro falou pela boca de Leão” (José Orlandis, “A Short History of the Catholic Church”, pág. 45). A Igreja declarou São Leão Magno Doutor da Igreja. Também é considerado um dos Padres da Igreja.
Enquanto lidava com problemas teológicos no Oriente, no Ocidente o Papa Leão Magno teve de enfrentar os hunos e os vândalos, que ameaçavam Roma no Século V. Em 452, conseguiu persuadir Átila, o huno, a retirar-se, salvando assim Roma da destruição.
Em 455, enfrentou Genserico, que liderava os vândalos. Embora o Santo Padre não tenha conseguido impedir que saqueasse Roma, pelo menos conseguiu dissuadi-lo de a incendiar. A sua intervenção poupou as vidas e as casas dos romanos, bem como as igrejas de São Pedro e São Paulo.
A capacidade de Leão para negociar com forças poderosas como os hunos e os vândalos aumentou o prestígio e a autoridade do Papado. Fortaleceu o papel da Igreja como força estabilizadora durante o declínio do Império Romano Ocidental.
Pe. José Mario Mandía