O Primeiro Concílio Ecuménico de Nicéia: Silvestre I
SÃO SILVESTRE I
(31.I.314 – 31.XII.335)
A Igreja sob o 33.º Papa, um romano, continuou a desfrutar da paz trazida pelo Édito de Milão. O seu Pontificado é o 9.º mais longo da História da Igreja. O Papa Silvestre conseguiu trabalhar na organização da Igreja e também na construção de novos locais de culto.
“Uma vez obtida a sua liberdade, a Igreja teve de organizar as suas estruturas territoriais para fazer face às novas exigências pastorais: o mundo estava agora a ser rapidamente cristianizado. Aplicando o que foi denominado o ‘princípio da acomodação’, a Igreja utilizou as estruturas administrativas das cidades romanas como base para a sua própria administração. Assim, a província civil tornou-se o modelo para a província eclesiástica. No século V, o império tinha mais de 120 províncias. Nesta estrutura territorial, a divisão provincial da Igreja surgiu gradualmente” (José Orlandis, “A Short History of the Catholic Church”, pág. 31).
Foi durante o Pontificado do Papa Silvestre que foram construídas as basílicas de São Pedro, São João de Latrão, Santa Cruz em Jerusalém e de São Paulo Fora dos (de) Muros ou Extramuros. Como vimos da última vez, São João de Latrão é a catedral do Bispo de Roma (o Papa).
O Liber Pontificalis regista: “Ao mesmo tempo, Constantino Augusto construiu, a pedido de Silvestre, o bispo, a basílica do abençoado Pedro, o apóstolo, e colocou lá o caixão com o corpo do santo Pedro”. Também apresenta uma longa e detalhada lista dos presentes do imperador e das obras que o imperador fez para a Igreja durante o Pontificado de Silvestre.
É possível que também tenha sido durante este período que a lista de mártires ou martirológio tenha sido elaborada pela primeira vez.
“No entanto, acima de todos os outros eventos do seu pontificado, destacou-se o primeiro concílio ecuménico ou geral da Igreja. Um concílio ecuménico representa toda a Igreja docente, em oposição a um sínodo diocesano ou a um concílio metropolitano ou nacional. O concílio ecuménico, tal como o Papa, é infalível em questões de fé e moral, porque é a voz da Igreja docente” (Brusher & Borden. “Popes through the Ages”, pág. 66).
O que levou o Papa a convocar o Concílio? Ário, um sacerdote de Alexandria, no Norte de África, ensinava que Jesus Cristo, embora fosse uma pessoa especial, não era Deus, mas apenas homem. Como vimos em PAIS DA IGREJA n.º 22, “Ário ensinava que Deus não é apenas incriado, mas também não gerado. Seguindo essa lógica, o Filho não pode ser Deus, porque ele é gerado. Ário dizia que o Logos é a primeira das criaturas de Deus e foi um instrumento para criar outras. Por sua vez, a primeira criatura do Logos é o Espírito Santo, que é inferior ao Logos. Além disso, Ário não acreditava na união de duas naturezas (humana e divina) na Pessoa de Cristo. Em vez disso, ele disse que o Logos tomou o lugar da alma no homem Jesus Cristo, contrariamente ao ensinamento da Igreja de que Jesus tinha uma alma verdadeiramente humana, assim como tinha um corpo verdadeiramente humano”. O Papa enviou dois legados, Vitus e Vincentius, para o representar. Cerca de duzentos bispos reuniram-se em Nicéia (actual Iznik, na Turquia), no ano 325, para estudar e abordar a heresia.
Tal como na controvérsia donatista no tempo do Papa anterior, Melquíades, Constantino viu novamente a ameaça à unidade do império. Assim, facilitou a convocação do Concílio.
“O próprio imperador, em cartas muito respeitosas, implorou aos bispos de todos os países que viessem prontamente a Nicéia. Vários bispos de fora do Império Romano (por exemplo, da Pérsia) vieram ao Concílio. Não se sabe historicamente se o imperador, ao convocar o Concílio, agiu apenas em seu nome ou em concertação com o Papa; no entanto, é provável que Constantino e Silvestre tenham chegado a um acordo [ver ‘Papa São Silvestre I’]. A fim de acelerar a reunião do Concílio, o imperador colocou à disposição dos bispos os transportes públicos e os correios do império; além disso, enquanto o Concílio durou, ele providenciou abundantemente para a manutenção dos membros. A escolha de Nicéia foi favorável à reunião de um grande número de bispos” (Leclercq, Henri. “O Primeiro Concílio de Nicéia”. The Catholic Encyclopedia. www.newadvent.org/cathen/11044a.htm).
O Concílio condenou Ário e formulou o primeiro Credo, que afirmava claramente que Cristo tem uma natureza divina, que Ele também é Deus: “Creio em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos. Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial (homoousios) ao Pai…”. Ser consubstancial significa ter a mesma natureza: o Filho é Deus, assim como o Pai é Deus.
A intervenção do imperador em assuntos doutrinários certamente ajudou a preservar a unidade da fé. O envolvimento da autoridade secular nos assuntos da Igreja, no entanto, podia comprometer e comprometeu a autonomia da Igreja. Esta situação é chamada de “cesaropapismo”.
O Papa São Silvestre morreu em 335. Foi sepultado numa igreja que ele mesmo construíra sobre a Catacumba de Priscila, ao longo da Via Salaria.
Pe. José Mario Mandía