FIGURAS BÍBLICAS: JOÃO, APÓSTOLO – 4

FIGURAS BÍBLICAS: JOÃO, APÓSTOLO – 4

Uma Jornada de Fogo e Redenção

O COMEÇO TROVEJANTE – O Sol punha-se atrás das colinas da Galileia, lançando uma luz dourada sobre o caminho empoeirado onde João e o seu irmão Tiago caminhavam ao lado de Jesus. Os seus passos eram rápidos, carregados de frustração. Uma aldeia samaritana havia-lhes recusado hospitalidade – recusado o próprio Messias.

João cerrou os punhos, com a injustiça a queimar dentro dele: «– Senhor, queres que invoquemos fogo do céu, como Elias fez? Vamos destruí-los!». A sua voz não demonstrava hesitação.

Jesus parou de andar. O silêncio estendeu-se entre eles quando Ele se virou, os Seus olhos profundos a procurarem o rosto de João – não com raiva, mas com tristeza: «– João… ainda não compreendes».

João sentiu uma pontada de vergonha, mas o fogo no seu peito recusava-se a apagar. Eles haviam insultado o Messias! A justiça não deveria ser rápida? O reino de Deus não deveria vir com poder?

Jesus colocou a mão firme no ombro de João: «– O Filho do Homem não veio para destruir vidas, mas para salvá-las».

O rosto de João ficou triste, mas ele não disse nada. Era a primeira vez que o sentia – o suave puxão da graça contra a sua natureza impetuosa. Mas compreendê-lo? Tal levaria tempo.

O SONHO AMBICIOSO – Semanas depois, João e Tiago aproximaram-se de Jesus em segredo. As suas vozes eram baixas, urgentes: «– Mestre, concede-nos sentar, um à tua direita, o outro à tua esquerda, quando entrares na tua glória».

João prendeu a respiração, esperando que Jesus confirmasse o seu lugar de honra. Afinal, eles eram os Seus discípulos mais próximos! Tinham sido fiéis, presentes em todos os milagres, em todos os ensinamentos. Certamente, mereciam-no.

Jesus suspirou, abanando a cabeça: «– Podes beber o cálice que eu bebo?».

João hesitou. Ele queria grandeza, queria o seu nome gravado na história ao lado do Messias. Acenou com a cabeça: «– Sim, Senhor. Podemos».

A expressão de Jesus suavizou-se, mas a Sua voz permaneceu firme: «– Beberão o meu cálice… mas se se irão sentar à minha direita ou à minha esquerda, não cabe a mim decidir».

João sentiu a dor da decepção. Ele estava desesperado para estar perto de Jesus, para ser o primeiro no reino. Por que razão Jesus não o conseguia sentir?

AO PÉ DA CRUZ – Tudo desmoronou. As ruas de Jerusalém tremiam sob o peso do luto. Jesus estava a morrer.

João estava perto da cruz, o corpo a tremer, incapaz de tirar os olhos do seu Mestre. Onde estavam os outros? Onde estava Pedro? Tinham fugido com medo. Uma voz suave ao seu lado. Maria.

Ela não chorava alto, mas a sua dor estava gravada em cada linha do seu rosto. Ela observava o seu Filho sofrer, e João sentiu o seu próprio coração partir-se por ela.

Então, mesmo com sangue escorrendo da testa, Jesus olhou para eles: «– Mulher, eis o teu filho». A Sua voz estava fraca, mas firme. Então, os Seus olhos encontraram os de João: «– Eis a tua mãe».

João engoliu em seco. Jesus estava a confiá-lo, e entrega-lo, a Maria. O peso do momento esmagou as suas egoístas ambições.

Isto era amor – não justiça ardente, não ambição, mas amor sacrificial.

João acenou com a cabeça, pois não confiava na sua voz, e aproximou-se de Maria. E nunca mais sairia do seu lado.

A TRANSFORMAÇÃO – Os anos passaram. João já não sonhava com poder. Ao invés, sonhava com amor.

Em Éfeso, escreveu ao seu povo: «Deus é amor».

O mesmo homem que outrora pediu para queimar aldeias, agora exortava a que todos se amassem. A sua natureza, outrora tempestuosa, tinha sido refinada – não apagada, mas redimida.

Um dia, já idoso, João sentou-se junto à fogueira, falando aos seus discípulos. Eles queriam histórias grandiosas, mas ele repetia apenas uma frase: «– Filhinhos, amem-se uns aos outros».

Um deles finalmente perguntou: «– Mestre, por que diz sempre o mesmo?».

João sorriu, com os olhos distantes, lembrando-se do dia em que esteve diante da cruz: «– Porque é suficiente».

1. Redenção em vez de condenação

No início do seu discipulado, João queria justiça, perguntando a Jesus se eles deveriam invocar fogo sobre os samaritanos (Lucas 9, 54). Jesus o redireccionou, ensinando que a redenção, não a destruição, é o caminho de Deus.

Lição: O verdadeiro poder está em restaurar, não em condenar.

2. Humildade em vez de ambição

João buscava posições de honra ao lado de Jesus no céu (Marcos 10, 35-37), ainda sem compreender a natureza da liderança. Jesus lembrou-lhe que a grandeza no reino não vem através do poder, mas do serviço e do sacrifício.

Lição: Liderança não tem a ver com status, mas com humildade e serviço aos outros.

3. Lealdade e coragem diante do sofrimento

Quando os outros discípulos fugiram, João permaneceu aos pés da cruz (João 19, 25-27). A sua presença firme na hora mais sombria de Cristo demonstrou lealdade, coragem e amor.

Lição: O amor não se resume à presença na alegria, mas à fidelidade no sofrimento.

4. Responsabilidade no cuidado com os outros

Jesus confiou a Sua mãe, Maria, a João – um gesto de profunda confiança e responsabilidade. Este momento significou a maturidade de João e a sua prontidão para cuidar dos outros além de si mesmo.

Lição: O amor é sacrificial – pede-nos que cuidemos profundamente dos outros, não apenas de nós mesmos.

5. O amor como verdadeira missão

Anos mais tarde, João escreveu: “Deus é amor”. Ele havia-se transformado completamente, passando de discípulo impetuoso a apóstolo do amor. A sua mensagem final à Igreja foi simples, mas profunda: “Filhinhos, amai-vos uns aos outros”.

Lição: O amor é o maior mandamento – ele supera a ambição, a vingança e o orgulho.

6. O poder do crescimento e da transformação

João não começou como um discípulo perfeito. Mas por meio das suas experiências com Jesus, cresceu, mudou e evoluiu. O mesmo homem que buscava poder e justiça tornou-se alguém que pregava misericórdia e unidade.

Lição: A graça permite-nos crescer além das nossas piores tendências – nunca estamos além da transformação.

Conclusão: Uma vida transformada pelo amor.

A jornada de João reflecte o poder transformador de caminhar com Cristo. As suas falhas não foram apagadas – elas foram redimidas, moldando-o no discípulo que acabaria por escrever sobre o amor mais do que qualquer outro.

Pe. Jijo Kandamkulathy, CMF

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