Dia do Trabalhador… e dos Fiéis
Ao longo do ano civil, os fiéis católicos celebram duas datas festivas em honra de São José: 19 de Março, “Esposo da Virgem Maria”, e 1 de Maio, “São José Operário”. O Guardião da Sagrada Família “vive” actualmente um ano dedicado a si, pois – recorde-se – o Papa Francisco convocou o “Ano de São José”, a 8 de Dezembro de 2020. Amanhã, sábado, a Igreja Católica em Macau volta a juntar-se a mais esta festividade, fazendo-o com fervor e constância.
Uma vez que não há dados exactos que o comprovem, arriscamos afirmar que um número significativo de membros da comunidade de língua portuguesa em Macau tem participado – via “online” – na novena dedicada a São José Operário, a avaliar pelo “feedback” dos fiéis à iniciativa. Embora a novena termine hoje, está disponível no canal YouTube (procurar por: padre Daniel Ribeiro SCJ) e também em grupos da rede social WhatsApp.
Ao longo dos séculos, inúmeros católicos, leigos e consagrados, foram e são grandes devotos de São José. Muitos santos deixaram-nos o seu testemunho e, apaixonados por São José, dele obtiveram inúmeras graças. Hoje, às portas da festividade do pai adoptivo de Jesus, lembramos um deles: o Santo André Bessette.
Santo André – com nome de baptismo Alfredo – nasceu numa pobre e numerosa família, a 9 de Agosto de 1845, em Mont-Saint-Grégoire (Quebeque). Ao nascer, a parteira apercebeu-se que estava muito doente e fraco, e decidiu baptizá-lo imediatamente, temendo que não vivesse mais do que algumas horas. No dia seguinte, foi levado à igreja e formalmente baptizado pelo pároco.
A mãe de Alfredo, Clothilde, era muito piedosa. Ensinava aos filhos orações e reunia-os todas as noites para as devoções familiares, tendo-lhes transmitido a sua grande devoção a São José. Alfredo, piedoso menino, desde a infância foi marcado por um relacionamento especial com o “Patriarca da Igreja”; ele que haveria de impulsionar a construção do maior Santuário no mundo dedicado a São José. Antes, porém, teve de percorrer um longo e sinuoso caminho. Tentou exercer várias profissões, mesmo fora do seu país, mas sem êxito, devido à sua fraca saúde.
O pároco da sua aldeia natal, foi quem, apercebendo-se da virtude, retidão e constância do jovem Alfredo, nele identificou uma autêntica vocação religiosa e encaminhou-o para o colégio que a Congregação da Santa Cruz – fundada recentemente em França, pelo beato Basile Moreau – tinha em Montreal. “Estou a enviar-vos um santo”, declarou o pároco, na carta em que recomendava aquele candidato simples e iletrado.
PREDESTINADO À SANTIDADE
Alfredo não defraudou as expectativas. Logo aprendeu a ler e com o seu comportamento exemplar ajudou a elevar o padrão do noviciado.
Ao aproximar-se o fim do noviciado, Alfredo Bessette correu o risco de lhe ser negada a autorização para proferir os votos religiosos, devido à sua débil saúde. Mas após pedir a intercepção do bispo D. Ignace Bourget, acabou por fazer os primeiros votos a 22 de Agosto de 1872, e os finais a 2 de Fevereiro de 1874. Trocou o nome de baptismo pelo de “Irmão André”.
O superior incumbiu-o da portaria do colégio e ali desempenhou com toda a perfeição as suas tarefas. Como falava Inglês e Francês, revelou especial talento para receber as pessoas e fazê-las sentir-se à vontade – e assim tornou-se o melhor “cartão de visitas” da Congregação.
CURAS E MILAGRES
Cerca de cinco anos após a entrada na vida religiosa, nele se começou a manifestar o dom da cura. O Irmão André aproveitava as curas, sempre realizadas de forma discreta, com aparência de normalidade, para fazer um apostolado contínuo; recomendava a oração perseverante, sugeria novenas, “receitava” a aplicação do óleo de uma lamparina que ardia ante a imagem de São José e aconselhava a levarem consigo uma medalhinha deste. Dizia sempre: «tudo isto são actos de amor e fé, de confiança e humildade». Fazia ainda questão de esclarecer a verdadeira causa das curas a ele atribuídas, afirmando ser o bom Deus quem faz os milagres e São José quem os obtém.
As curas do corpo e da alma continuaram às torrentes. Um dos casos mais impressionantes é o de um jovem, vítima de um terrível acidente industrial. Com o rosto queimado, em risco de ficar cego, correu à procura do Irmão André; e este, sem sequer tê-lo visto chegar, apareceu-lhe e perguntou-lhe: «– Quem disse que perderás as vistas? Tens confiança na intercessão de São José?». Diante de resposta afirmativa, recomendou-lhe: «–Vai para a igreja, assiste à Missa e comunga em honra de São José. Continua com os teus remédios, mas adiciona-lhes uma gota do óleo da lamparina do glorioso Patriarca, rezando esta jaculatória: “São José, rogai por nós!”. Tem confiança, tudo correrá bem!». O jovem fez com exatidão o que lhe foi recomendado e, no dia seguinte, o tecido cauterizado do seu rosto caiu como “folhas de papel fino”. Inteiramente restabelecido, voltou em sinal de reconhecimento. «– Agradece a São José e não cesses de rezar!», limitou-se a dizer-lhe o santo taumaturgo.
A SEMENTE DO SANTUÁRIO DE SÃO JOSÉ
Um santo anseio abrasava, porém, a alma do humilde porteiro: o de construir próximo do colégio, na bela paisagem, uma capela em honra do seu protector. Certo dia, um religioso da Congregação a que pertencia contou-lhe que a imagem de São José na sua cela parecia girar sozinha, em direcção ao monte. Exultante, o Irmão André reconheceu nesse facto o esperado sinal da Providência para dar início à realização do seu anseio e cobriu de medalhinhas o lugar almejado. Em 1896, a Congregação da Santa Cruz adquiriu aquele terreno, com a finalidade de evitar má vizinhança para o colégio. Passados alguns anos, em 1904, foi erigido um pequeno Oratório a São José, constituído por uma capela e um escritório, no qual passou a residir o Irmão André Bessette. Treze anos depois, o edifício foi ampliado, de modo a comportar mil pessoas sentadas, mas este logo se tornou pequeno para a grande afluência de fiéis.
A construção da basílica do actual Santuário – hoje a maior igreja no Canadá – começou em 1924, ano em que se festejou o aniversário dos trezentos anos da nomeação de São José como o padroeiro do Canadá. O Oratório de São José – como é conhecido – é actualmente o maior Santuário dedicado ao Guardião da Sagrada Família.
UM FIM PARA UM NOVO INÍCIO
Aos 91 anos a morte aproximava-se e André Bessette consolava amavelmente quem o procurava, afirmando que se alguém pode fazer o bem na Terra, mais ainda poderá fazê-lo do Céu. No dia 6 de Janeiro de 1937, a triste notícia era dada com destaque pelos mais importantes jornais de Montreal: “Morreu o Irmão André”.
Após o seu desaparecimento terreno, muitos milagres a ele atribuídos foram sendo relatados. Um departamento médico foi instalado no Oratório para examinar as curas. Foram estimadas e registadas, entre 1937 e 1977, aproximadamente 125 mil curas por intercessão do Irmão André. Mais de quatro mil páginas de documentos foram recolhidas durante o processo de beatificação.
André Bessette foi beatificado pelo Papa São João Paulo II, a 23 de Maio de 1982, em Roma; e no dia 17 de Outubro de 2010 foi canonizado pelo Papa Bento XVI, também em Roma. A sua festa litúrgica é celebrada a 7 de Janeiro.
Santo André Bessette, rogai por nós!
Miguel Augusto
com Gaudium Press e Congregação da Santa Cruz