7. A COMUNIDADE DOS DISCÍPULOS
No nosso Credo, confessamos: Acreditamos na “Igreja Católica”, “na Igreja una, santa, católica e apostólica” (Credo Apostólico e Credo Niceno-Constantinopolitano). A Igreja é o Corpo Místico de Cristo: Cristo é a Cabeça e as mulheres e os homens crentes são os seus membros, que formam um corpo unificado e conformado a Cristo pelo Espírito Santo: Pois todos nós fomos baptizados num único Espírito para formar um único corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres, e todos nós fomos saciados por um único Espírito (cf. 1 Cor., 12, 13; LG n.º 7). A Igreja, o Povo de Deus (cf. Paulo VI, “Credo do Povo de Deus”), tem a caridade como sua lei e o Reino de Deus como seu fim (cf. LG n.os 9-17).
O Concílio Vaticano II diz aos fiéis católicos que a Igreja é necessária para a Salvação. Afirma que a Igreja, “peregrina agora na terra”, é necessária porque Cristo, presente na Igreja, é o único Mediador e caminho para a Salvação: O único Cristo é Mediador e caminho de salvação; Ele está presente entre nós no seu corpo, que é a Igreja. Ele mesmo afirmou explicitamente a necessidade da fé e do baptismo (cf. Mc., 16, 16; Jo., 3, 5). O Concílio Vaticano II continua: “Portanto, não poderiam ser salvos aqueles que, sabendo que a Igreja Católica foi fundada por Deus através de Cristo como necessária, recusassem entrar nela ou permanecer nela” (LG n.º 14). Ainda assim, é claro, todos os povos são chamados a fazer parte do povo de Deus – todos chamados à Salvação por Deus através de Jesus no Espírito.
A fé é um encontro pessoal com Deus, com Jesus. É também um encontro com a Igreja. É um encontro eclesial. A fé é vivida e celebrada na Igreja, na comunidade, que o Concílio Vaticano II descreve como a comunidade da fé, da esperança e do amor (cf. LG n.º 1). Além da mediação magisterial, a Igreja é mediação sacramental: o Baptismo é o Sacramento da Fé (“Sacramentum fidei”) e a Eucaristia, ou o Mistério da Fé (“Mysterium fidei”). Como dizem Santo Agostinho e São Tomás, a fé mantém a Igreja unida: “Somos um porque acreditamos” (cf. Dionigi Tettamanzi, “Fé”).
A nossa tradição cristã ensina-nos que, na proclamação do Credo, toda a Igreja está presente e confessa a própria fé. A responsabilidade da Igreja – a sua missão profética – é proclamar a Boa Nova de Jesus à Humanidade. De acordo com o seu carisma e vocação específicos, todos os cristãos são obrigados a difundir e defender a verdadeira fé e a testemunhá-la com palavras e acções (cf. LG n.º 11). “Aqueles que abriram o seu coração ao amor de Deus, ouviram a sua voz e receberam a sua luz, não podem guardar este dom só para si” (LF n.º 37). São Paulo: “fides ex auditu”, «a fé vem de ouvir as boas novas» (o mesmo é afirmar que a fé vem da audição, de ouvir, ou pelo ouvido) (Rm., 10, 17). “A experiência da audição pode, assim, ajudar a tornar mais clara a ligação entre o conhecimento e o amor” (LF n.º 29).
É na Igreja, a Santa Igreja composta por pecadores, o Sacramento dos Sacramentos, onde fomos baptizados, onde somos perdoados, onde a nossa fé – a nossa vida – é alimentada pela Palavra de Deus e pelo Pão da Vida, onde recebemos a Graça através dos Sacramentos – canais de graça –, onde todos juntos, como membros do Corpo Místico de Cristo, professamos o Credo da nossa fé: a fé é pessoal e vivida em comunidade. Somos membros da Igreja, que nos apresenta magisterialmente as verdades divinamente reveladas e interpreta o que é, ou não é, segundo a fé – e a caridade. (Recordemos que existe ortodoxia e heterodoxia; e também – e isto é muitas vezes esquecido – existe ortopraxia e heteropraxia, como não amar os pobres como prioridade do amor fraterno universal ao próximo).
Como membros da Igreja, a comunidade dos discípulos, somos todos missionários. Somos enviados ao mundo para pregar a Boa Nova que é Jesus: “Quão belos são os pés dos que anunciam boas novas” (cf. Rm., 10, 14-15). O Papa Leão XIV diz-nos o que disse aos trabalhadores da Santa Sé: “Devemos procurar juntos o modo de ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, que constrói o diálogo, sempre aberta para acolher (…) de braços abertos, a todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, de diálogo e de amor”.
Reafirmando a Tradição Cristã, o Papa Leão XIV continua a sublinhar os valores básicos – com boas acções e palavras – que a comunidade de discípulos oferece humildemente ao mundo: paz, unidade, amor, liberdade, verdade e justiça. “Na verdade, o valor que oferecemos não é radicalmente algo, mas Alguém: Jesus Cristo. A nossa paz é a paz no Senhor Ressuscitado. A nossa unidade não é uniformidade, mas unidade na diversidade, uma unidade em Cristo: comunhão. Esta comunhão é construída, acima de tudo, ‘de joelhos’, na oração e num compromisso contínuo com a conversão”.
O amor, com a oração, é a vida e a virtude de Cristo. E a justiça também: a justiça amorosa ou fraterna de Cristo que perdoa. A justiça, na perspectiva cristã, é um pilar fundamental da Doutrina Social da Igreja, que foi explicitamente iniciada pela Rerum novarum (“Das Coisas Novas”) do Papa Leão XIII. Nunca nos esqueçamos da verdade. Esta última é uma grande responsabilidade da Igreja, o seu serviço à verdade: “koinonia” da verdade (João Paulo II, Fides et ratio n.º 2) e, da mesma forma, a “koinonia” da caridade, também parte da missão da Igreja: Deus é Verdade e Amor, e a Igreja é Mestra e Mãe.
Como povo unido no amor, somos enviados por Jesus ao mundo para nos amarmos uns aos outros. Infelizmente – como comenta W. Barclay –, às vezes “vivemos como se tivéssemos sido enviados ao mundo para competir uns com os outros, ou para disputar uns com os outros, ou mesmo para discutirmos uns com os outros” (W. Barclay, acerca de João 15, 11-17). Quão urgente é hoje a unidade de todos os discípulos de Cristo: unidade na verdade e no amor! Esta unidade torna a nossa Fé Cristã mais credível. A polarização actual na Igreja é divisiva e desamorosa – e entristece muitos crentes. Verdades autênticas da fé revelada: das duas fontes da Revelação, a saber, a Sagrada Escritura e a Tradição Cristã, com a autoridade do Magistério da Igreja que nos ensina as verdades reveladas.
Palavras para todos os crentes na Santíssima Trindade meditarem: «Amai-vos uns aos outros com afecto mútuo» (Rm., 12, 10). Quão verdadeiro, quão frutífero: “Coloca amor onde há amor, e colherás amor” (São João da Cruz). Opiniões diferentes? Tudo bem, mas nunca nos esqueçamos de que só a verdade de Jesus nos tornará livres – livres para amar. E em vez de discutir de mais (como de alguma forma acontece na Europa, nos Estados Unidos…), pratiquemos juntos – como membros da comunidade de fé – a lei do cristão, a lei do amor.
Pe. Fausto Gomez, OP