8. VIVER A NOSSA FÉ
São Paulo: «O justo viverá pela fé» (Rm., 1, 17). A fé não nos é dada como uma peça de museu, mas para ser vivida, para ser testemunhada na nossa vida. Isto significa, em termos gerais e radicais, o seguinte: manifestar a fé “ao oferecer a nossa própria vida a Cristo, ao segui-lo e ao aceitar o seu projecto com obediência, confiança e abandono” (G. Ortega).
Viver pessoalmente a nossa fé implica três elementos básicos: amor, esperança e oração.
A fé – para ser viva, salvadora – precisa das virtudes da esperança e da caridade, suas duas irmãs muito próximas. A fé precisa da “companhia da esperança”. De facto, «a fé é a certeza das coisas que se esperam» (Hb., 11, 1). Na verdade, sem esperança é impossível desejar a salvação (cf. G. Ortega).
A fé sem caridade (como amor divino em nós) não pode ajudar-nos a caminhar para o céu. São Paulo: «A fé opera pelo amor» (Gal., 5, 6). Na verdade, a fé também “ilumina as relações entre os homens, porque nasce do amor e segue a dinâmica do amor de Deus” (LF n.º 50). Quem não ama, crê em vão, embora seja verdade o que crê (cf. Santo Agostinho). Alguma fé imperfeita e insuficiente pode persistir sem graça e amor, mas não como virtude: a fonte das obras da fé é a caridade. Sem caridade, a fé está mortalmente ferida (cf. G. Ortega). Está praticamente “morta” (cf. Tg., 2, 14-26).
A fé, a esperança e o amor amadurecem e tornam-se mais fortes com a oração, com a verdadeira oração que não é egoísta, mas humilde, e aceita sempre a vontade do nosso Deus omnipotente e misericordioso: seja feita a tua vontade.
Palavras para reflectir da Encíclica Lumen Fidei (LF n.º 51): “As mãos da fé levantam-se para o céu, mas fazem-no ao mesmo tempo que edificam, na caridade, uma cidade construída sobre relações que têm como alicerce o amor de Deus”. De facto, para recebermos o que pedimos na oração, precisamos de rezar – e rezar mais – a oração da fé (cf. Tg., 5, 15), pois sem fé não podemos contactar Deus, e a oração da esperança, pois sem esperança a nossa oração é inútil e, portanto, ineficaz. Precisamos de rezar a oração do amor, pois sem amor a oração é medíocre – embora devamos rezar sempre.
A oração deve estar ligada ao jejum e à esmola. Vem-me à mente o ensinamento constante dos Padres da Igreja sobre a importância da oração, do jejum e da esmola ou misericórdia. “Os três não podem ser separados. Pela prática dos três, a fé permanece firme, a devoção permanece constante e a virtude perdura… O jejum é a alma da oração, a misericórdia é a força vital do jejum” (cf. São Pedro Crisólogo; Is., 58, 6-8).
Entre todas as Orações e Sacramentos destaca-se – tal como para as primeiras comunidades cristãs – a Sagrada Eucaristia, a celebração eucarística. A Sagrada Eucaristia é o ponto culminante da nossa oração e da nossa vida. Como as primeiras comunidades cristãs compreenderam bem isto: foi-lhes proibido celebrar a Eucaristia em conjunto. Mas eles fizeram-no. Se fossem descobertos pelas autoridades, seriam punidos. Perguntaram-lhes: por que fazem isto? Sabem que, se forem descobertos, serão presos ou pior. A resposta unânime dos seguidores de Jesus: Não podemos viver sem a Partilha do Pão – a celebração eucarística. Se, numa situação semelhante, nos perguntassem hoje, qual seria a nossa resposta?
Vivemos a nossa fé com esperança, amor e oração, e isso pode aumentá-la progressivamente. Também podemos diminuir a virtude da fé – a sua intensidade, firmeza, certeza. São Paulo aconselha-nos a estar vigilantes para não cair em tentações contra a fé, a não ouvir falsos profetas (cf. Mt., 7, 5).
A ausência da graça e do amor divinos torna a nossa fé morta. Podemos enfraquecer a nossa fé cometendo pecados e até perdê-la através de pecados graves. Pecados contra a fé. Credulidade excessiva (acreditar demasiado – em verdades não reveladas). Infidelidade (rejeição da salvação de Deus – cf. Hb., 3, 12-13). Apostasia (abandono total da Fé Cristã recebida no Baptismo). Heresia (por uma pessoa baptizada que acredita em algumas verdades reveladas e nega uma ou algumas). Cisma (por romper a unidade da Igreja; cf. São Tomás de Aquino, II-II, 39). As dúvidas formais sobre verdades reveladas, “aceites livre e positivamente”, são semelhantes à heresia. Contra as dúvidas, São Tomás aconselha a fugir imediatamente – de forma rápida e decisiva.
Outros pecados que enfraquecem a nossa fé: superstições (crenças ou práticas enraizadas no medo, na ignorância ou na crença em forças sobrenaturais, muitas vezes ligadas à sorte ou ao acaso). Além disso, uma fé do tipo cafetaria (geralmente em relação à moral, não directamente à fé – doutrina), que escolhe o que gosta de acreditar. Por exemplo, aqueles cristãos que expressam o seu compromisso com a Doutrina Social da Igreja (com a justiça, a verdade, a paz e a solidariedade), mas rejeitam alguns dos seus ensinamentos sobre a moral sexual. Como Bento XVI repetiu, tanto a ética social como a ética da sexualidade, do casamento e da família estão intimamente ligadas.
Mais cedo ou mais tarde, e de diferentes maneiras, Deus concede a graça – a graça da fé – a todos, pois Ele deseja a salvação de todos, e Jesus morreu pela salvação de todos. Porque alguns acreditam, enquanto outros não? (cf. Ap., 13,20). Acreditamos firmemente que Deus se comprometeu a conceder graças suficientes a todos.
A graça divina da fé é um dom gratuito de Deus, que exige – quando apropriado – a livre cooperação do homem. O dom gratuito da fé não retira a responsabilidade humana, porque Deus não anula nem diminui a liberdade humana. Deus criou o Ser Humano livre e respeita essa liberdade. Deus não nos força, mas move-nos livremente. Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti (cf. Santo Agostinho).
Como respondemos à virtude da fé? A resposta à fé da pessoa humana é a obediência a Deus: “a obediência da fé, ao único Deus sábio, por meio de Jesus Cristo” (cf. Rm., 16, 26-27; Vaticano II, Dei Verbum n.º 5). Na verdade, “só na obediência se pode mostrar total confiança e entrega incondicional a Deus” (G. Ortega). Esta obediência é melhor exemplificada por Abraão, o pai dos crentes. Obedecendo a Deus, ele abandonou a sua terra, parte da sua família e a sua pátria. Só a fé total em Deus pode explicar esta – a nível humano – “loucura”, a maneira como Abraão enfrentou as suas provações muito difíceis com fé completa nas palavras de Deus (cf. Gn., 22, 2-19).
A confiança total em Deus – uma qualidade da fé – é o remédio para as possíveis dúvidas e tentações contra a fé. É maravilhosamente consolador saber e acreditar que Deus nunca permitirá que o diabo, o Tentador, nos tente além das nossas forças. Também sabemos e acreditamos que Deus nos ajudará com a sua graça e amor – sempre.
Querido Senhor, aumenta a nossa fé!
Pe. Fausto Gomez, OP