9. PROCLAMANDO A NOSSA FÉ
A nossa tradição cristã ensina-nos que, na proclamação do Credo, toda a Igreja está presente e confessa a própria fé. A responsabilidade da Igreja – a sua missão profética – é proclamar a Boa Nova de Jesus à Humanidade. Disse Jesus aos seus discípulos de todas as épocas: «Ide por todo o mundo e proclamai a boa nova a toda a criação» (Mc., 16, 15).
A experiência da fé implica a confissão da fé: «Não podemos deixar de falar de tudo quanto vimos e ouvimos!» (Actos., 4, 20). São Paulo: “fides ex auditu”, «a fé vem pelo ouvir as boas novas, e as boas novas vêm pela Palavra de Cristo» (Rm., 10, 17). “A escuta ajuda a identificar bem o nexo entre conhecimento e amor” (LF n.º 29). A verdadeira fé não pode ser silenciosa, ou apenas privada.
Para São Paulo, pregar o Evangelho é um dever (cf. 1 Cor., 9, 16; 2 Tim., 4, 2); «“Cri, por isso declarei!” Com esse mesmo espírito de fé, nós igualmente cremos e, por esse motivo, falamos» (2 Cor., 4, 14). É um dever de todos os crentes. De acordo com o seu carisma e vocação específicos, todos os cristãos são obrigados a defender e difundir a verdadeira fé, e a testemunhá-la com palavras e acções (cf. LG n.º 11). “Quem se abriu ao amor de Deus, acolheu a sua voz e recebeu a sua luz, não pode guardar este dom para si mesmo” (LF n.º 37).
Lembro-me das palavras de Bento XVI: «– O dom da fé chama todos os cristãos a cooperar na obra da evangelização. Esta consciência deve ser alimentada pela pregação e pela catequese, pela liturgia e pela formação constante na oração».
Os discípulos de Cristo são, portanto, evangelizadores e missionários. O santo Povo de Deus também participa do ofício profético: difunde um testemunho vivo dele, especialmente por uma vida de fé e caridade, oferecendo a Deus um sacrifício de louvor, os frutos dos lábios que louvam o seu nome (cf. LG n.º 12).
Hoje temos de proclamar a nossa verdadeira fé – uma fé fiel à Sagrada Escritura, à Tradição Cristã e ao magistério da Igreja – num mundo bastante indiferente, consumista e tecnocrático, e em contextos culturais diversos. Recordamos bem as palavras repetidas de São Paulo VI: “A ruptura entre o Evangelho e a cultura é sem dúvida o drama da nossa época, como o foi também de outras épocas” (Evangelii Nuntiandi n.º 20). Os nossos contextos, as nossas culturas, os nossos locais de evangelização podem ser diferentes, mas todos partilhamos o mesmo fundamento e núcleo: o seguimento de Cristo, da sua vida e dos seus ensinamentos. A fé é enriquecida pelas diferentes culturas, e as culturas são enriquecidas por uma fé autêntica em Deus. A fé deve ser adaptada às diferentes culturas, mas sem renunciar à verdadeira fé proposta pela revelação. Todos somos pecadores e necessitamos de redenção. As culturas também são tocadas pelos pecados dos homens e das mulheres e, portanto, também precisam de um Redentor. Assim, à medida que as culturas enriquecem a Fé Cristã, esta pode enriquecer as culturas, tentando purificá-las progressivamente do que pode ser, talvez, elementos sombrios.
Outro elemento essencial da proclamação da nossa fé é o compromisso com a justiça, a paz e a integridade da criação, com o amor universal ao próximo, principalmente aos pobres, que são “a espécie mais ameaçada do mundo” (L. Boff). A luz da fé “é concretamente colocada ao serviço da justiça, da lei e da paz (…) também ao serviço do bem comum” (cf. LF n.º 51). A fé viva, além disso, exorta-nos a respeitar a criação de Deus: “A fé… permite-nos respeitar ainda mais a natureza e discernir nela uma gramática escrita pela mão de Deus e um lugar de habitação confiado à nossa protecção e cuidado” (cf. LF n.º 55: Papa Francisco, Laudato si’).
O amor fiel, esperançoso e compassivo ao próximo implica necessariamente um amor preferencial pelos marginalizados. Combater as alterações climáticas, por exemplo, requer também ouvir não só o clamor da criação, mas também o clamor dos pobres – como proclamou o Papa Francisco e agora o Papa Leão XIV.
“Schollium”: fé ou obras? Certamente, fé e obras: “A fé, por si só, se não tiver obras está morta” (cf. Tg., 2, 17; Ib., 2, 14-26). Aceitar a fé – acreditar – já é uma boa acção, a primeira obra. A fé sem obras está morta, e as obras sem fé não salvam. A fé é principalmente um dom de Deus, mas é também, secundariamente, uma tarefa dos crentes: a tarefa ou “a obra” de cooperar com a graça divina, com o dom divino da fé. Após a multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus diz ao povo que o seguia: «Vocês procuram-me não porque viram sinais, mas porque comeram os pães até ficarem saciados». E aconselhou-os – e a todos nós: «Não trabalhem pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, que o Filho do homem lhes dará».
O povo perguntou a Jesus naquela época, e pergunta-lhe agora: O que devemos fazer para realizar as obras de Deus? Jesus continua a responder com compaixão: “Esta é a obra de Deus: que acrediteis naquele que Ele enviou” (cf. Jo., 6, 26-29). A fé autêntica manifesta-se nas boas obras e acções. Com a graça de Deus (sem ela, nada tem valor para o Reino), temos de fazer boas acções, tornar-nos virtuosos e, assim, ser capazes de manter e fortalecer a nossa fé de forma ascendente. «Assim deixai a vossa luz resplandecer diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus» (Mt., 5, 16).
Lembro-me do lema inspirador da primeira visita de São João Paulo II às Filipinas (Fevereiro de 1981): “Morrer pela fé é um dom para alguns. Viver a fé é um apelo a todos”. Como fiéis crentes, somos questionados: vós que podeis ver, o que fazeis com a luz – com a luz da fé? Proclamamos a nossa fé: acreditamos; portanto, falamos. Falamos palavras salvadoras e testemunhamos boas acções; falamos ao mundo do amor incondicional e universal de Jesus.
E para concluir! As últimas palavras de Thomas Merton: “O que nos é pedido hoje não é tanto falar de Cristo, mas deixá-lo viver em nós, para que as pessoas possam encontrá-lo a viver em nós”.
Pe. Fausto Gomez, OP