Uma porta para a plenitude
A admiração é uma emoção singular que nos convida a sair de nós mesmos e a olhar para o mundo com olhos novos. Mais do que um simples encantamento, ela tem o poder de nos “vacinar” contra o individualismo e a polarização, duas tendências que fragmentam a sociedade e nos afastam uns dos outros.
Se não perdemos a capacidade de nos admirarmos, quebramos as barreiras do egoísmo e somos levados a reconhecer algo maior do que nós mesmos, seja na natureza, na arte ou nas pessoas ao nosso redor.
Esta capacidade de admirar-se está profundamente conectada com o mistério da vida. A beleza de um pôr-do-sol, a complexidade de uma célula viva ou a generosidade inesperada de uma pessoa com quem convivemos revelam camadas de significado que ultrapassam a compreensão lógica desta vida.
Ao experimentar admiração, tocamos o insondável e percebemos que há algo de sagrado em tudo aquilo que nos rodeia. Este reconhecimento não apenas nos eleva espiritualmente, mas também nos une como seres humanos, partilhando a mesma capacidade de nos maravilharmos com o mistério da existência.
Além disso, a admiração pode e deve ser uma chave para uma vida mais plena.
Ela está ao nosso alcance diariamente, nas pequenas coisas que muitas vezes “perdemos” devido a uma existência trepidante ou superficial: o riso de uma criança (leve dardo de ironia lançado sobre o materialismo, dizia André Frossard), a beleza e odor de uma flor, um gesto generoso que toca o coração. Cultivar a admiração é uma prática que nos enriquece, pois nos ensina a valorizar o presente e a encontrar significado mesmo nos pormenores mais simples da vida.
Assim, a admiração não é apenas uma emoção passageira, mas um convite constante a viver de forma mais real. Ela abre-nos ao mistério e à beleza do mundo que nos circula, ajudando-nos a viver com mais profundidade e gratidão.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia