De pé? Sentado?
As novidades que aconteceram na Igreja nestes últimos meses desviaram a atenção de um documento importante da Conferência Episcopal Portuguesa relativo à Liturgia. A parte principal diz respeito ao modo de os fiéis participarem na Missa, detalhado em doze pontos:
– De pé desde o início até às leituras;
– Sentados durante as primeiras leituras e o salmo responsorial;
– De pé durante a aclamação antes do Evangelho, durante o Evangelho e durante a aclamação a seguir ao Evangelho;
– Sentados para ouvir a homilia;
– De pé durante o Credo e a Oração dos Fiéis;
– Sentados durante o Ofertório (excepto se houver incenso, nesse caso a Assembleia levanta-se quando é incensada);
– De pé desde a oração a seguir ao Ofertório até o celebrante estender as mãos sobre o pão e o vinho invocando o Espírito Santo;
– De joelhos desde essa invocação do Espírito Santo, durante a Consagração e a elevação do Corpo e do Cálice;
– De pé a partir daí, ou seja, durante a oração do Mistério da Fé, até ao final da Comunhão da Assembleia;
– Os que se confessaram e quiserem comungar podem fazê-lo “na boca ou na mão, como preferirem”, “habitualmente de pé”, “ou de joelhos” se quiserem;
– Sentados, depois da Comunhão, em acção de graças;
– De pé quando se reza a oração depois da Comunhão, até ao fim.
O esforço para cumprir rigorosamente estas prescrições marca bem a importância da Eucaristia.
Hoje em dia, não se costuma comemorar São Tarcísio, mas o “site” do Vaticano recorda a sua história, que chegou até nós pelo testemunho do Papa São Dâmaso. Tarcísio viveu em meados do Século III, no tempo do Imperador Valeriano, que perseguiu duramente a Igreja. Os cristãos participavam na Eucaristia em catacumbas escondidas, mas isso não evitava que os soldados os descobrissem e matassem. Em criança, Tarcísio viu matarem o próprio Papa. Um dia, foi preciso levar a Comunhão a alguns cristãos que iam ser mortos no circo. O novo Papa, São Sisto, perguntou se alguém se oferecia e todos levantaram o braço, mas Tarcísio argumentou que era mais fácil que o deixassem passar a ele por ser mais novo. O Papa entregou-lhe um relicário com a Eucaristia, que Tarcísio escondeu com devoção por baixo da toga e saiu.
No caminho, um grupo de jovens convidou Tarcísio para jogar, mas ele, como levava Nosso Senhor, não podia aceitar. Os outros deram-se conta de algo; forçaram; ele não cedeu e acabaram por o matar à pedrada. Apareceu nesse momento um centurião cristão, chamado Quadratus, que pôs a rapaziada em fuga, pegou no cadáver de Tarcísio e levou-o para junto dos outros cristãos, que o sepultaram na catacumba de São Calisto, outro Papa mártir, próximo do túmulo do Papa São Zeferino, também ele mártir.
São Dâmaso compara o martírio de Tarcísio com o de Santo Estêvão, relatado nos Actos dos Apóstolos, e acrescenta: “São Tarcísio, que transportava o Sacramento de Cristo nas suas fracas mãos, quando foi atacado por uma turba de pagãos, preferiu morrer a entregar o Corpo Celestial aos cães raivosos”.
É bonito morrer para defender com amor a Eucaristia, embora também seja maravilhoso obedecer. E levantar-se, ajoelhar-se, sentar-se… conforme a Igreja manda.
José Maria C.S. André
Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa