CATEDRAL DE URAKAMI, NA CIDADE DE NAGASÁQUI

CATEDRAL DE URAKAMI, NA CIDADE DE NAGASÁQUI

Novo sino toca a rebate pela paz

No ano em que se assinalam os oitenta anos das deflagrações atómicas em Hiroxima e Nagasáqui, o mundo está mais perto do que nunca de um novo holocausto nuclear. Que, a acontecer, será infinitamente mais mortífero do que a tragédia que nos trouxe 1945. O cenário de edifícios arrasados, seres vivos desintegrados, pessoas mortas em segundos – como resultado de uma energia tão devastadora que as respectivas sombras permaneceram até hoje impressas nas paredes ou no asfalto das duas martirizadas cidades japonesa – será replicado por todo o planeta. E, no final, ninguém ficará para contar a história.

Na sequência da terrível destruição causada pelo lançamento da bomba atómica, um dos dois sinos da antiga Catedral de Urakami ficou despedaçado. Anos depois, aquando da reconstrução da igreja, a torre sineira permaneceu vazia. Ora, tal situação será brevemente alterada, pois um novo sino será instalado na torre e tocará uma vez mais no próximo Domingo; e no minuto exacto – às 11 horas e 4 minutos da manhã – em que a bomba atómica explodiu no céu de Nagasáqui, nesse fatídico 9 de Agosto de 1945. O seu toque a rebate não só honrará os milhares de vítimas que pereceram nesse dia e nas semanas, meses e anos que se seguiram, como servirá de apelo à paz.

«Espero que, cada vez que este sino tocar, as pessoas se lembrem desses eventos e possam comprometer-se com esperança e aprender a construir a paz», afirmou o arcebispo de Nagasáqui, D. Peter Michiaki Nakamura, à agência FIDES.

O facto de o sino destruído por uma bomba atómica fabricada e lançada pelos Estados Unidos ter sido reconstruído e doado por cidadãos norte-americanos, e acolhido pela Catedral de Urakami, representa um sinal concreto de perdão, reconciliação e esperança. Noutras palavras, e no entender do prelado nipónico, «tal testemunha a possibilidade de caminharmos juntos rumo à concretização da paz no mundo».

O ano de 2025 é de facto – na perspectiva da Igreja Católica – um ano de esperança. E não é apenas por causa do Jubileu, mas precisamente pela efeméride das bombas atómicas que ditaram o fim da 2.ª Grande Guerra. Os fiéis terão a oportunidade de reflectir, uma vez mais, sobre a importância de prevenir a eclosão de confrontos militares e de rezar pelo fim dos conflitos que actualmente assolam o mundo, apelando não apenas à abolição do uso de armas nucleares como também à sua produção e posse.

Quase todos os seres humanos consideram a guerra algo de profundamente errado, mas a verdade é que se o país onde residem fosse atacado por uma potência estrangeira, a maioria não hesitaria e responder ao conflito com um outro conflito, preferencialmente maior para assim poderem sair vitoriosos da contenda. Infelizmente essa é a natureza mais baixa do ser humano. Daí que seja crucial, hoje mais do que nunca, cultivar a espiritualidade e consolidar – ou começar agora a construir – laços de cooperação e compreensão mútua, para que uma guerra nuclear nunca tenha a menor hipótese de espoletar.

Com esta filosofia em mente, a diocese de Nagasáqui, juntamente com a diocese de Hiroxima, iniciou uma colaboração com as dioceses de Seattle e Santa Fé, nos Estados Unidos, com o objectivo comum de um mundo livre de armas nucleares. «Acho muito importante fomentar este tipo de relacionamento e conexão com os outros», comentou D. Nakamura.

Considerando a expansão do armamento e o actual sistema educacional no Japão, é difícil afirmar que o País esteja realmente no caminho da paz. A sociedade japonesa é altamente competitiva, frequentemente dominada pela busca do lucro e por um materialismo acentuado. Ora, numa sociedade com tais características, o risco de possíveis guerras baseadas em combates e conquistas é muito grande.

A Conferência Episcopal Japonesa publicou recentemente um documento sobre a paz para comemorar o triste marco que este ano se assinala. O documento levanta uma questão: Será que o Japão está hoje realmente no caminho da paz? A legítima pergunta dos bispos japoneses decorre da recente implantação de sistemas de mísseis – para fins defensivos, dizem – em Okinawa e nas Ilhas Nansei. Até na região de Kyushu as bases militares estão a ser reforçadas. Quando questionado acerca da reacção da juventude a este aumento militar, o arcebispo de Nagasáqui respondeu que muitos jovens, não apenas católicos, não têm uma compreensão real de quão trágica e desumana é a guerra. Embora a educação para a paz seja ensinada nas escolas, ela é «principalmente teórica ou puramente factual». E exemplificou: «Foi recentemente revelado que o Ministério da Defesa enviou panfletos às escolas que explicam de forma acessível a necessidade e legitimidade da defesa».

Para D. Michiaki Nakamura, a Igreja «deve garantir que a educação escolar não se torne inadvertidamente tendenciosa e voltada para a preparação para a guerra, promovendo a ideia errónea de que a paz pode ser alcançada por meio da força militar». Neste contexto, D. Nakamura observou que «a Igreja tem o dever de testemunhar o amor, o perdão e a entrega aos outros, não apenas com palavras, mas através de um estilo de vida virado para a paz».

Joaquim Magalhães de Castro

LEGENDA: Instalação do novo sino na Catedral de Uraka

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *