Combater o terrorismo, defender o ambiente.
O Papa Francisco iniciou, na passada quarta-feira, em Nairobi, a sua primeira viagem a África com mensagens contra o terrorismo e em defesa do ambiente, apelando à «tolerância e ao respeito pelos outros».
«A experiência demonstra que a violência, os conflitos e o terrorismo se alimentam com o medo, a desconfiança e o desespero que nascem da pobreza e da frustração», disse o Papa no palácio presidencial da capital do Quénia, após a visita de cortesia ao Presidente Uhuru Kenyatta, perante autoridades civis e membros do corpo diplomático, para além de personalidades do mundo político, económico e cultural.
«Enquanto as nossas sociedades experimentarem divisões, sejam elas étnicas, religiosas ou económicas, todos os homens e mulheres de boa vontade são chamados a trabalhar pela reconciliação e a paz, pelo perdão e a cura dos corações», observou.
O Papa apoiou os esforços de construção de «uma ordem democrática sã» que fortaleçam «a coesão e a integração» a partir das «bases sólidas do respeito mútuo, do diálogo e da cooperação» e de «uma sociedade multiétnica que seja verdadeiramente harmoniosa, justa e inclusiva».
Apontou o dedo aos «inimigos da paz e da prosperidade» e disse que a luta para os contrariar «deve ser conduzida por homens e mulheres que, destemidamente, acreditam e, honestamente, dão testemunho dos grandes valores espirituais e políticos».
A intervenção partiu depois para as questões ecológicas, num país marcado por «uma beleza imensa» e abundância de recursos naturais.
«A grave crise do meio ambiente, que o mundo enfrenta, exige uma sensibilidade ainda maior pela relação entre os seres humanos e a natureza», sustentou o Papa, que também visitou o escritório da ONU em Nairobi, onde discursou sobre temas ambientais, a poucos dias do início da Cimeira do Clima (COP21), em Paris.
«Não pode haver renovação da nossa relação com a natureza, sem uma renovação da própria humanidade», acrescentou.
Na mesma ocasião elogiou os valores da «alma africana» na relação com a natureza, em particular «num mundo que continua mais a explorar do que proteger» o planeta.
«Tais valores devem inspirar os esforços dos governantes para promover modelos responsáveis de desenvolvimento económico», acrescentou.
O Papa agradeceu a «calorosa recepção» nesta primeira visita à África em toda a sua vida, elogiando o «papel significativo» que o Quénia desempenha no continente.
O discurso em Inglês deixou depois uma saudação aos jovens, «o recurso mais valioso de qualquer nação», aos idosos, «o coração e a alma dum povo», e aos mais pobres, pedindo «uma sociedade solidária, justa e pacífica».
Francisco concluiu com a frase “Mungu abariki Kenya” (Deus abençoe o Quénia).
O Presidente Kenyatta recordou a sua educação católica, a importância dos missionários para o desenvolvimento da nação e assumiu a necessidade de uma «guerra» contra a corrupção.
O Governo queniano decretou para ontem um feriado nacional de oração e reflexão.
No final do encontro, o Papa deslocou-se de automóvel para a Nunciatura Apostólica (embaixada da Santa Sé) em Nairobi, onde esteve instalado. Hoje parte para o Uganda, sendo que a última etapa da viagem começa no Domingo, em Bangui, na República Centro-Africana.
Esta é a 11.ª viagem internacional do actual pontificado e Francisco tornou-se o quarto pontífice a visitar África, depois de Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.
Nome de Deus em vão
Entretanto, ontem, o Papa denunciou os que usam o «nome de Deus» como justificação para o ódio ou actos de violência, durante um encontro com líderes de várias comunidades cristãs e outras religiões presentes no Quénia.
«Nós procuramos servir um Deus de paz: o seu santo nome nunca deve ser usado para justificar o ódio e a violência», disse.
Num país que tem sido alvo de várias acções violentas da milícia islamista Al-Shabab, recordou os «bárbaros ataques» no Westgate Mall, na Universidade de Garissa e em Mandera, que provocaram centenas de mortos, nos últimos dois anos.
«Que o Omnipotente possa tocar o coração dos que perpetram esta violência e conceder a sua paz às nossas famílias e às nossas comunidades», apelou, durante o encontro que decorreu no salão da Nunciatura Apostólica.
Para Francisco, é necessário que os líderes religiosos sejam «profetas de paz» que promovam a harmonia e o respeito recíprocos.
«Em demasiadas ocasiões, os jovens tornam-se extremistas em nome da religião para semear discórdia, para semear medo e para lacerar o tecido das nossas sociedades», lamentou.
A iniciativa contou ainda com a presença de sete personalidades da sociedade civil que se têm destacado na promoção do diálogo inter-religioso, adiantou o portal de informação do Vaticano.
O Santo Padre sublinhou que o diálogo ecuménico e inter-religioso «não é um luxo» mas algo «essencial» num mundo «ferido por conflitos e divisões».
A intervenção deixou votos de que os líderes religiosos saibam guiar as suas comunidades para «a verdade» e os «valores espirituais», em defesa da dignidade de cada ser humano e pelo direito dos povos a «viver em liberdade e felicidade».
Cinquenta anos depois do fim do Concílio Vaticano II, «no qual a Igreja Católica se comprometeu no diálogo ecuménico e inter-religioso ao serviço da compreensão e da amizade», o Papa reafirmou este compromisso, para enfrentar os problemas da humanidade.
«Ao olhar para o futuro, rezemos para que todos os homens e mulheres se considerem irmãos e irmãs, unidos pacificamente nas e através das suas diferenças. Rezemos pela paz», concluiu.
In ECCLESIA