CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE (CEMITÉRIO DE MONG-HÁ)

CAPELA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE (CEMITÉRIO DE MONG-HÁ)

Dores de perda e crescimento

A Capela de Nossa Senhora da Piedade é o templo do cemitério católico de Mong-Há, em Macau. Foi fundada em 1959. Acha-se na paróquia de Nossa Senhora de Fátima.

A capela foi, de facto, construída em 1959, dentro do Cemitério de Mong-Há, também chamado de “novo cemitério ocidental”. Foi erguida para servir como local de celebração de missas de funeral para católicos, mediante pedido prévio à Administração Pública. O Cemitério de Mong-Há foi fundado depois da Guerra do Pacífico, que terminou em 1945. A sua utilização decorre da saturação do antigo cemitério ocidental (São Miguel).

De acordo com as fontes conhecidas, incluindo jornais antigos e literatura sobre a toponímia e obras religiosas de Macau, a capela foi erigida possivelmente por iniciativa da diocese de Macau, em 1959.

Integrou, muito provavelmente, a política da Igreja Católica de acompanhar a expansão da cidade, patente também na criação de pontos de actividade religiosa nos cemitérios com presença católica – uma prática consistente com outras iniciativas dessa década. Estava integrada num contexto místico‑religioso específico: Mong-Há era uma área tradicional com forte presença de múltiplas confissões, onde budistas, taoistas, muçulmanos e católicos partilhavam o espaço de sepultamento com respeito mútuo. A criação da capela reflectia esse princípio de coexistência religiosa típico de Macau, também nessa época.

A capela exibe uma forma simples, mas cuidada, adaptada à função discreta de espaço funerário. De estilo sóbrio, sem torres, ostenta um telhado em duas águas e uma pequena cruz no topo. As fachadas são revestidas a reboco pintado de branco ou tom claro, seguindo a tradição portuguesa de simplicidade e serenidade. Junto ao corpo principal, ergue-se uma pequena entrada frontal, encimada de arco, ou pórtico, oferecendo abrigo aos fiéis que esperam ou participam nas cerimónias. A envolvente é hierarquizada em socalcos, adaptada ao terreno em degraus do cemitério, criando um ambiente sereno e contemplativo.

O espaço interior é compacto, de planta rectangular, concebido para acolher pequenas assembleias familiares durante missas de corpo presente. No altar, encontra‑se uma imagem ou estátua de Nossa Senhora da Piedade (Mãe da Divina Misericórdia), rodeada por velas e flores, com ornamentação discreta. As paredes interiores são claras, proporcionando amplitude visual. Rege-se por um ambiente colunar de reverência e recolhimento, com iluminação suave, janelas laterais angulares e letreiro litúrgico sobre o altar.

O estilo arquitectónico é utilitário e contemporâneo, sóbrio e funcional. A capela nasceu numa época em que Macau necessitava mais de estruturas funcionais do que grandiosas. O seu desenho evita ornamentos exuberantes, focando‑se na serenidade e acessibilidade.

As influências de Portugal são visíveis, como já referimos, na forma rectangular, no telhado de duas águas, no reboco claro e na cruz discreta, evocando ermidas rurais. A integração no terreno em declive, com cores neutras, alinha-se com o cenário pacato do cemitério e respeita a ambiência de memória colectiva. O interior – voltamos a acentuar – revela uma estética litúrgica moderna, pouco ornamentada, mas suficientemente sacralizada para as funções funerárias e de oração.

Integrada num cemitério público, a capela reflecte também a tradição cristã de associar a devoção mariana à ideia de consolo e misericórdia, particularmente relevante num contexto fúnebre. A sua construção insere-se no período do pós-guerra, quando Macau, ainda sob Administração Portuguesa, assistiu a um renovado impulso na edificação de infraestruturas religiosas e civis.

A Capela de Nossa Senhora da Piedade é um exemplar modesto, mas significativo, da arquitectura religiosa macaense do Século XX, representando uma continuidade da forte devoção mariana de Macau num espaço fúnebre. A sua simplicidade construtiva e a ausência de grandes elaborações estilísticas reflectem tanto as limitações da época como a intenção de criar um local de recolhimento e oração, em vez de monumentalidade artística.

A capela ainda está em uso, especialmente durante cerimónias religiosas, mas não é tão proeminente como outras igrejas históricas de Macau. Há também uma forte relação com a vizinhança, pois o Cemitério de Mong-Há está próximo do Bairro de Mong-Há, uma zona que já foi rural, mas que hoje é um bairro residencial. O cemitério abriga sepulturas de antigas famílias macaenses e portuguesas, algumas com lápides em Português e Chinês.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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