Os portugueses estão contentes!
Bem sei que estão a ser fustigados por temporais e muita chuva e que alguns fazem contas à vida pelos bens que perderam na sequência do… “e tudo o vento levou”. No entanto, muitos outros, aqueles que passaram pelos “intervalos da chuva” e para quem o vento não soprou, estão satisfeitos pela carga d’água que tem caído, acreditando que isso evitará justificações para aumentarem o preço da mesma ou carência de produtos agrícolas, por falta dela.
Estão contentes porque o Futebol Clube do Porto arrasou o Boavista, ganhando 5 a 0, mesmo sem o treinador Lopetegui (“Lotopegui” ou “Potolegui”), dando uma enorme alegria a todos os “tripeiros” e a esperança de voltar aos bons resultados.
Estão contentes porque os impostos baixaram e fizeram-lhes renascer a esperança de no futuro (pelo menos nos tempos mais próximos…) não voltarem “à carga” com pedidos de mais “esmolas” para ajudar a “salvar” os bancos.
Estão igualmente contentes por verem o Sporting fazer das “tripas coração”, ganhando ao Braga por 3 a 2, depois de estar a perder por 2 a 0, continuando a liderar o campeonato sob a direcção do irrequieto “menino” Jesus, alimento preferencial dos comentadores televisivos.
Mas a satisfação da maior parte dos portugueses é ainda maior, ao verem o salário mínimo aumentar e o Governo impedir que os bancos retirem as casas de família àqueles que, por desgraça, ficaram no desemprego e sem rendimentos para pagar as respectivas prestações.
E a avaliar pelo número de adeptos, a felicidade alargou-se a uma grande quantidade de portugueses benfiquistas, ao conseguirem ganhar 4 a 1 ao Nacional da Madeira, no meio de um nevoeiro que “escondia” a baliza do adversário mas que, mesmo assim, as bolas entravam.
O nevoeiro da Madeira acabou por apagar a “Bola de Ouro” ao seu ídolo Ronaldo que, desta vez, foi para o Sol de Barcelona e a sua “estrelinha” Messi. No entanto “bolas” não faltam a Ronaldo, a avaliar pelas suas namoradas “topo de gama”, que transporta no seu jacto privado ou nos seus carros de luxo, pelo que, mais bola menos bola, não altera a vontade do campeão em continuar a dar “chutos na bola” e a marcar “golos” nas revistas cor-de-rosa.
Mas a alegria não é apenas resultado dos “futebóis”. A satisfação e confiança dos portugueses está bem manifestada na sua vontade em voltar a comprar casas, em vez de as alugar, aproveitando a “abertura” dos bancos e esperando que uma nova “bolha” imobiliária não os leve a fechar as “torneiras”.
A renovada felicidade dos portugueses, provocada pelo futebol, não é menos intensa do que aquela que começam a sentir, em virtude das medidas do actual Governo. Segundo as sondagens, o Primeiro-Ministro António Costa passou de pior líder político, em Novembro do ano passado, para em Janeiro passar a ser o melhor.
É assim que as emoções se manifestam em muitos portugueses. De besta a bestial, tanto no futebol como na política, vai a fácil distância de um golo ou de uns trocos a mais. No entanto, pese embora o anacronismo da situação, há uma certa razoabilidade neste tipo de comportamento.
Por um lado, no domínio da governação política, após tantos anos a diminuírem os rendimentos à população, não tirarem mais nada já era bom. Um Governo que já lhes deu algum e que lhes promete mais, é muito bom!
No campo desportivo, nomeadamente na área do futebol, foi e é este desporto, e destacadamente o valor dos seus atletas, que mais publicitaram a existência do nosso pequeno país na “estranja”. Muitos estrangeiros podem não saber em que continente fica Portugal, mas sabem que o falecido Eusébio, tal como Figo, Mourinho ou Ronaldo, entre tantos outros, são portugueses.
Para atenuar a falta de auto-estima que nos tem caracterizado (e que nos têm imposto), estes sucessos desportivos dos futebolistas acabam por servir de compensação perante a falta de maiores e melhores argumentos.
Talvez por isso eram para ser onze os candidatos às próximas eleições presidenciais, mas um desistiu, ficando a “equipa” reduzida a dez e, portanto, sem guarda-redes. Nestas circunstâncias, todos os candidatos se apresentam com vontade de marcar golos no “primeiro tempo”, mesmo que alguns nunca cheguem a sair do banco.
LUIS BARREIRA