Miqueias: A promessa de um novo rei (Mq., 4, 14 – 5, 5)
INTRODUÇÃO: PAZ E INSTRUÇÃO APÓS A PROVAÇÃO
«Por que gritas assim, [filha de Sião]? Não há rei em ti? O teu conselheiro pereceu, de modo que as dores te dominaram como a uma mulher em trabalho de parto?» (Miqueias 4, 9).
Esta imagem mostra que a salvação de Deus é um processo doloroso de purificação, ao contrário do fanatismo nacionalista dos falsos profetas (cf. Miqueias 3, 11). No meio do sofrimento, Israel é chamado a confiar no Senhor. Esta provação pode referir-se à destruição das cidades de Judá e ao cerco de Jerusalém pelo rei assírio Senaqueribe, em 701 a.C. (cf. 2 Reis 18, 13 – 19, 37).
Após três capítulos de julgamento, Miqueias 4 e 5 anunciam a exaltação da Filha Jerusalém – uma figura da Igreja – e do seu Rei, Cristo, o Messias. A ligação entre o julgamento e a salvação é expressa neste versículo:
«Nos dias que virão, o monte do templo do Senhor será colocado acima das montanhas mais altas e se elevará acima das colinas» (Miqueias 4, 1).
Jerusalém será elevada e a sua honra restaurada. Todas as nações a ela afluirão e receberão instrução (cf. Miqueias 4, 2). As armas serão transformadas em ferramentas para a agricultura e as guerras cessarão (cf. Miqueias 4, 3; Isaías 2, 1–5).
O HUMILDE GOVERNANTE DE BELÉM
«Mas tu, Belém-Efrata, a menor entre os clãs de Judá, de ti sairá para mim aquele que será governante em Israel; cuja origem é desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade» (Miqueias 5, 1).
Um novo governante ou juiz (“shaphat”) surgirá da pequena e humilde Belém. Ele terá autoridade para trazer paz e defender o povo dos assírios. Alimentará o seu rebanho como um pastor. No entanto, enfrentará hostilidade:
«Agora, lamenta-te, ó filha que te lamentas! Eles cercaram-nos! Com a vara, batem na face do governante de Israel» (Miqueias 4, 14).
Este ataque ao rei é um acto de humilhação pública que afecta todo o povo. Este versículo está relacionado com Jesus sendo espancado: «Um dos guardas que ali estavam esbofeteou a cara de Jesus (…)» (João 18, 22).
Em tempos de provação, quando os inimigos atacam e destroem, a pessoa justa só pode confiar no Senhor e continuar a esperar na Sua justiça:
«Mas eu, quanto a mim, olharei para o Senhor; esperarei pelo Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá» (Miqueias 7, 7).
Depois deste governante-juiz suportar o sofrimento, Ele prevalecerá: «Se levantará e pastoreará o seu rebanho com a força do Senhor» (Miqueias 5, 3).
UM COMEÇO HUMILDE
Belém de Efrate, local de nascimento do rei David, também será o lugar onde o Messias nascerá, cumprindo a aliança de Deus com a casa de David (cf. 2 Samuel 7, 1–17). O Evangelho de Mateus anuncia o cumprimento desta profecia com o nascimento de Jesus em Belém (cf. Mt., 2, 6).
Entre os textos proféticos, Belém é mencionada apenas nesta passagem e em Jeremias 41, 17. Embora insignificante, torna-se a fonte de um governante «cuja origem é desde os tempos antigos», ecoando a profecia de Isaías sobre o tronco de Jessé, pai de David. Esta transformação – do menor para o maior – revela a maneira como Deus age no mundo: «Deus escolhe os fracos para confundir os fortes» (1 Coríntios 1, 27).
Tal como Isaías 11, 1, que fala de Jessé em vez de David, a referência de Miqueias a Belém lembra as origens humildes da monarquia e a imagem de David como pastor em vez de guerreiro. Desta forma, Belém personifica a simplicidade e a humildade, contrastando deliberadamente com a grande cidade de Jerusalém.
Jerusalém representa o esplendor e o poder do reino de David e Salomão, mas o Senhor escolhe Belém – a pequena e modesta cidade – como o lugar onde o novo Rei surgirá; a obra de salvação de Deus não começa na grandeza humana, mas na humildade e na pequenez.
Voltar a Jessé é abraçar um novo começo: uma renovação enraizada, não na força mundana, mas na simplicidade da fé e no coração do pastor.
O REI PASTOR
Um novo começo é anunciado na humilde Belém. O nascimento do Senhor Jesus numa manjedoura é um acontecimento histórico concreto, ocorrido num momento específico: «Quando aquela que deve dar à luz tiver dado à luz, então o resto da sua descendência voltará para os filhos de Israel» (Miqueias 5, 2).
Com o nascimento deste novo Rei, os remanescentes dispersos voltarão. O Senhor que outrora os dispersou irá reuni-los novamente (cf. Mq., 2, 12-13). Ele irá pastorear Israel (cf. 2 Sm., 5, 2) e o seu reinado estenderá a paz a todas as nações. Mateus cita esta profecia em relação à Epifania, quando o Menino divino é revelado aos gentios (cf. Mt., 2, 6).
Jerusalém, a capital, lembra o poder e o esplendor dos reinados de David e Salomão; Belém, por outro lado, é pequena e humilde, mas é precisamente essa simplicidade que Deus escolhe como o lugar onde a renovação começa; de Belém surge o novo Rei, que será exaltado em toda a terra (cf. Mq., 5, 3).
A própria história é a arena onde o Senhor vem para nos salvar. Antes da chegada do Messias, Israel foi purificado por meio de provações e sofrimentos, como uma mulher em trabalho de parto. O Rei que vem sofre violência e humilhação, mas estabelece a paz, consola os aflitos e reúne as tribos dispersas. Protege o seu povo da ameaça do invasor: «Ele nos livrará dos assírios quando eles entrarem na nossa terra» (Miqueias 5, 5).
Este texto messiânico encontra o seu cumprimento em Jesus de Nazaré, nascido da Virgem Maria. Ele suportou a vergonha e o sofrimento, venceu os nossos inimigos e abriu o caminho para a paz. Através dele, todas as nações são convidadas a subir a montanha do Senhor, a aprender os seus caminhos e a partilhar a sua comunhão. É uma visão profética da salvação universal, onde as bênçãos da aliança transbordam para além de Israel para abraçar todos os povos.
REZAR
COM A PALAVRA DE DEUS
Voltando para casa
Leia e medite em Miqueias 4, 14 – 5, 5. O profeta convida-nos à simplicidade e à humildade, voltando ao início da nossa jornada de fé. Este texto permite-nos recordar a nossa pequenez e pobreza, e reconhecer o poder do Senhor que nos transforma por dentro, libertando-nos dos nossos inimigos. Encontro a força de Deus na minha própria fraqueza?
Confiar no Senhor no meio das provações
Esta transformação é muitas vezes dolorosa; ela liberta-nos dos vícios e das tendências malignas, permitindo-nos crescer nas virtudes, levando-nos assim à paz e à comunhão com Deus, com os outros e com a criação. Como uma mulher em trabalho de parto, somos chamados a permanecer fiéis e a esperar a nova vida que o Senhor nos concederá. No meio das provações, Miqueias encoraja-nos a confiar no Senhor, que vem para nos salvar. De que inimigos o Senhor me libertou?
Contemplar Cristo
Jesus, o Messias, suportou o sofrimento e a vergonha ao enfrentar os nossos inimigos. Contemple Cristo humilhado na cruz – o altar onde Ele conquistou a vitória sobre a morte, o pecado e Satanás. Em oração, coloque as suas lutas diante Dele, confiando que a Sua força trará renovação e paz. Em que parte da minha história preciso descobrir a presença do Senhor?
Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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