O novo começo a partir do tronco de Jessé (Is., 11, 1–10)
1. A imagem do crescimento e da renovação
«Um rebento sairá do tronco de Jessé, e um rebento das suas raízes dará fruto» (Is., 11,1).
Isaías começa este oráculo com a imagem de uma árvore: tronco, rebento e fruto, que evoca as origens humildes da casa de David. No entanto, o profeta não menciona David directamente, mas sim Jessé, pai de David. Por que razão coloca o foco em Jessé, ao invés de David, o fundador da dinastia?
Um texto paralelo de Jó ajuda-nos a compreender melhor as imagens de Isaías:
«Porque há esperança para uma árvore, se for cortada, de que possa voltar a florescer e os seus rebentos não cessem. Embora a sua raiz envelheça no solo e o seu tronco morra no pó, ao cheiro da água ela brotará e fará ramos como se tivesse sido recém-plantada» (Jó., 14, 7–9).
As palavras de Jó expressam esperança na fidelidade de Deus – o poder de restaurar a vida mesmo quando tudo parece perdido. Isaías usa a mesma imagem para anunciar a renovação após a devastação.
2. Colapso histórico da monarquia
A profecia de Isaías deve ser entendida tendo como pano de fundo o sofrimento de Judá. Após a guerra entre a Síria e Efraim, a recusa do rei Acaz em dar ouvidos ao profeta levou-o a submeter-se à Assíria, o que o levou a pagar pesados tributos. O seu filho e sucessor, Ezequias, angustiado com tais encargos, rebelou-se contra a Assíria e, contra o conselho de Isaías, procurou uma aliança com o Egipto. Em resposta, Senaqueribe, o rei assírio, marchou contra Judá, devastou as suas cidades fortificadas e sitiou Jerusalém de forma humilhante em 701 a.C. No entanto, o Senhor milagrosamente libertou a cidade.
Como resultado destes eventos, a monarquia davídica ficou gravemente enfraquecida e Isaías previu o seu eventual colapso. A imagem do “tronco” e do “rebento” transmite que a dinastia seria reduzida a ruínas – uma profecia cumprida em 587 a.C., com a destruição de Jerusalém pelos babilónios. Após o exílio, nenhum rei da linhagem de David reinou novamente em Judá. A monarquia fracassou, destruída pela sua própria corrupção e autodestruição.
3. Jessé como símbolo de um novo começo
Depois que a casa de David caiu na escuridão e no caos – marcado pela autodestruição, exílio e redução a um mero toco – Deus revelou a sua misericórdia e poder, reacendendo a esperança para Israel. Ao focar-se em Jessé, em detrimento de David, Isaías ressalta o tema de uma nova e definitiva intervenção de Deus na história humana; a dinastia não é simplesmente revivida, ela é refundada. Assim como a árvore de Jó brota novamente após ser cortada, Deus traz vida ao que parecia morto.
A “árvore de Jessé” torna-se, assim, um símbolo de origens, humildade e renovação. Ela proclama que Deus está a começar de novo, soprando vida na linhagem davídica e abrindo caminho para um novo capítulo na História da Salvação. Esta esperança de renovação não repousa na sucessão humana, mas inteiramente na iniciativa divina.
4. O governante dotado de sabedoria e justiça
Este oráculo, ao contrário do discutido anteriormente (Is., 7,14–17) – inicialmente aponta para um rei da dinastia de David –, é mais aberto e menos específico. Ele estende-se além do horizonte histórico do próprio Isaías com uma dimensão escatológica, apontando para o fim dos tempos, quando o próprio Deus intervirá para governar o seu povo com justiça, equidade e bondade (cf. Jr., 23, 5-6).
«O Espírito do Senhor repousará sobre ele: um espírito de sabedoria e de entendimento, um espírito de conselho e de força, um espírito de conhecimento e de temor do Senhor» (versículo 2).
O conceito de sabedoria (“ḥokmāh” em Hebraico) transmite discernimento: um julgamento formado através de uma reflexão cuidadosa sobre o que é certo e o que é errado. Envolve a virtude da prudência, permitindo compreender a situação presente e as suas circunstâncias para agir de forma adequada e benéfica para aqueles que estão sob o seu governo. Este julgamento é dirigido especialmente aos pobres, pois somente aqueles que são humildes e dispostos a aceitar o reino de Deus com reverência e “temor do Senhor” se tornam os verdadeiros destinatários da sua justiça, que também abrange misericórdia, graça e salvação.
Este “temor do Senhor” é apresentado nos livros sapienciais da Bíblia como o “princípio da sabedoria” (Salmo 111, 10; Provérbios 1, 7). Aqui, a Palavra de Deus refere-se a um “temor filial”: amamos o Senhor tão profundamente que tememos ofendê-Lo ou ser separados Dele pelo pecado. Transcende o mero “temor servil”, que se preocupa apenas com o castigo ou o inferno, e expressa, em vez disso, o temor reverente dos filhos perante um Pai amoroso.
5. A paz da criação restaurada
O Messias, ungido com o Espírito da sabedoria (cf. Mc., 1, 10), trará a verdadeira paz e harmonia:
«O lobo habitará com o cordeiro… e uma criança pequena os conduzirá» (Is., 11, 6).
Esta visão evoca um regresso ao Éden – uma paz que abraça toda a criação. A terra será preenchida com o conhecimento do Senhor «como as águas cobrem o mar» (Is., 11, 9). Em Cristo, esta promessa começa a revelar-se, e à Igreja é confiada a tarefa de a estender a todos os povos, reunindo a Humanidade na paz do reino de Deus.
Esta paz não é meramente a ausência de guerra ou conflito, nem é a “paz dos cemitérios”. É, antes, a renovação da aliança, onde os “pobres do Senhor” e os “pequeninos de Jesus” desfrutam da plenitude da vida em comunhão amorosa com Deus.
REZAR COM A PALAVRA DE DEUS
Leia o texto de Isaías 11, 1–10, em espírito de oração, e medite sobre cada uma das suas imagens. Recorde as próprias experiências de um dia ter sido dominado por circunstâncias adversas, ou momentos de fracasso e crise na sua família ou comunidade. Peça ao Senhor que lhe conceda sabedoria, para que possa acolher a sua obra de redenção e cura, especialmente quando se sentir vulnerável e fraco.
Reconheça como o egoísmo e a resistência à Palavra e à vontade de Deus podem levar-nos ao desespero e ao caos. No entanto, mesmo em situações aparentemente sem esperança, o Senhor reacende a nossa esperança. Contemple Jesus na cruz e, em silêncio, aceite o seu amor transformador.
Peça ao Senhor o dom do Espírito: sabedoria, entendimento, força e temor ao Senhor. Oremos para que a exortação de São Paulo se cumpra em nós:
«Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência» (Col., 3, 12).
Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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