Por que milhões estiveram com o Papa em Roma?
Milhões de jovens acorreram há dias a Roma para viverem o Jubileu com o Papa.
Perante um encontro tão excepcional, chama a atenção o pouco relevo que os Órgãos de Comunicação Social lhe deram. A agência noticiosa LUSA, que consegue publicar todos os dias do ano notícias e fotografias de manifestações homossexuais, nem que tenha de ir buscar eventos minúsculos a países longínquos, ou declarações de algum indivíduo desconhecido, dedicou uma atenção comparativamente ridícula ao Jubileu.
De Portugal, foram dezenas de milhares de rapazes e raparigas, alguns de avião e comboio, a maioria de autocarro. O Patriarca de Lisboa foi com um grupo, de autocarro. De toda a Europa e de todo o mundo, a deslocação foi maciça. A Câmara de Roma informou que tinha sido a maior concentração de pessoas jamais ocorrida na cidade de Roma. [N.d.R.: Macau também se fez representar com um grupo constituído por cerca de vinte peregrinos].
O programa incluiu várias actividades curiosas, para os tempos que correm. Entre elas, a Confissão individual e a absolvição individual dos pecados. Além das Confissões em todas as igrejas de Roma, o imenso Circo Máximo foi cheio de confessionários para o efeito. O nome Máximo, deriva de ter sido, no tempo do Império Romano, o maior (“maximus”) circuito para corridas de cavalos, com uma pista de 1,6 quilómetros desde a partida até à meta, com bancadas para 150 mil espectadores.
A vida dos peregrinos foi dura, a maioria teve de dormir ao relento na planície de Tor Vergata, mas os relatos dão conta de que viveram uma experiência extraordinária.
Para muitos deles, foi o primeiro contacto com o Papa Leão XIV, que os surpreendeu pela juventude e boa disposição. Quer na vigília de sábado, no diálogo com os jovens, quer na homilia da Missa de Domingo, o Papa foi exigente e a reacção daquela multidão foi aplaudi-lo entusiasticamente.
No encontro de sábado à noite, uma rapariga referiu a actual carga de incerteza nestes tempos, que leva a adiar decisões, também para evitar que se renuncie a algo. Ela própria sentia que deveria «ser corajosa e viver a aventura de uma liberdade viva, com escolhas radicais».
Leão XIV agradeceu a pergunta, porque, segundo me parece, lhe deu oportunidade para sintetizar uma das mensagens fortes que deixou aos jovens nestes dias: «A escolha é um acto humano fundamental (…). Não se trata apenas de escolher algo, mas de escolher alguém (…). Decidimos quem queremos ser. [Esta] escolha é a decisão sobre a nossa vida: que homem queres ser? Que mulher queres ser? Queridos jovens, aprende-se a escolher através das provações da vida e, antes de tudo, lembrando que nós fomos escolhidos (…). Recebemos a vida gratuitamente, sem a escolher! Na origem de nós mesmos não houve uma decisão nossa, mas um amor que nos quis (…). Disseste que “escolher significa também renunciar a outras coisas, e que isso às vezes nos bloqueia”. Para sermos livres, (…) é preciso partir do amor que nos precede, surpreende e supera infinitamente: o amor de Deus. Por isso, diante d’Ele, a escolha não tira nenhum bem, mas leva sempre ao melhor».
Todos perceberam que o Papa falava de vocação, para o Sacerdócio, para um casamento responsável e definitivo, ou para qualquer outro caminho exigente.
Com muita frequência, tanto nas respostas aos jovens como na homilia, Leão XIV citou o Papa Francisco, e também Santo Agostinho, Bento XVI e João Paulo II.
Valeu a pena o incómodo de dormir no autocarro e ao relento, e comer sanduíches todos os dias!
José Maria C.S. André
Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa