CRESCENDO NA FÉ

Fé: a Virtude Fundamental (décima parte)

10. CRESCENDO NA FÉ

No que respeita à Fé, São Tomás de Aquino diz que pode haver fé menor ou maior nos crentes: por exemplo, menor no caso de Pedro, que duvidou (cf. Mt., 14, 31), ou maior no caso da mulher cananeia (cf. Mt., 15, 28).

A graça divina da fé é um dom gratuito de Deus, que exige, quando apropriado, a livre cooperação do homem. Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti (cf. Santo Agostinho). A nossa liberdade, porém, não é absoluta – somos criaturas de Deus –, mas limitada e dentro da Providência de Deus, que governa e move tudo e todos de acordo com a sua natureza.

Deus respeita a liberdade que nos deu. Ele não nos força, mas move-nos livremente. Um bom exemplo ilustrativo é dado: o nascimento do amor na criança, que aprende a amar a partir do amor total da sua mãe por ela. A criança não é forçada a amar, ela responde ao amor da sua mãe. De uma forma semelhante, podemos dar uma resposta positiva à graça de Deus – livremente.

A semente na parábola do semeador de Jesus é apresentada por alguns como símbolo do crescimento na fé. A fé é como uma semente que precisa ser regada e nutrida para crescer (cf. Mt., 13, 2-23), para ser limpa – para remover a erva má dos pecados – e para ser progressivamente purificada.

Como cresce em nós a graça divina? A nossa graça baptismal pode crescer e desenvolver-se de três maneiras: através dos Sacramentos, da prática das virtudes infundidas e da oração de petição. A graça cresce, em particular, através da prática – dos actos – das virtudes teologais e, portanto, da fé.

A graça – e a fé – crescem, em primeiro lugar, em nós, por meio dos Sacramentos. Estes são sinais sensíveis, instituídos por Jesus, para dar significado e produzir a graça santificante naqueles que os recebem dignamente. Esta graça sacramental tem “uma qualidade maravilhosamente filial” (Ch. Journet). A sua recepção digna ajuda-nos a tornar-nos mais plenamente – num processo sempre ascendente – filhos adoptivos de Deus. Os Sacramentos fortalecem a graça da fé.

Em segundo lugar, a graça cresce em nós através da prática das virtudes infundidas, em particular das virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. Para crescer na graça, praticamos actos mais intensos de virtude, de fé. Crescemos na fé praticando actos de fé – actos que são sobrenaturais, certos e livres.

Em terceiro lugar, a graça – e a fé – crescem através da Oração de Petição. A oração merece quando é um acto da virtude da Religião informada pela Caridade. Através da oração imperfeita de petição, podemos obter da misericórdia de Deus o aumento da fé. Palavras para reflectir: Peço-vos que não recebeis em vão a graça de Deus [a graça da fé] (cf. 2 Cor., 6, 1).

A teologia moral e espiritual fala de duas formas ou maneiras de aumentar a nossa fé: o conhecimento e o amor. O acto de fé provém do intelecto e da vontade. Da parte do intelecto, pode haver menor ou maior certeza e firmeza. No que diz respeito à vontade, menor ou maior prontidão, devoção e confiança. Pode-se aumentar a fé extensivamente (conhecendo concretamente mais verdades reveladas) e intensivamente, por meio de uma compreensão e amor mais profundos das verdades reveladas, da Palavra de Deus. Esta fé cresce em nós – como sublinha Alain-Marie de Lassus – alimentando a nossa fé com a Palavra de Deus (cf. Mt., 4, 4): a leitura da Sagrada Escritura, até que a palavra se torne – como para o profeta Jeremias – «a alegria e o deleite do meu coração» (Jr., 15, 16).

Uma ajuda incomparável para crescer na fé são dois dons do Espírito Santo, que vêm aperfeiçoar a virtude infundida da fé, a saber, o dom do entendimento e o dom do conhecimento.

O dom do conhecimento aperfeiçoa a virtude da fé, ensinando quem o possui a julgar correctamente a criação e todas as criaturas, vendo-as como pegadas e vestígios da criação de Deus – a sua beleza e bondade incomparáveis. Os santos, particularmente os místicos, ficam em êxtase contemplando – à semelhança de São João da Cruz – as montanhas, os vales, os rios…, a noite tranquila, o amanhecer (cf. “Cântico Espiritual”).

O dom do entendimento aperfeiçoa a virtude da fé, dando-lhe uma compreensão profunda, mais profunda e a mais profunda possível dos mistérios divinos revelados, tais como a habitação da Santíssima Trindade, a redenção de Cristo, a santidade de Maria, o valor infinito da Santa Missa. É o dom de uma vida contemplativa e mística (cf. Catecismo da Igreja Católica n.º 2014; VS n.º 18).

Mais concretamente, como é que a fé cresce em nós? A fé viva cresce em intensidade praticando a humildade contra o orgulho (orgulho intelectual) (cf. 1 Pe. 5, 5); fugindo das tentações contra a fé e evitando a leitura de livros perigosos; progredindo na vida espiritual e, portanto, rumo a uma união mais profunda de amor com Cristo; crescendo nas virtudes da oração, da compaixão, da simplicidade de vida, do carregar paciente da cruz, do perdão, da ternura para com os pobres; meditando sobre esta vida imperfeita e sofredora, que é como uma noite numa má hospedaria (cf. Santa Teresa de Jesus, “Caminho de Perfeição” n.º 40). Além disso, também é útil para aumentar a nossa fé com a graça de Deus: a leitura espiritual, incluindo os místicos, Tomás de Kempis, Francisco de Sales, etc.

Um último ponto. Hoje em dia pode-se falar de vários modelos do ideal cristão de vida, do testemunho da fé cristã, de viver e proclamar a nossa fé, da santidade e perfeição, da união amorosa com Deus, do seguimento de Cristo, do cumprimento da vontade de Deus, da oração contemplativa e unitiva, e da chama do amor. Dois caminhos notáveis de e para a felicidade: a escada ascendente da oração e/ou a escada ascendente do amor. A escada ascendente da oração: oração vocal, mais oração mental, mais oração contemplativa, mais oração de união amorosa com Deus e casamento espiritual. A escada ascendente do amor: amar os outros como se ama a si mesmo; amar os outros como se ama Cristo; amar os outros como Cristo os ama – incondicionalmente e universalmente.

Oração e amor: dois nomes diferentes no caminho para a santidade, a perfeição, a alegria – o céu. Essencialmente, apenas isto: o amor a Deus e o amor a todos os vizinhos é o mandamento e a proclamação radical da nossa fé no nosso mundo pós-moderno.

Pe. Fausto Gomez, OP

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