A heresia nestoriana e Celestino I
SÃO CELESTINO I
(10.IX.422 – 27.VII.432)
O 43.º Pontífice Romano, Celestino I, destaca-se pelo menos por duas coisas: convocou o Terceiro Concílio Ecuménico em Éfeso, que condenou os ensinamentos de Nestório, Patriarca de Constantinopla; e acredita-se que enviou São Patrício à Irlanda (cf. Caporilli, “Os Romanos Pontífices”).
Antes de enfrentar o Nestorianismo, o Papa Celestino trabalhou para eliminar os últimos vestígios do Pelagianismo. Também combateu uma versão diluída do mesmo, na forma do semipelagianismo. Ambos são heresias.
Qual é a diferença entre os dois?
1– Pecado original:
O Pelagianismo nega que o homem tenha sido afectado pelo pecado original, enquanto o semipelagianismo ensina que o homem foi, de facto, afectado pelo pecado original.
2– Livre arbítrio:
Consequentemente, o Pelagianismo acredita que o livre arbítrio do homem é suficiente para escolher o bem e obter a Salvação; o semipelagianismo, por outro lado, afirma que, devido ao efeito do pecado original, a vontade do homem foi enfraquecida.
3– Necessidade da graça:
Tanto os pelagianos como os semipelagianos acreditam que a graça não é necessária para uma pessoa dar os primeiros passos em direcção a Deus, embora a graça possa ajudar. No entanto, por acreditarem no pecado original, os semipelagianos admitem a necessidade da graça para crescer na vida espiritual.
E quanto ao Nestorianismo?
O nome vem de Nestório, que se tornou Patriarca de Constantinopla de 428 a 431. Contrariamente ao que a Igreja ensinava sobre Cristo – duas naturezas (humana e divina) unidas na única Pessoa do Verbo –, Nestório argumentava que Cristo não tinha apenas duas naturezas, mas também era duas Pessoas, uma humana e outra divina.
Este erro cristológico envolvia um erro mariológico. Uma vez que Nestório ensinava que existem duas pessoas – o Jesus divino e o Jesus humano –, Maria não é, portanto, “Theotokos” (“portadora de Deus”), porque é apenas mãe do Jesus humano; é apenas “Christotokos” (“portadora de Cristo”).
São Cirilo, Patriarca de Alexandria, opôs-se aos ensinamentos de Nestório e, assim, ambos os Patriarcas apelaram ao Papa para que se pronunciasse sobre o assunto. Este convocou então o Terceiro Concílio Ecuménico em Éfeso, que condenou o Nestorianismo e proclamou Maria como Mãe de Deus. Os fiéis regozijaram-se com a decisão do Concílio e caminharam em procissão pela cidade exclamando: «– Santa Maria, Mãe de Deus!».
Outro acto notável do Papa Celestino I foi o envio de São Patrício à Irlanda. “É provável, embora não certo, que São Celestino, pouco antes da sua morte, tenha pessoalmente encarregado São Patrício de pregar o Evangelho aos irlandeses. De qualquer forma, foi nessa época que Patrício começou o seu maravilhoso trabalho. São Próspero da Aquitânia diz que Celestino salvou a ilha romana para a fé e trouxe a luz de Cristo para a ilha ‘bárbara’” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 86).
Além das duas grandes realizações do Papa São Celestino I, podemos também mencionar o seu trabalho de restauração das igrejas que foram destruídas quando Alarico, o Godo, saqueou Roma, em particular a de Santa Maria in Trastevere, que é provavelmente o primeiro local oficial de culto cristão em Roma. Também estabeleceu o serviço diplomático papal e enviou núncios (embaixadores) para representar o Vaticano perante outros Governos em todo o mundo. Introduziu o salmo responsorial na missa papal em Roma.
Celestino foi sepultado no cemitério de Santa Priscila, na Via Salaria, mas o seu corpo, posteriormente transferido, repousa agora na Basílica de Santa Prassede.
Pe. José Mario Mandía