3. ENSINAMENTOS DA IGREJA SOBRE A FÉ
Os ensinamentos da Igreja, assim como os da Teologia, baseiam-se nos ensinamentos das Sagradas Escrituras, que são o ponto de referência e partida para estudar e explicar o conteúdo da nossa fé cristã. As fontes da revelação divina são as Sagradas Escrituras e a Tradição Cristã, os Padres da Igreja, Santo Agostinho, os sábios e os santos teólogos, São Tomás de Aquino e São Boaventura.
Os documentos do Concílio Vaticano II têm uma relevância especial para nós. No que diz respeito à Virtude da Fé: a Constituição sobre a Revelação Dei verbum e a Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen gentium. Além disso, há também a Carta Encíclica Fides et ratio (sobre a relação entre Fé e Razão) de São João Paulo II.
Nesta coluna, destacamos brevemente os ensinamentos básicos da Encíclica sobre a Fé, Lumen fidei (LF) e do Catecismo da Igreja Católica (CIC), que se inspiram nos ensinamentos essenciais dos documentos acima mencionados.
Citaremos frequentemente a Bíblia ao longo da nossa reflexão. Permitam-me apenas colocar aqui – como aperitivo – alguns textos bíblicos básicos sobre a Fé, a sua importância essencial e a nossa necessidade de fé.
Jesus diz a Pedro: “Rezei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (cf. Lc., 22, 32; Lumen fidei n.º 5).
Isabel, mãe de João Baptista, diz a Maria: «Bem-aventurada aquela que acreditou» (Lc., 1, 45).
À mulher curada da sua hemorragia, Jesus diz: “Filha, a tua fé salvou-te” (cf. Mc., 5, 27-43).
O pai de um menino “possesso por espíritos malignos” pediu a Jesus: “Por favor, se puderes, cura-o”, “Se puderes?”. Jesus respondeu: “Tudo é possível para quem acredita”. Então o pai retorquiu: “Eu creio; ajuda a minha incredulidade”. Os discípulos perguntaram a Jesus por que não conseguiam curá-lo. Jesus: “Este mal só pode sair através da oração” (cf. Mc., 9, 14-29).
Um texto básico sobre a Fé: Hebreus, capítulo 11, em particular 11, 1-11. Ele nos dá uma descrição maravilhosa da fé em Deus e em Jesus Cristo: A Fé é a certeza das coisas que se esperam, a convicção das coisas que não se vêem (cf. Hb., 11, 1); “sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem se aproxima dele deve acreditar que ele existe e que recompensa aqueles que o vêem” (cf. Hb., 11, 6).
A ENCÍCLICA LUMEN FIDEI (LUZ DA FÉ)
A Encíclica sobre a Fé, Lumen fidei (LF), foi publicada pelo Papa Francisco a 29 de Junho de 2013. O seu primeiro rascunho foi preparado pelo Papa Bento XVI. O Papa Francisco disse que basicamente o texto provém de ambos os Papas, de Bento XVI e dele próprio (cf. LF n.º 7). A Encíclica Papal sublinha a Fé como o acreditar em Jesus Cristo, o verdadeiro Sol que ilumina o mundo inteiro. A Fé é a luz essencial de outra vida, “pois uma vez que a chama da fé se apaga, todas as outras luzes começam a esmorecer” (cf. LF n.º 4). A Carta Encíclica está dividida em quatro capítulos.
Capítulo 1: Acreditámos em Deus (cf. 1 Jo., 4, 16)
Subtemas principais: Abraão, nosso pai na fé (cf. LF n.os 8-11); a fé de Israel (12-14); a plenitude da fé cristã (15-18); a salvação pela fé (129-21) e a forma eclesial da fé (22).
Capítulo 2: Se não acreditares, não compreenderás (cf. Is., 7, 9)
O segundo capítulo desenvolve os seguintes pontos: relação entre fé e verdade (23-25); conhecimento da verdade e amor (26-28); fé como audição e visão (29-31); diálogo entre fé e razão (32-34); fé e busca de Deus (35); e fé e teologia. Lemos: “A teologia é impossível sem fé”, é a fé que busca compreensão e “exige humildade para ser ‘tocada’ por Deus, e está a serviço da fé dos cristãos e do ensino da Igreja” (36).
Capítulo 3: Eu vos transmiti o que também recebi (cf. 1 Cor., 15, 3)
Temas principais: a Igreja, mãe da nossa fé (37-39); os sacramentos e a transmissão da fé (40-45): a começar pelo baptismo (41-43) e aprofundando pela Eucaristia, que é “um alimento precioso para a fé”, um encontro com Cristo (44); fé, oração e o Decálogo – como orientações concretas… – “para entrar em diálogo com Deus” (46) e, finalmente, a unidade e a integridade da fé (47-49): para isso, “o Senhor deu à sua Igreja o dom da sucessão apostólica” (49).
Capítulo 4: Deus preparou uma cidade para eles (cf. Hb., 11, 16)
O capítulo final da Encíclica, o capítulo 4, começa com uma reflexão sobre a fé e o bem comum (50-51): a fé é uma viagem até Deus e também um processo para construir um lar na terra onde as pessoas possam viver em paz e harmonia (50); a fé ligada ao amor está “ao serviço da justiça, da lei e da paz” (51). O capítulo 4 continua reflectindo sobre o segundo ponto, que é a fé e a família (52-53), e depois o seguinte: uma luz para a vida na sociedade (54-55), consolo e força em meio ao sofrimento (56-57). O capítulo final encerra com uma breve meditação sobre “Bem-aventurada aquela que acreditou” (Lc., 1, 45; cf. LF n.os 58-60).
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CIC, N.os 142-175, 1812-1816)
O ensinamento do CIC, que utiliza muito bem as fontes da revelação – Sagrada Escritura e Tradição – é extenso e claro. Concentra-se inicialmente nos primeiros artigos do Credo: um, «Eu creio» (n.os 142-165), e dois, «Nós cremos» (166-175).
Pela Fé, o homem submete completamente o seu intelecto e a sua vontade a Deus. Com todo o seu ser, o homem dá o seu consentimento a Deus, o revelador. A Sagrada Escritura chama a esta resposta humana a Deus, autor da revelação, “a obediência da fé” (143).
O CIC dá-nos dois exemplos principais de fé: Abraão, “Pai de todos os que crêem” (145-147) e Maria, a Mãe do Filho de Deus, que é chamada “bendita”, porque acreditou (148-149). Em seguida, o Catecismo fala daqueles em quem acreditamos, nomeadamente, Deus Pai, Jesus Cristo, o Filho de Deus, e o Espírito Santo. A Igreja nunca cessa de proclamar a sua fé num único Deus: Pai, Filho e Espírito Santo (150-152).
Considerando que aqui estamos a reflectir sobre a Fé como uma virtude teologal, passamos à terceira parte do Catecismo que fala das virtudes teologais (1812-1816).
De acordo com o CIC, a Fé é “a virtude teologal pela qual acreditamos em Deus e acreditamos em tudo o que Ele nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para nossa crença, porque Ele é a própria verdade”. Pela Fé, “o homem entrega-se livremente a Deus” (cf. Bento XVI, Dei verbum n.º 5). Por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus. O justo viverá pela Fé. A fé viva “opera pela caridade” (cf. CIC n.º 1814).
A Fé está ligada à esperança e à caridade. Separada destas duas irmãs, a Fé não é plena, nem torna a pessoa um membro vivo da Igreja, nem é salvadora (cf. 1815).
A verdadeira fé – fé esperançosa e amorosa – é testemunhada no amor (cf. Rm., 1, 17; Gl., 5, 6). O cristão fiel testemunha a sua fé em Jesus, o Filho de Deus e nosso Redentor, e transmite-a aos outros através das boas obras de caridade e das outras virtudes (cf. 1816). O cristão autêntico, portanto, compreende, vive e proclama a sua fé no mundo.
Permitam-me terminar com uma maravilhosa petição do sacerdote na Comunhão Eucarística, pouco antes de receber e partilhar o Pão Eucarístico, que é o Pão vivo da Vida: “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus vivo, que pela vontade do Pai e pela obra do Espírito Santo, com a tua morte deste vida ao mundo, liberta-me, por este teu santíssimo Corpo e Sangue, de todos os meus pecados e de todo o mal; mantém-me sempre fiel aos teus mandamentos e nunca me deixes separar-me de ti”. (Eu sempre acrescento mais dois “nunca”, para o caso de não ter ouvido da primeira vez!)
Amém.
Pe. Fausto Gomez, OP