A Mesa da Comunhão – Pão, abençoado, partido e distribuído
Num recanto tranquilo das colinas, longe do barulho das cidades e das distracções da vida quotidiana, milhares de pessoas reuniram-se em torno de um homem que falava não apenas com palavras, mas com uma compaixão que alimentava a alma. As pessoas chegaram com um vazio, algumas no corpo, outras no espírito, e encontraram na presença de Jesus mais do que jamais esperavam. Não foram recebidas com escassez, mas com abundância. Não com rejeição, mas com acolhimento. Esse momento, em que cinco pães e dois peixes se tornaram um banquete para milhares, somos convidados a vivê-lo novamente.
Corpus Christi não é apenas uma celebração do pão e do vinho. É uma proclamação de que Cristo não nos deixou com fome. Ele escolheu permanecer connosco, não apenas como uma memória ou símbolo, mas como presença real. Em cada Eucaristia, Deus coloca-se nas nossas mãos. Tal como aqueles que se sentaram na relva há muito tempo, também nós somos alimentados pela Sua presença e generosidade. O pão que recebemos não é apenas alimento para a viagem; é amor tornado tangível, vida divina e o Seu corpo. A alimentação dos cinco mil ensina-nos algo profundo sobre o coração de Deus. Ele vê a necessidade da multidão e a Sua resposta não é mandá-los embora, mas atraí-los. Os discípulos viram limites, mas Cristo viu uma oportunidade. Eles viram o que lhes faltava; Ele viu o que Deus poderia proporcionar. Muitas vezes na vida, chegamos a Deus com as mãos meio vazias. Chegamos trazendo apenas pequenos pedaços de fé, esperanças quebradas, tempo restante ou amor ferido. Mas Deus, na Sua infinita misericórdia, não rejeita pequenas ofertas. Ele as abençoa. Ele as parte e as multiplica.
É isso que celebramos hoje: que o mesmo Cristo que alimentou milhares num lugar remoto agora alimenta o mundo a partir de cada altar e de cada missa. Que o dom de si mesmo, o Seu corpo e o Seu sangue, é oferecido repetidamente a qualquer pessoa disposta a recebê-lo. Não porque somos dignos, mas porque Ele é generoso. Porque a Sua compaixão não tem limites e o Seu amor não tem fim. Mas esta dádiva não é para nós acumularmos. A Eucaristia nunca é uma refeição privada; é um banquete comunitário. Ela envia-nos para sermos partilhados com os outros. Quando recebemos Cristo, somos chamados a tornar-nos como Ele, a ser pão para os famintos, cura para os feridos, esperança para os desesperados. O milagre não termina quando a Missa termina. Começa aí.
O mundo ainda tem fome: de sentido, de paz, de justiça. Estamos rodeados por pessoas que, como aquela multidão nas colinas, anseiam por alguém que as note, alguém que se preocupe com elas. E nós, alimentados por Cristo, somos agora enviados para alimentar os outros. Nem sempre com comida, mas com presença. Com bondade. Com verdade. Com um amor que ecoa o próprio coração de Deus.
Jesus continua a dar-se como alimento e bebida aos Seus seguidores. Ele também continua a desafiar os Seus seguidores a tomarem posição com Ele, a aceitarem tudo o que Ele representa, a viverem de acordo com os Seus valores, a seguirem o Seu caminho, mesmo que isso signifique a cruz. Sempre que vamos à Missa e recebemos a Eucaristia, estamos a fazer uma série de declarações importantes. Estamos a reconhecer Jesus como o nosso pão de vida, como aquele que, sozinho, pode satisfazer as nossas fomes mais profundas. Estamos também a declarar que vamos unir o nosso destino ao Dele, por assim dizer, que vamos seguir o Seu caminho e ser-lhe fiéis toda a nossa vida, em resposta à Sua fidelidade para connosco. Nesse sentido, celebrar a Eucaristia não é algo que fazemos de ânimo leve. A nossa familiaridade com a Missa e a frequência com que a celebramos podem embotar os nossos sentidos para o pleno significado do que estamos a fazer. Cada vez que nos reunimos para a Eucaristia, encontramo-nos mais uma vez naquela sala superior com os primeiros discípulos, e a Última Ceia, com todo o seu significado, está novamente presente para nós.
Por isso, hoje, ao elevarmos os nossos olhos para o mistério da Eucaristia, lembremo-nos do que ele realmente significa: que Deus ainda está connosco, ainda nos alimenta, ainda nos convida a trazer o nosso pouco para que Ele possa fazer algo grandioso. Que na nossa fragilidade, Deus encontra o material para os milagres.
Pe. Vincent Alfred Asuncion