Olhando em Redor

Proteccionismo ou falta de vergonha?

O combate à especulação imobiliária continua sem ver a luz ao fundo do túnel e Chui Sai On tem a sua quota parte de culpa, por ser o líder do Governo de Macau e por ser o principal responsável pela implementação de políticas adequadas à realidade local.

Durante anos a fio o problema da especulação imobiliária andou camuflado, pois atingia maioritariamente os portugueses e os expatriados. Quando a população chinesa, em maioria neste pequeno território, também começou a queixar-se dos preços exorbitantes que lhe pediam pelo arrendamento de apartamentos, de lojas e de escritórios, o assunto ganhou as proporções que já todos conhecemos.

Face à gravidade da situação, o anterior Governo, também liderado por Chui Sai On, optou por aconselhar as pessoas a não investir no mercado imobiliário, através da compra de uma habitação, porque a bolha estaria perto de rebentar. De igual forma, limitou-se a encontrar alguns paliativos que pouco ajudaram a resolver as preocupações de muitos cidadãos relativamente à habitação.

O decréscimo das receitas do Jogo não tem acompanhado os preços que são praticados no mercado, porque se o número de casas vendidas caiu 55,6% em Janeiro, face ao período homólogo de 2014, já o preço médio por metro quadrado subiu 1,8%, para 85 mil 717 patacas.

Passa-se algo muito estranho. Se o principal motor da economia recua, por que razão o mercado imobiliário não segue o mesmo caminho? A resposta deve-se à especulação imobiliária que o Executivo teima em não olhar de frente, pois ao esperar que o dito mercado possa desenvolver-se de forma saudável está a dizer-nos que ainda acredita no Pai Natal, ou que temos de continuar a levar com areia nos olhos.

Curiosamente, a grande descida nas transacções de imóveis está a contribuir não só para as pequenas e médias agências imobiliárias fecharem portas, como também para as remunerações dos agentes imobiliários registarem uma acentuada queda. Na base desta realidade estão os preços demasiado altos que os proprietários estão a exigir pelo arrendamento dos espaços onde muitos desses negócios estão a operar.

Pode dizer-se que o feitiço se virou contra o feiticeiro, pois a especulação imobiliária também ganhou contornos preocupantes por causa daquelas agências imobiliárias que andavam sedentas de lucros a qualquer custo. A crise ainda não atingiu as agências mais poderosas, nem os empresários, ou oligarcas, com interesses no sector imobiliário. Por que será?

Importa dizer que mais habitação pública (social e económica) é, sem dúvida, uma boa medida, desde que o Governo não seja enganado por construtores sem escrúpulos e os contemplados não fiquem defraudados com o que lhes calhar em sorte. Num apartamento do Edifício Koi Nga, em Seac Pai Van, foram detectadas paredes preenchidas com sacos de plástico e papel. Será que os responsáveis por tal “obra de arte” vão sair impunes? Ou será que são todos bons amigos?

 

Eléctricos

Não há um dia que não depare com pessoas na rua com máscaras no rosto ou mãos à frente da boca e do nariz com o intuito de evitarem a inalação de gases dos tubos de escape dos veículos motorizados.

Macau tornou-se demasiadamente pequena para que tantos veículos transitem todos os dias nas estradas do território. O Metro Ligeiro continua a ser um sonho adiado e o povo desespera por melhor qualidade de vida. Numa altura em que o Governo da RAEM está apostado em banir totalmente o tabagismo dos casinos, há que tomar uma posição séria para com a população e apostar fortemente nas soluções não poluentes, como é o caso dos veículos eléctricos.

Estamos numa boa altura para fazê-lo, porque no tempo em que os cofres públicos gozam de perfeita saúde não há desculpa possível para não arrepiar caminho em direcção ao progresso. Há que reduzir a dependência que temos dos combustíveis fósseis, razão pela qual Macau pode tornar-se num grande exemplo para a Ásia, e – quiçá – para o mundo, quanto à massificação dos veículos eléctricos. Por muito que custe à Nam Kwong (e suas subsidiárias). Mas se for esperta, talvez até tenha aqui um grande nicho de mercado.

 

Futebolês

Numa altura em que o racismo está na berra nas ligas de futebol mais importantes do mundo, sendo disso exemplo a Premier League, cujos responsáveis averiguam à mínima suspeita os casos e não têm contemplações para com os prevaricadores, eis que a Liga de Elite é manchada com um episódio que em nada dignifica a tolerância que há muito é apregoada em Macau.

Pelo que pude ler em dois jornais de língua portuguesa, o jogador camaronês Max Wamba terá sido vítima de insultos racistas por parte de elementos do banco do Monte Carlo, tendo o atleta africano respondido às provocações com gesto obscenos. Pela foto de capa do Hoje Macau depreende-se quem são os envolvidos.

A Associação de Futebol de Macau entendeu – e bem – investigar o caso e ouvir todas as partes envolvidas: árbitros e responsáveis dos dois clubes. Pois bem, a AFM não pode deixar de aproveitar a situação para mostrar competência e autoridade, ao punir exemplarmente quem teve comportamentos racistas. Caso contrário, deixa a sensação de incompetência e de total desresponsabilização sobre um episódio que não deve acontecer em qualquer jogo de futebol. A não existir culpado(s), nem haver sanções desportivas, há uma questão a levantar: terá o Hoje Macau e o Ponto Final mentido? Não acredito!

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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