Patrono da Igreja ganhou espaço no coração dos fiéis
O Ano de São José, convocado pelo Papa Francisco, termina no próximo dia 8 de Dezembro, mas em Macau a missa de encerramento tem lugar já amanhã (sábado, 4 de Dezembro). A Eucaristia vai ser presidida por D. Stephen Lee, na igreja da Sé Catedral, às 16:00 horas. Neste âmbito, recuperamos algumas passagens de homilias, proferidas pelo padre brasileiro Bráulio D’Alessandro e divulgadas no YouTube, sobre São José.
O padre Bráulio D’Alessandro tem-se dedicado à formação dos fiéis e nos últimos doze meses concentrou as atenções em São José. Para tal, recorreu a um livro da autoria do padre Donald Collowey, intitulado “Consagração a São José – as Glórias do Nosso Pai Espiritual”. «São José é o maior Santo do Céu após a Virgem Maria. São José tem algo que Nossa Senhora não tem; ele é homem, varão de Deus, tem um coração de homem. São José quer-nos ajudar com um coração de pai», diz o padre Alessandro.
Segundo o sacerdote, José significa «um aumento», um «acréscimo»; e apesar de São José não ter sido pai biológico, nota-se nas Escrituras que a paternidade é algo mais espiritual que físico. São Josemaría Escrivá – recorda o padre Alessandro – escreveu a respeito da paternidade de São José: “Há qualquer coisa que não me agrada no título de pai adoptivo com que às vezes se designa São José. Porque tem o perigo de nos fazer pensar que as relações entre José e Jesus eram frias e externas. Certamente que a nossa fé nos diz que não era pai segundo a carne, mas não é essa a única paternidade”.
Neste contexto, o padre Alessandro realça que São José esteve sempre ao lado da Virgem Maria, «para que ela pudesse cumprir a sua missão. Tendo ajudado Nossa Senhora, auxiliando, zelando, protegendo, provendo a Virgem Maria, ele estava a auxiliar, a zelar, a proteger e a prover o Menino Jesus». E deixa uma pergunta: «A lógica é muito simples: se Jesus que é Deus, e Nossa Senhora que é Imaculada, precisaram tanto de São José, quem és tu, quem sou eu para não precisar?».
Esta necessidade de São José, explica o sacerdote, não é algo afectivo ou romântico, é real! É algo concreto. No Plano da Salvação, «entramos num tempo onde a Divina Providência começa a descortinar para nós quem é São José. A própria história mostra-nos isto».
De acordo com o padre Alessandro, até ao início do Século XIX não havia igrejas dedicadas a São José, e nem sequer referências dos Papas, quanto mais anos litúrgicos a ele dedicados… Mas, entretanto, tudo se alterou: «Deus quis dar-nos São José a partir do Século XIX, quando o Papa Pio IX o proclamou, por influência de um santo dominicano que escrevia cartas ao Papa, dizendo-lhe que o Espírito Santo pedia uma ênfase maior à vida e à missão de São José na Igreja. Assim, o Papa o proclamou Patrono, que significa defensor, aquele que rege, aquele que tutela, que protege e conduz. São José é o Patrono da Santa Igreja Católica. E ao dizer que é o Patrono da Igreja, diz-nos que é o nosso patrono, que cuida de nós, que zela e nos conduz. Pois ele fez tudo isto com Nossa Senhora e o Menino Jesus».
Jesus alegrou-se com São José; com ele trabalhou e aprendeu; repousou no seu coração tendo-o santificado, deixando-o mais puro que o dos Serafins e Querubins. Daí que o padre Alessandro cite São Francisco de Sales: «A pureza de São José supera a dos anjos da mais alta hierarquia». E acrescenta: «Aqui está algo tão belo, vindo de um coração de um santo (francês) que me é caríssimo, São Pedro Julião Eymard, fundador dos Adoradores do Santíssimo Sacramento, o qual dizia: “Quando Deus deseja elevar uma alma, Ele a une a São José, dando-lhe um forte amor por este bom santo”. Eymard intitulava-o de “verdadeiro guardião eucarístico”».
O padre Alessandro sublinha que os Santos Padres da Igreja chamam a São José “a sombra de Deus Pai”. «Quem não viu a Trindade na Sagrada Família, não viu nada. São José é um símbolo de Deus Pai; Nossa Senhora é um símbolo do Espírito Santo, da beleza de Deus, e Jesus o próprio Verbo Encarnado», refere, acentuando: «Deus é uma família, e Ele quer que nós também sejamos família. A Igreja é uma família; e como disse Nossa Senhora à Irmã Lúcia: “A última batalha seria contra a família, a batalha derradeira do demónio”, ou seja, contra a Igreja; a vossa casa, a minha casa. Quem defende uma família, não é o pai? São José tem hoje um papel muito especial».
O sacerdote recorda também Santa Teresa de Ávila. Lembra a sua doença misteriosa, e que certa vez – tendo ela rezado a São José – foi curada. Segundo ele, esta santa contraiu uma divida de amor por São José, tendo escrito no Livro da Vida: “Eu queria persuadir todas as pessoas a serem devotas deste glorioso São José, dada a grande experiência que tenho das graças que ele obtém de Deus. Não me recordo de lhe haver suplicado qualquer coisa que não tenha recebido. (…) Os perigos de que me livrou, perigos do corpo e da alma”.
E agora uma pequena história: «Um dia– começou por contar o padre Alessandro –Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a Santa Margarida de Cortona e disse-lhe: “Fica sabendo minha filha, que você daqui para a frente não passe um dia sem render graças ao meu pai José, porque ele me é caríssimo”».
Há um dado teológico interessante apontado por São João XXIII: «“Da mesma maneira que Deus havia constituído José, gerado do patriarca Jacó, superintendente de toda a terra do Egipto, para guardar o trigo para o povo; assim chegando à plenitude dos tempos, estando para enviar à Terra o Seu Filho Unigénito, Salvador do Mundo, escolheu um outro José, do qual o primeiro era figura. O fez senhor e príncipe da Sua casa e propriedade, e o elegeu guarda dos Seus tesouros mais preciosos”. José do Egipto guardava o trigo, e São José guardava o Pão Vivo descido do Céu», vinca o sacerdote.
A fim dos fiéis terem uma maior intimidade com São José, o padre Bráulio D’Alessandro deixa um conselho: «Preparemos a nossa consagração a São José, precisamos de nos entregar a São José como nós já nos entregamos a Nossa Senhora. Consagrar significa “tirar algo ou alguém do domínio do mal e colocar sobre o domínio do bem”, isto é que é a consagração. Todas as casas de família deviam ter uma imagem de São José».
Para além de São José ter hoje uma maior presença no seio das famílias, nas denominadas “igrejas domésticas”, o Papa Francisco tem vindo a colocar o nome de São José no cânone da Santa Missa, nas orações eucarísticas.
Actualmente, há alguns santuários dedicados ao Patrono da Igreja, o maior encontra-se em Montréal (Québec), no Canadá, fruto da devoção do Santo André Bessette e dos inúmeros milagres alcançados por sua intercepção.
São José, rogai por nós!
Miguel Augusto
LEGENDA:Imagem de São José, na igreja de São Domingos, em Macau
FOTO:Miguel Augusto