TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (53)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (53)

Deus criou o Mal?

Quando falamos sobre criação e bondade de Deus, inevitavelmente deparamo-nos com a problemática do mal. Por que existe o mal? De onde é que o mal veio ou de onde surgiu?

Antes do mais, o que significa a palavra “mal”? Muitas pessoas interpretam o mal como “uma coisa”. São Tomás dizia que “o mal é a ausência do bem que é natural e devido a qualquer coisa”. Não é a presença de uma “coisa” mas a ausência de algo (um bem). Além disso, o bem em falta é necessário (devido a uma coisa). Se não for necessário pela coisa, não é considerado um mal.

Deixem-me dar-vos um exemplo: o sentido da visão é um bem. É um bem que os homens e os animais precisam ter. Por outro lado, as plantas não precisam dele. Ser privado do sentido da visão (ser-se cego) é um mal para os animais e para o homem porque ver faz parte da sua natureza. Mas a cegueira não é considerada um mal nas plantas, porque na natureza das plantas não está o sentido da visão.

Se o mal é a ausência de algo, isso quer dizer que o mal não é real? Na verdade, não! Podemos ilustrá-lo com a seguinte analogia: se pegarmos numa folha de papel e fizermos um buraco no meio com uma tesoura, o que é que teremos? Um buraco. E há alguma coisa no buraco? Nada. Mas o buraco é real? É sim. Existe um buraco de verdade. O buraco é a ausência de algo que devia estar ali (neste caso, um bocado de papel). Este tipo de ausência é classificada de privação.

Em FILOSOFIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (31), vimos que o bem e o ser são na realidade o mesmo. Por conseguinte, a ausência do bem é a ausência do ser. Assim, quando Deus criou, Ele criou seres: Ele criou o bem, Ele não criou o mal.

Um corolário do exposto acima (o mal é a ausência do ser) é que o mal não pode existir por si próprio. Ele existe num ser que tem falta de alguma coisa. A doença existe num organismo que tem falta de saúde. A ignorância existe numa mente com falta de conhecimento. O erro existe numa pessoa que tem falta de informação. O ódio existe numa pessoa com falta de amor. A doença, a ignorância, o erro, o ódio não existem por si próprios.

Alguém poderá objectar: o que dizer das baratas? E dos tremores de terra? E do diabo? Estas perguntas requerem que distingamos entre mal físico e mal moral (pecado).

Com respeito ao mal físico, o Catecismo da Igreja Católica, no ponto número 302, dá a resposta à pergunta sobre o porquê do mal existir: “A criação tem a sua bondade e a sua perfeição próprias, mas não saiu totalmente acabada das mãos do Criador. Foi criada ‘em estado de caminho’ (in statu viae) para uma perfeição última ainda a atingir e a que Deus a destinou. Chamamos divina Providência às disposições pelas quais Deus conduz a sua criação em ordem a essa perfeição. «Deus guarda e governa, pela sua Providência, tudo quanto criou, atingindo com força dum extremo ao outro e dispondo tudo suavemente» (Sb., 8, 1). Porquê «(Heb., 4, 13)mesmo aquilo que depende da futura acção livre das criaturas»”.

Também é por isso que Deus encarregou os nossos primeiros pais, e a toda Humanidade, a tarefa de cuidar e guardar o jardim do Paraíso (Génesis 2:15). A nossa tarefa é torná-lo mais perfeito do que quando o encontrámos.

O ponto 310 do Catecismo da Igreja Católica repete a pergunta: “Mas, porque é que Deus não criou um mundo tão perfeito que nenhum mal pudesse existir nele? No seu poder infinito, Deus podia sempre ter criado um mundo melhor. No entanto, na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo ‘em estado de caminho’ para a perfeição última. Este devir implica, no desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de certos seres, o desaparecimento de outros; o mais perfeito, com o menos perfeito; as construções da natureza, com as suas destruições. Com o bem físico também existe, pois, o mal físico, enquanto a criação não tiver atingido a perfeição”.

Pe. José Mario Mandía

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