Igreja dos pobres em festa.
A paróquia de Nossa Senhora de Fátima assinalou no passado dia 13 de Outubro os cinquenta anos da sua criação, com missa e procissão, tendo reunido centenas de fiéis de várias gerações. Coincidentemente, no mesmo dia, celebraram-se os 101 anos da última aparição de Maria aos pastorinhos, durante a qual se apresentou como sendo a Senhora do Rosário.
Pelas 19 horas, a igreja apresentava-se repleta de fiéis, maioritariamente chineses, destacando-se entre os participantes as Irmãs da Caridade, congregação religiosa fundada por Santa Teresa de Calcutá. Na ala direita encontrava-se o Grupo dos Escoteiros de Macau, que acompanhou o coro durante a missa antecipada, que foi celebrada em Chinês.
No adro, o pároco, padre José Angel Hernandez, dá as últimas instruções aos acólitos e aos dez padres – alguns em representação de outras paróquias – que com ele vão concelebrar a missa.
Ao som do cântico de abertura, os acólitos e os sacerdotes entram na igreja e ocupam os seus lugares. As imagens de Nossa Senhora de Fátima, São José Operário e de Jesus Menino ladeiam o altar. Há também uma réplica da imagem de Nossa Senhora de Fátima colocada no andor, para a procissão que terá lugar após a Eucaristia.
Enquanto decorre a cerimónia religiosa, a Confraria de Nossa Senhora de Fátima (exclusivamente constituída por membros do sexo feminino) ultima os preparativos para a procissão. Aliás, irá caber às senhoras da Confraria, vestidas de branco, erguer em ombros o andor.
Minutos antes da missa terminar já alguns populares se juntam no largo da igreja. O silêncio que até então imperara é irrompido pela alegre e singular voz das crianças.
Para se chegar à igreja, construída em 1929 e reconstruída em 1967, há-que escalar 33 escadas (quinze no primeiro lanço e dezassete no segundo), o que obriga a cuidados redobrados na hora de fazer descer o andor.
Terminada a missa, a imagem é transportada até ao largo, onde a aguardam fiéis e curiosos, alguns com velas (a pilhas) na mão. Um grupo de paroquianos não poderá participar na procissão, uma vez que tem a tarefa de rezar o Rosário enquanto o andor percorre dois quarteirões da zona Norte. Para o efeito, foi previamente autorizada pelas autoridades a instalação de altifalantes nos postes de iluminação que circundam a igreja.
O cortejo cumpre o seguinte alinhamento: (1) voluntários com estandartes a anunciar a procissão, (2) crianças vestidas de branco, (3) alunos da Escola de Nossa Senhora de Fátima e do Colégio Diocesano de São José, (4) membros da Legião de Maria – Legio Mariae, (5) acólitos – o primeiro segura a Cruz e o segundo e terceiro uma vela cada, (6) senhoras da Confraria de Nossa Senhora de Fátima, (7) escoteiros, (8) senhoras da Confraria de Nossa Senhora de Fátima que erguem o andor, (9) sacerdotes e fiéis, cujo elevado número obriga algumas dezenas a sair da berma da estrada e a caminhar pelo passeio.
No final, o andor é conduzido até ao primeiro lanço de escadas que dá acesso à igreja, onde três crianças, em representação dos três pastorinhos, esperam a imagem. “Lúcia” segura o Terço, e “Jacinta” e “Francisco” uma vela cada. Passados alguns minutos, dá-se por concluída a oração do Rosário.
Em jeito de agradecimento pela presença de todos, o padre Angel dirige-se ao fiéis. Refere, sobretudo, a importância da paróquia de Nossa Senhora de Fátima para Macau e o significado de Maria nas nossas vidas.
É feito o Sinal da Cruz, termina a cerimónia e a imagem recolhe ao interior da igreja.
SERVIÇO E GRATIDÃO
Em declarações a’O CLARIM, o padre Angel começou por exteriorizar o que lhe ia na alma: «Sinto gratidão. A nossa paróquia celebra cinquenta anos, quase tantos quanto eu, que tenho 53. Na realidade, estes cinquenta anos têm a ver com a criação da paróquia, pois a comunidade começou aqui a reunir em 1929, isto é, há 89 anos. Uma pessoa com cinquenta anos já é madura. É o momento de encarar a vida de forma mais profunda. É quando agradecemos a Graça de ter recebido os dons de Deus. Eu próprio já vejo netos de fiéis que estão connosco desde que cheguei a Macau. É bonito ver o passado e poder olhar para o futuro».
Questionado se a paróquia que governa continua a ser, de facto, a paróquia dos pobres, preferiu enaltecer os esforços dos seus paroquianos: «Enquanto missionários servimos onde somos mais necessários. Estarmos na zona mais pobre da cidade é para nós uma bênção. “É dos pobres o Reino de Deus” (Lc., 6, 20). Encorajamos as pessoas a se voluntariarem para trabalhos de limpeza e construção – um sector de actividade muito dispendioso em Macau – pois muitas vezes não temos dinheiro suficiente para obras de reparação ou de remodelação. Não pedimos subsídios ao Governo e à Diocese. Fazemos nós próprios. Quando os fiéis têm tempo, depois do trabalho, vêm ajudar na paróquia. Ajudamo-nos mutuamente. Também há quem seja abastado e partilhe os seus frutos com a paróquia e os fiéis».
Pelo contrário, já foi bastante mais directo ao falar dos muitos católicos de Zhuhai que atravessam as Portas do Cerco para assistirem à missa. «Temos a bênção de estarmos perto de Zhuhai, onde não há igrejas, pois os seus residentes não gozam do privilégio da liberdade. Há muitos católicos que fazem um esforço para estarem presentes nas festividades mais importantes da paróquia e do calendário litúrgico», disse, acrescentando que «outro dado importante é a multiculturalidade da paróquia. Como qualquer igreja recebemos todas as nacionalidades. Temos fiéis vietnamitas, indonésios, filipinos…».
PRÓXIMAS ACTIVIDADES
A paróquia de Nossa Senhora de Fátima tem agendadas algumas actividades para os próximos dias, a realizar nas suas instalações. Já este Domingo, 21 de Outubro, um convidado irá proferir uma palestra dedicada à oração; no dia 31 – último dia do mês – é adorado o Santíssimo, entre as 8 horas da manhã até à meia-noite; a 28 de Outubro tem lugar um concerto pelo 50º aniversário da paróquia, entre as 17 e as 19 horas; e, por último, realizar-se-á uma peregrinação ao sul de Taiwan no dia 2 de Novembro.
N.d.R. – O CLARIM agradece o empenho dos agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública que tudo fizeram para que a procissão de Nossa Senhora de Fátima decorresse de forma ordeira.
José Miguel Encarnação
jme888@gmail.com