Embaixador da Malásia profere Lectio Magistralis no Vaticano
Hendy Assan, embaixador da Malásia (país maioritariamente muçulmano) junto da Santa Sé, proferiu uma Lectio Magistralis na Pontifícia Universidade Urbaniana sobre as características culturais, sociais e geopolíticas da região do Sudeste Asiático. Na plateia do Auditório São João Paulo II da vetusta instituição estiveram estudantes, professores e outros representantes do Corpo Diplomático residente no Vaticano.
No período dedicado à apresentação do embaixador Hendy Assan e da Lectio Magistralis que iria ser proferida pouco depois, o professor Vincenzo Buonomo, delegado pontifício e reitor da Pontifícia Universidade Urbaniana (PUU), sublinhou que a dissertação de Hendy Assan inaugurou uma série de «encontros próximos» entre a comunidade académica multiétnica e multicultural da PUU e os representantes do corpo diplomático, sobre questões de importância cultural, social e geopolítica. Os referidos encontros foram promovidos pelo Centro de Estudos Chineses e Asiáticos da PUU, sob a direcção do professor Alessandro Dell’Orto.
“ASEAN transregional: Sustentabilidade, Inclusão e o Papel do Diálogo Intercultural na Cooperação Regional e Global” foi título atribuído pelo embaixador à Lectio. Esta aborda o tema central do crescente papel desempenhado pela ASEAN, a Associação das Nações do Sudeste Asiático cuja presidência rotativa foi este ano exercida pela Malásia e que agora se aproxima do fim. Fundada em 1967, na cidade de Banguecoque, por cinco países (Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura e Tailândia), a ASEAN conta actualmente com onze Estados-membros (Timor-Leste, o membro mais recente, aderiu a 28 de Outubro deste ano).
«O Sudeste Asiático é um complexo mosaico de cores e nuances», considerou o cardeal D. Luis Antonio Tagle, Grande Chanceler da Pontifícia Universidade Urbaniana, para quem a ASEAN «pode contribuir para dar expressão concreta às aspirações de paz na região e em todo o mundo, unindo harmoniosamente as suas diversidades, através de um diálogo estruturado».
O embaixador Hendy Assan frisou mesmo que se trata de «uma história de sucesso do Sul Global» O diplomata malaio descreveu a ASEAN como sendo «um dos agrupamentos regionais mais dinâmicos do mundo», cujo desempenho nas últimas décadas foi fundamental para promover «condições económicas que tiraram milhões de pessoas da pobreza». Segundo ele, a ASEAN constitui uma «ponte indispensável entre o Indo-Pacífico e a Europa, entre a Ásia e o Médio Oriente e, cada vez mais, entre o Sul Global e as estruturas de governação global».
Aos longo do tempo tem-se vindo a desenvolver uma densa rede de planos estratégicos, projectos, acordos-quadro e parcerias, abrangendo diversos actores económicos e geopolíticos. Hendy Assan citou, entre outros exemplos, a Área de Livre Comércio ASEAN-Austrália-Nova Zelândia, as relações estabelecidas com o Canadá e a Índia, e a futura expansão da área de livre comércio com a China (ACFTA 3.0). Enumerou ainda os acordos assinados ou em fase de conclusão, como o Acordo-Quadro para a Economia Digital e o Roteiro para as Normas do Comércio Digital, bem como as iniciativas na área da sustentabilidade ambiental que estão alinhadas «com a Agenda 2030 das Nações Unidas».
O diplomata explicou que «a integração económica continua a ser a espinha dorsal do processo de construção da comunidade da ASEAN», e que o crescimento de 4,8 por cento registado em 2024 demonstra a sua eficácia, mesmo em tempos marcados pela instabilidade e incerteza. Destacou também a agenda de desenvolvimento humano da ASEAN: Migração, Protecção Social, Ensino Superior e Mobilidade Laboral. Neste âmbito, salientou o apoio da ASEAN às operações humanitárias em Myanmar, país afectado por sucessivos conflitos internos, e a figura de “plataforma neutra para o diálogo” numa altura em que retomou o conflito militar entre o Camboja e a Tailândia, ambos membros da ASEAN. Para a resolução deste tipo de conflitos há instrumentos pensados para o efeito, como o Tratado de Amizade e Cooperação entre os Estados-membros e o Tratado da Zona Livre de Armas Nucleares do Sudeste Asiático. A sustentabilidade e a inclusão são «prioridades» da Presidência da Malásia.
A Presidência malaia da ASEAN – como o embaixador documentou na sua apresentação – focou-se no compromisso de reduzir as disparidades de desenvolvimento e apoiar a inclusão e a sustentabilidade. Na região, as iniciativas relacionadas com a transição verde, o desenvolvimento da economia dos recursos marinhos e a segurança alimentar e hídrica foram reforçadas. «A ASEAN – enfatizou Hendy Assan – não pode reivindicar progressos se os seus benefícios não chegarem às comunidades rurais, aos trabalhadores migrantes, às pessoas com deficiência, às mulheres e raparigas, aos idosos e aos grupos vulneráveis». Esta preocupação permite também o reconhecimento e a valorização do «papel transformador do diálogo intercultural e inter-religioso na construção de um futuro pacífico, inclusivo e sustentável», concluiu.
Joaquim Magalhães de Castro
LEGENDA: O embaixador Hendy Assan com o reitor Vincenzo Buonomo

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