COVID-19 NÃO AFECTOU A ACTIVIDADE DO ESTABELECIMENTO DE ENSINO GERIDO PELOS PADRES DOMINICANOS
Em 2012, muito antes da corrente pandemia se prefigurar sequer como uma possibilidade, a Escola São Paulo fez algo que nenhum outro estabelecimento de ensino em Macau havia ousado fazer até então: abriu mão de cadernos e de manuais, livrou-se do giz e da ardósia, e adoptou um sistema educativo que recorre em exclusivo às novas tecnologias da informação. A aposta fez a diferença quando o Covid-19 paralisou Macau, em Fevereiro último.
Oito anos depois, a Escola São Paulo continua a ser caso único no território. Desde então, os computadores e os “tablets” têm vindo a ganhar terreno nas escolas locais, mas as salas de aulas continuam, em grande medida, estruturadas com base num espaço e em soluções analógicas. Quando a crise do novo coronavírus eclodiu, em Janeiro deste ano, nenhuma estava tão bem preparada para responder à incerteza que se apoderou de professores e alunos como o estabelecimento de ensino administrado pela Ordem Dominicana. A razão, explica Philip Lai, é simples. Para os estudantes e docentes da Escola São Paulo, conceitos como “ensino electrónico” ou “salas de aula digitais” são, desde 2012, o pão nosso de cada dia. «Os alunos que estão no 12.º ano e que estão connosco desde a quarta classe têm, por esta altura, oito anos de experiência – seja na escola, seja em casa – com o método de ensino digital que adoptámos. Quando a pandemia obrigou à adopção de um plano de contingência, a nossa escola não teve qualquer problema. Não tiveram os professores e não tiveram os alunos», disse, em declarações a’O CLARIM, o responsável pelo Departamento de Desenvolvimento Profissional e Curricular da Escola São Paulo.
«Algumas escolas não dispunham de qualquer tipo de material electrónico. No início da pandemia, quando as aulas foram suspensas, esses estabelecimentos de ensino tiveram de recolher todo o tipo de materiais digitais e de os disponibilizar através das plataformas que criaram. Nós, por outro lado, já tínhamos este tipo de materiais pedagógicos, já tínhamos a plataforma e tanto os nossos professores, como os nossos alunos já estavam habituados às práticas associadas ao ensino à distância. Partimos em posição privilegiada, sem qualquer dúvida», acrescentou.
A vantagem decorrente de oito anos de experiência acumulada com métodos e ambientes de ensino digitais facilitou a adaptação aos parâmetros definidos pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) no auge da pandemia, mas não poupou a Escola São Paulo a problemas e dores de cabeça. Se para os alunos e professores, o recurso ao computador como instrumento de trabalho foi fácil, para os pais e encarregados de educação a presença de filhos e educandos em casa foi um desafio em mais do que um sentido. «Quando a DSEJ decidiu que as escolas iam fechar e que os alunos iam ter aulas em casa, através de videoconferência, recebemos algumas queixas da parte dos pais. Alguns queixavam-se de que os filhos tinham demasiadas aulas e demasiados trabalhos de casa. Outros queixavam-se porque achavam que não chegava. Tivemos de lhes explicar que era necessário um equilíbrio e que os alunos não estavam obrigados a fazer mais do que aquilo que era pedido pelos Serviços de Educação», referiu Lai. «Do ponto de vista dos pais, o mais difícil é que a grande maioria deles estava a trabalhar e, em muitos casos, as próprias crianças tiveram que tomar conta dos irmãos mais novos. Para muitas famílias foi um problema».
DIGITAL, SIM, MAS NA SALA DE AULA
A experiência, segundo Philip Lai, teve também o ónus de colocar a nu algumas das fragilidades dos sistemas de ensino à distância. O responsável considera que o futuro da Educação passa, inevitavelmente, pela adopção de métodos e ambientes digitais, desde que devidamente enquadrados na dinâmica da escola, tanto como organização, quanto como espaço físico de partilha e entreajuda: «Pessoalmente, continuo a achar que o método mais eficaz é o das aulas presenciais, num espaço em que professores e alunos possam interagir face-a-face. O ensino à distância só é uma solução se o participante for activo, tiver força de vontade, entusiasmo e motivação. Se for esse o caso, não me parece que haja problema. Mas, na verdade, o que vimos com alguns dos nossos alunos do Secundário é que eles não estavam de todo motivados e pelos resultados que obtiveram a experiência que retivemos com eles não foi das melhores».
«A interacção face-a-face– continuou Philip Lai –é muito melhor do que ver um logótipo ou um ícone num ecrã do computador. Através de um ecrã é impossível perceber se determinado aluno, se determinada pessoa, está ou não a participar. Por isso, para mim, as aulas têm de envolver interacção face-a-face. É a minha posição a cem por cento».
Por defender que o ensino à distância, ainda que suportado por métodos e plataformas digitais, ainda não se equipara ao trabalho desenvolvido dentro de uma sala de aula, o responsável espera que o ano lectivo que se iniciou há pouco mais de duas semanas decorra sem interrupções. Está pois convicto que as escolas do território estão agora capacitadas para fazer frente a um eventual ressurgimento da pandemia do Covid-19. A adopção generalizada de métodos, abordagens e materiais digitais poderá mesmo ser o grande legado da pandemia no que à Educação diz respeito. «A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude investiu muito dinheiro para dotar as escolas com plataformas digitais. Algumas escolas não tinham qualquer experiência com as novas tecnologias e foi muito difícil para elas construir este tipo de plataformas direccionadas para o ensino à distância e para a aprendizagem digital. Estas escolas investiram muito dinheiro e eu sei que, desde que o novo ano lectivo começou no início de Setembro, estão totalmente capacitadas para recorrer a essas plataformas caso o número de casos de Covid-19 volte a aumentar. As escolas estão preparadas para esta possibilidade. Estou certo que no futuro é assim que se vai ensinar», concluiu Philip Lai.
Marco Carvalho