CHEIAS DEVASTARAM O PAQUISTÃO

CHEIAS DEVASTARAM O PAQUISTÃO

O precioso contributo da Cáritas

Nenhuma das províncias do Paquistão foi poupada pelas fortes chuvas e inundações dos últimos meses. Pode dizer-se que hoje, com todo o País inundado, há aproximadamente quatro milhões de deslocados em extrema situação precária. Além disso, são graves os prejuízos para a economia das famílias e do País: por exemplo, as cheias devastaram a província do Punjab, o coração agrícola do Paquistão, destruindo mais de sessenta por cento das plantações de arroz, cana-de-açúcar e algodão. Mais de novecentas pessoas perderam a vida, milhares estão em abrigos de emergência e muitas outras perderam definitivamente as suas habitações e precisam urgentemente de um qualquer tipo de apoio, por mais básico que seja. Como sempre, em situações destas, os idosos, as crianças e os doentes são os mais vulneráveis. O sofrimento é diário e geral. Há famílias inteiras a viverem dentro de água há já várias semanas, enfrentando agora a fome e o risco de doenças e epidemias.

Amjad Gulzar, católico e director executivo da Cáritas do Paquistão – agência de assistência da Igreja Católica que disponibilizou todos os recursos humanos e materiais à sua disposição para ajudar as pessoas deslocadas e necessitadas – lança o alerta: «Na Cáritas, a nossa prioridade é salvar vidas. Estamos a distribuir refeições prontas a consumir e água potável às pessoas nas zonas inundadas. Nos campos de refugiados, especialmente na província de Punjab, estamos a distribuir alimentos para cozinhar, tendas e redes mosquiteiras».

As vítimas das cheias estão em choque: o pânico e o sofrimento espalham-se entre os sobreviventes, que ainda se lembram de 2022 e estão bastante traumatizados pelo desastre natural em curso.

Confrontados com milhares de pessoas em desespero, os voluntários da Cáritas transmitem-lhes uma única mensagem, sem quaisquer discriminações: «Nós preocupamo-nos convosco, vós sois importantes para nós». E esta postura positiva fornece aos sinistrados não só apoio material, mas também psicológico e moral.

A comunidade paroquial da igreja de Nossa Senhora Rainha dos Anjos em Bhai Pheru, a Sul de Lahore, mantém estreita colaboração com a Cáritas da arquidiocese de Lahore, acolhendo refugiados e distribuindo ajuda humanitária. «É um pequeno gesto de esperança», afirma o padre Qaiser Feroz, OFM Cap, frade capuchinho e pároco em Bhai Pheru, acrescentando: «Consolamos e encorajamos as vítimas desta catástrofe natural, dizendo-lhes que elas não estão sozinhas neste momento difícil; o bispo, os padres, os catequistas e todos os fiéis estão e estarão sempre ao seu lado».

Mais de três mil e 200 aldeias foram afectadas pelas cheias em Punjab, e um milhão de pessoas foram resgatadas e evacuadas graças aos esforços do Governo e de organizações humanitárias privadas.

O transbordo do rio Ravi causou danos gravíssimos, tendo inundado culturas e casas, o que fez desaparecer as principais fontes de subsistência diária de todos os residentes da região: a agricultura e a pecuária.

Baba Jaila, da aldeia de Gohar Kookan, nas margens do rio Ravi, relata: «As nossas casas e os nossos campos estão inundados; não temos onde morar; algumas pessoas tiveram mais sorte pois foram acolhidas por familiares». Salamat Masih, um cristão que também está entre as vítimas das cheias do rio Ravi, deixa igualmente o seu testemunho pessoal: «Precisamos urgentemente não só de alimentos diários, mas também de um lar para viver uma vida digna e segura. Pedimos às autoridades que nos ajudem a sair de Gohar Kookan. Queremos evitar o risco de sermos atingidos pelas cheias todos os anos. Ficar sem abrigo todos os anos é uma experiência terrível».

Entretanto, a Autoridade Nacional de Gestão de Desastres do Paquistão mantém elevado o nível de alerta de inundações nas províncias de Punjab oriental e de Khyber Pakhtunkhwa noroeste, afirmando que as áreas residenciais da cidade de Peshawar também correm o risco de inundações.

Entretanto, o Projecto de Desenvolvimento Urbano da Orla do Rio Ravi, lançado pelo Governo paquistanês em Agosto de 2020, para lidar com os inúmeros problemas da cidade de Lahore, incluindo poluição, saneamento, abastecimento de água e escassez de habitação, está no centro de um debate público. Segundo os analistas, o Executivo ignorou comentários negativos que classificaram o projecto como “ecologicamente insustentável”, alegando que a construção de barragens no rio e a substituição de terrenos agrícolas por áreas residenciais elevariam os níveis das águas e provocariam inundações. Actualmente, a maior parte da área designada para o projecto está inundada, assim como partes da própria cidade de Lahore.

O debate público também gira em torno da urgência de tomar medidas preventivas no futuro para proteger os grupos humanos e as áreas mais vulneráveis. Sem medidas eficazes de protecção ambiental que possam mitigar os efeitos das alterações climáticas, as comunidades mais vulneráveis do Paquistão continuarão a enfrentar o risco de deslocação e perda dos seus bens.

Joaquim Magalhães de Castro

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