FRANCISCANAS MISSIONÁRIAS DE MARIA

FRANCISCANAS MISSIONÁRIAS DE MARIA

Farol de esperança e caridade

A história das Franciscanas Missionárias de Maria (FMM) é uma narrativa profundamente marcada pelo carisma missionário, pela coragem e pela capacidade invulgar de adaptação aos tempos e às necessidades do mundo. É uma história que começa com uma mulher de visão excepcional e que rapidamente se estendeu aos quatro cantos do globo, incluindo o Extremo Oriente. A Congregação foi fundada a 6 de Janeiro de 1877, na Índia. Todavia, tal como outras congregações, tem sede em Roma. Foi fundada com a denominação de “Missionárias de Maria”, mas a 15 de Agosto de 1885 foi renomeada para a designação actual: Franciscanas Missionárias de Maria.

A Congregação foi fundada no ano de 1877, em Ootacamund (Estado de Tamil Nadu), no Sul da Índia, por Helena Maria de Chappotin de Neuville (1839-1904), religiosa francesa que ficaria mais conhecida pelo nome religioso, Maria da Paixão. Foi, desde 1864, religiosa na Sociedade das Irmãs de Maria Reparadora, congregação feminina fundada em França (1857) pela Irmã Maria de Jesus. Após uma crise interna nesta congregação, a Irmã Maria da Paixão e um grupo de companheiras sentiram o chamamento para fundar uma nova obra, com um carisma mais específico.

Em 1880, a Irmã teve que ir a Roma para resolver questões relativas à nova fundação, viagem que repetiu em 1882. Aqui dá-se o ponto de viragem na identidade das missionárias. Em primeiro lugar, foi-lhes concedida permissão para abrir uma casa em Roma. Depois, a Irmã Maria contactou frei Bernardino de Portogruaro, Ministro-geral da Ordem dos Frades Menores (os Franciscanos). Sob a sua orientação, a 4 de Outubro desse ano (dia de São Francisco de Assis), foi admitida na Ordem Terceira de São Francisco, o que representou um regresso à vocação franciscana para a qual se sentira chamada quando fôra candidata num mosteiro das Irmãs Clarissas no início da sua vida. A nova congregação adoptou formalmente a Regra da Terceira Ordem Regular Franciscana, a 15 de Agosto de 1885. O Instituto das Franciscanas Missionárias de Maria está consagrado à Missão Universal e à Família Franciscana.

A espiritualidade da nova congregação alimenta-se do espírito franciscano (pobreza, alegria, simplicidade, amor à criação) e do zelo missionário da Sociedade para as Missões Estrangeiras de Paris, à qual esteve ligada a Irmã Maria da Paixão no início da vida consagrada. A Congregação nasceu com um propósito universal: anunciar o Evangelho a todos os povos, especialmente aos mais pobres e abandonados, por todos os meios de caridade. A educação, a saúde e o serviço aos mais vulneráveis foram eleitos como os meios privilegiados para esta missão.

O crescimento foi rápido. Apenas seis anos após a fundação, as irmãs já estavam presentes em quatro continentes. A China, com a sua imensa população e revelando-se um enorme desafio em termos missionário, foi um destino natural para as Franciscanas Missionárias de Maria. A rota para a China continental passou, como para muitos outros missionários, por Macau. A primeira chegada ao território deu-se em 1899, a 14 de Janeiro de 1899. Naquele tempo, o enclave era um local relativamente seguro e um ponto de entrada crucial para a Grande China.

Em Macau, as irmãs dedicaram-se imediatamente ao trabalho apostólico. Fundaram uma escola, um dispensário para atender os doentes pobres e um orfanato. Esta presença tornou-se rapidamente uma pedra angular no apoio social e educativo à comunidade local, tanto chinesa como portuguesa. Macau serviu como casa de formação e acolhimento para as irmãs que se preparavam para ir ao interior da China ou que de lá regressavam, doentes ou para descansar. A partir de Macau, lançaram-se a várias missões no Sul da China, notavelmente na vizinha Guangdong e em outras províncias.

Um dos capítulos mais dramáticos e gloriosos da história das Franciscanas Missionárias de Maria na China ocorreu durante a Revolta dos Boxers, em 1900. Este movimento visou todos os estrangeiros e cristãos, pois encarava-os como uma ameaça ao Império Chinês. A 9 de Julho de 1900, em Taiyuan (Província de Shanxi), sete Franciscanas Missionárias de Maria, que integravam um grupo de missionários liderado pelo bispo D. Gregorio Grassi, foram presas e, no dia seguinte, decapitadas pelos boxers. Morreram devido à sua fé e missão. Estas sete irmãs, juntamente com outros mártires de Taiyuan, foram canonizadas pelo Papa João Paulo II, em 1 de Outubro de 2000. São veneradas como as Santas Mártires de Taiyuan e um símbolo eterno da coragem e do amor radical a Cristo que marca o carisma das FMM. A respectiva Festa Litúrgica celebra-se a 9 de Julho.

Em 1903 estabeleceram-se novamente em Macau, até aos dias de hoje, cumprindo o seu escopo de missão nas áreas da educação e do serviço de creches.

Macau, e também Hong Kong, serão os refúgios chineses das Franciscanas Missionárias de Maria, face às vicissitudes políticas e sociais do Século XX. As obras em Macau (escolas, clínicas, apoio social) continuam a ser um farol de esperança e caridade, e também um exemplo de abertura à cultura local e às vocações chinesas. Um aspecto crucial do trabalho foi a aposta na formação de vocações locais. Com o tempo, surgiram as primeiras irmãs chinesas, que foram fundamentais para garantir a continuidade do carisma na região, mesmo após a expulsão das missionárias estrangeiras.

As irmãs mantêm o mesmo espírito de São Francisco e da fundadora, Maria da Paixão, adaptando-o às novas necessidades do mundo: justiça social, paz, diálogo inter-religioso, ecologia integral e atenção aos imigrantes e aos refugiados. A história das Franciscanas Missionárias de Maria é um testemunho eloquente de como a fé, a coragem e o amor pelos mais pobres podem superar fronteiras, perseguições e desafios políticos. Desde a fundação na Índia, passando pelo martírio na China, pelo refúgio e pelo trabalho perseverante em Macau, até à presença a nível global, as FMM mantêm viva a chama de uma missão franciscana ao serviço do mundo. A sua história em Macau e na China é um capítulo indelével desta epopeia de fé e serviço.

Vítor Teixeira

Universidade Fernando Pessoa

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