Crença à medida
A especialista em assuntos da Tailândia e do Myanmar, Indre Balcaite, disse ontem a’O CLARIM que o budismo theravada e o catolicismo têm algumas semelhanças na forma como os respectivos fiéis seguem as suas crenças.
Embora o ramo do budismo na Tailândia e no Myanmar seja o theravada, ao estudar o grupo de migrantes Phlong que trabalham na região da Grande Banguecoque, Indre Balcaite verificou que «não a praticam da mesma forma, nem se integram na estrutura religiosa tailandesa», pois «não frequentam os templos tailandeses e querem ainda manter os laços [da sua comunidade]».
«As facções das crenças e a adoração espiritual têm um peso importante» no distanciamento entre os migrantes do Myanmar e os budistas tailandeses, porque ambos «não “vão” só pelo que encontram nas escrituras», acrescentou.
Nesse sentido, referiu que a forma como os católicos praticam a fé em muitos países onde o seu ramo do cristianismo é maioritário «não está necessariamente de acordo com as escrituras bíblicas», porque «os sacerdotes até podem dizer que não é bom acreditar nos horóscopos, mas as pessoas ainda seguem as previsões, procuram os dias mais auspiciosos para concretizarem certos desejos e usam os signos para explicar determinados acontecimentos das suas vidas».
Para Indre Balcaite, «são práticas não normativas, que nem deviam fazer parte dos católicos, mas são importantes para a vida das pessoas».
De igual forma, salientou que há católicos a acreditar na reencarnação, que é contrária aos ensinamentos cristãos, mas aceite pelo budismo. «As pessoas combinam as crenças, o que parece ser convenientes para elas», justificou, à margem do Fórum do Instituto Ricci, na qualidade de oradora do tema “Uma aldeia sem fronteiras: ligação/laços espirituais delimitadores entre os migrantes Phlong na Grande Banguecoque”.
Futuro
Ao falar da escatologia (o fim dos tempos), Indre Balcaite frisou que é difícil explicar até que ponto a chegada dos próximo Buda, por nome Maitreya, associada ao início de uma nova era, na qual o mundo se transformará num paraíso, estará de alguma forma relacionada com o Dia do Juízo Final, conforme várias passagens do Novo Testamento.
«É o mesmo que falarmos de diferenças culturais. Serão todas as pessoas iguais? O que define a essência humana é a necessidade pelo sobrenatural, seja de que forma o descrevermos», vincou.
Quando ao facto de caracterizar o budismo como uma religião ou como um estado de espírito, explicou que «estudando as escrituras budistas constata-se que se trata de uma religião». Contudo, «embora não haja um Deus, os budistas têm um desejo imediato de resolver os seus problemas através de uma autoridade moral que os faz seguir monges com poderes fora do normal».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA