Lourdes Santos

Paixão por Lisboa

Nascida na Freguesia da Sé, viveu numa moradia na Rua de São Roque e, alguns anos mais tarde, num prédio da Rua da Sé. Aliás, esta foi a sua última residência até deixar Macau para rumar a Portugal na juventude. Lourdes Santos iniciou os estudos no Jardim de Infância D. José da Costa Nunes e, aos cinco anos, ingressou na Escola Primária Oficial Pedro Nolasco da Silva. Já o Ensino Secundário, à semelhança de quase todos os da sua geração, foi completado no Liceu Nacional Infante D. Henrique, antes de fazer as malas para o Ensino Superior em Lisboa.

Nos anos da meninice, Lourdes apanhou o gosto pela leitura, sendo uma presença assídua na Biblioteca Central, ainda quando esta funcionava no edifício do Leal Senado. Acredita que foi aí que apurou «o gosto pela cultura portuguesa e europeia», que a fez querer conhecer melhor Portugal e a Europa. Mas desenganem-se se pensam que apenas os livros atraíam esta jovem macaense. O desporto, especialmente a natação e o ténis de mesa, ocupavam grande parte dos seus tempos livres. Foi sempre uma grande paixão que ainda hoje vai alimentando, sempre que possível, em Lisboa e noutros locais.

Claro está que uma juventude passada em Macau, nos idos anos 60, também não passava sem umas idas à praia, alguns piqueniques e temporadas na Colónia de Férias de Coloane. Havia ainda outros interesses, pois já nessa altura «os rapazes gostavam de serenar as raparigas, com guitarra e tudo». Sempre que podia, Lourdes ia ao cinema com os amigos. Filmes americanos e de Hong Kong marcavam as suas preferências nas salas macaenses, fossem eles em Inglês ou Cantonense. Assim como as séries na televisão que iam sendo produzidas, maioritariamente, em Hong Kong.

Uma infância e juventude vividas num tempo «em que se podia brincar na rua e andar sem grandes preocupações pelo território. Todos se conheciam uns aos outros e quase não havia segredos». Os seus amigos de pequena, na maioria macaenses, sempre a desafiavam para as brincadeiras: «saltar à corda, jogar aos cinco sacos, corrermos que nem loucos de um lado para o outro e andar aos gritos, como todas as crianças gostam», lembra Lourdes Santos. Eram brincadeiras que a ocupavam de manhã à noite, quando não havia afazeres em casa e os trabalhos da escola estavam terminados.

Saiu de Macau em 1976, com dezoito anos de idade. Foi a primeira vez que desembarcou em Portugal, à semelhança da grande parte dos estudantes macaenses que prosseguiam os estudos na Europa. As universidades em Lisboa ou em Coimbra eram os destinos mais frequentes.

Lourdes chegou com rumo definido: ingressar no curso de Economia, mas acima de tudo havia «a curiosidade pelas coisas da Europa – um bichinho desde os catorze anos». Regressou a Macau dois anos depois para visitar a família e os amigos, algo que tem feito anualmente nas últimas duas décadas. A razão principal para voltar tantas vezes à terra natal prende-se com «a vontade de visitar a família que ainda vive em Macau e matar saudades dos amigos que ficaram».

Se na primeira vez que regressou não notou grandes diferenças, hoje traça um retrato bem diferente do local onde nasceu: «Macau é uma cidade rica, assente principalmente no turismo e no jogo. É uma cidade multicultural. Apesar de tudo, ainda se consegue revisitar muitos dos sítios de antigamente». As diferenças são mais do que muitas e a cidade de 1976 nada tem a ver com a urbe actual. «As diferenças são abismais», como teve a oportunidade de presenciar outra vez este ano, durante o Ano Novo Chinês, na companhia de familiares e amigos.

Um eventual regresso definitivo a Macau até poderá ter estado no pensamento de Lourdes, mas esta não o confirma. O facto de ter casado com um macaense e de ambos terem decidido ficar em Lisboa, também por razões profissionais, acabou por lhe traçar o futuro em Portugal. Confessa estar «apaixonada por Lisboa, uma das cidades mais lindas do mundo». «A amabilidade dos portugueses, a proximidade com o mar, uma cidade e um país riquíssimos em termos de história» terão pesado no momento de tomar tão importante decisão.

Escolher Portugal para prosseguir os estudos aos dezoito anos de idade leva-nos a crer que tenha criado muita apreensão e entusiasmo. «Era um mundo completamente diferente e pelo qual me sentia atraída desde muito nova. Foi uma decisão importante a nível pessoal para o meu crescimento emocional e intelectual, mas o facto de deixar para trás tudo o que conhecia levantou muitas questões e causou ansiedade», explica.

Lourdes sempre se identificou com a realidade europeia, pelo que o ambiente europeu que se respira em Lisboa e no resto do País fez com que «nunca duvidasse» que era ali que residia o seu futuro. «A comida, que já conhecia de Macau, a par da riqueza cultural, das pessoas afáveis e do clima privilegiado, fizeram com que apostasse em fazer a vida na Europa», deixando para trás a vivência asiática. No entanto, as raízes do Oriente nunca foram esquecida, sendo disso exemplo a forma como fala de Macau e dos amigos macaenses, para além das inúmeras vezes que visita o território.

João Santos Gomes

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