«Diocese de Macau pode tornar-se numa grande estrutura».
Estando convicto que a diocese de Macau vai prosperar e florir em muitos sentidos, o monsenhor Ante Jozic defende que a nomeação do bispo D. Stephen Lee para dirigir os destinos da Igreja Católica local foi uma decisão acertada, em parte devido à sua afinidade com Portugal. A’O CLARIM, o representante da Missão da Santa Sé em Hong Kong fala da exigência dos tempos modernos, no que respeita à missão do clero e à importância da família como pedra basilar da sociedade.
O CLARIM – A diocese de Macau tem um novo bispo desde sábado (23 de Janeiro). Qual será a principal preocupação pastoral de D. Stephen Lee?
MONSENHOR ANTE JOZIC – Este bispo é muito bom no conhecimento canónico, no trabalho pastoral e na administração dos assuntos da Igreja, entre outros. Esperamos que seja abençoado por Deus no governo da Diocese, tanto para o clero e religiosos, como para que o seu trabalho pastoral ilumine com frequência os leigos e as pessoas. Acredito piamente que a diocese de Macau vai prosperar e florir em muitos sentidos. Penso que a sua nomeação é uma dádiva de Deus para esta diocese.
CL – Não havendo outra opção dentro da diocese de Macau para a sucessão de D. José Lai, será que a nomeação de um bispo proveniente de Hong Kong terá sido a escolha mais acertada?
M.A.J. – O clero de Macau é muito pequeno. Só há onze padres diocesanos, muitos deles a rondar os setenta anos de idade. Certamente que a Igreja olha sempre para a melhor escolha. Julgo que a diocese de Macau vai prosperar, e quando um dia tiver as vocações próprias, os seminaristas próprios e os padres próprios certamente também terá os seus bispos próprios. Hong Kong e Macau estão unidos, e também muito perto. Muitos padres de Macau são originários de Hong Kong. É algo normal.
CL – Deve a comunidade portuguesa estar preocupada porque D. Stephen Lee ainda não domina totalmente o Português?
M.A.J. – Penso que não. A comunidade portuguesa não deve estar preocupada porque o bispo Lee tem muitas afinidades com Portugal. Ele até já estudou em Espanha e tem relações muito próximas com amigos portugueses. Tal como disse no seu discurso [após investido como bispo de Macau], irá apoiar as coisas desta diocese e também da comunidade portuguesa. Mas não irá somente aprender a língua. Cada membro da Diocese terá a oportunidade de testemunhar a sua abertura, compreensão e afecto, inclusivamente para com a comunidade portuguesa.
CL – A Diocese celebrou também o seu 440º aniversário no dia 23 de Janeiro. Trata-se da mais antiga do Extremo Oriente nos tempos modernos. Como vê esta efeméride?
M.A.J. – É uma ocasião muito importante para a diocese de Macau e para toda a Igreja Católica. Não apenas para lembrar as raízes, o início, mas também para trazer algo importante aos tempos de hoje, e ao futuro, de maneira a encorajar os jovens a acreditar e seguir a fé dos nossos antepassados, bem como a continuar com a mesma semente no trabalho missionário e social. O Papa Francisco disse muitas vezes que temos de partilhar o nosso amor com os necessitados, especialmente os marginalizados. Penso que é a ocasião ideal para lembrarmos tudo o que a Diocese fez no passado e para continuarmos em frente de maneira a haver prosperidade nesta diocese.
CL – Macau desempenhou, no passado, um papel muito importante na evangelização do Extremo Oriente. Que papel pode assumir agora?
M.A.J. – Macau foi o centro [da missionação] para o Extremo Oriente. A sua diocese tem esta riqueza do passado. Embora seja agora muito pequena, sempre foi um símbolo de unidade, de inspiração e, sobretudo, de unidade com os outros. Levar o Evangelho a outros pontos do Extremo Oriente não foi tarefa nada fácil naqueles tempos. A diocese de Macau não só é a mais antiga [dos tempos modernos], como também é a mãe de muitas outras no Extremo Oriente. Por isso deve ser respeitada, acarinhada e apoiada. Certamente que esta nomeação [do bispo D. Stephen Lee] também reflecte isso por parte da Santa Sé.
CL – Quais os desafios?
M.A.J. – Os desafios para o novo bispo e para a diocese de Macau são imensos. Esta cidade vive num tempo diferente porque as situações e o ambiente social não são iguais. Há que desafiar o tempo moderno. É preciso que as pessoas da diocese de Macau cresçam na unidade em termos espirituais e, especialmente, no amor ao próximo.
CL – Obviamente que o secularismo e o materialismo também têm afectado o crescimento da Igreja Católica nesta parte do mundo. O que pode ser feito para contrariar esta tendência?
M.A.J. – Claro que não é apenas um problema de Macau. É um problema de todo o mundo. A Igreja é hoje convidada a ser um sinal de espiritualidade. Por isso, com todos estes problemas subjacentes ao consumismo, a diocese de Macau, com o novo bispo e os novos programas, também será inspirada a fazer algo neste campo. Embora a Diocese seja pequena, de pequena pode tornar-se numa grande estrutura com fortes sementes que tragam frutos. Estando inserida num território onde se verificam mudanças [sociais] e dificuldades várias, julgo que haverá um momento para a unidade e mudança de vida das pessoas, não apenas centradas no dinheiro, mas também ao nível espiritual.
CL – No ano passado a Igreja realizou a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, centrado no tema da Família. A quebra do vínculo familiar também acontece com alguma frequência em Macau…
M.A.J. – A família é em qualquer lugar a base de uma sociedade. Até mesmo para a Igreja Católica a família é uma pequena Igreja. É tempo para refrescar a nossa fé, especialmente a fé das famílias jovens com crianças, não apenas no futuro material de uma sociedade, ou da Igreja, mas também no abençoar de cada indivíduo e da família. Por causa deste ano do Jubileu, e pelo tempo dedicado à reflexão da Família no Sínodo dos Bispos, penso que estamos a viver tempos que nos ajudam a refrescar a nossa família para a partilha de mais amor e amizade, entre marido e mulher, e entre pais e filhos, porque só assim a nossa sociedade poderá caminhar em frente e ir ao encontro de um futuro melhor.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
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