Dois sicilianos e o fim do monotelismo: Agatão e Leão II

GUARDIÕES DAS CHAVES – 45

Dois sicilianos e o fim do monotelismo: Agatão e Leão II

SÃO AGATÃO

(27.VI.678 – 10.I.681)

O 79.º Bispo de Roma nasceu na Sicília. Tal como São Leão Magno (440-461) e São Hormisda (514-523), o Papa Agatão deu um contributo notável para a ortodoxia no Oriente. A pedido do imperador Constantino IV, convocou o Sexto Concílio Ecuménico, o terceiro a ser realizado em Constantinopla. O imperador havia repelido anteriormente a invasão árabe-muçulmana (674-678) e queria unir o Oriente ao Ocidente. Ao contrário do seu pai, Constâncio II, Constantino IV não aderiu à heresia monotelita (uma única vontade). Tendo alcançado a unidade política do Oriente e do Ocidente por meio da vitória militar, queria que o Império também estivesse unido na fé. “Ele escreveu ao Papa Dono [antecessor do Papa Agatão] a sugerir uma conferência sobre o assunto. Dono já estava morto quando a carta chegou, mas Agatão foi rápido em aceitar o ramo de oliveira oferecido pelo imperador” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 158).

Para preparar o Concílio, o Papa Agatão discutiu primeiro a questão da vontade de Cristo no Ocidente. Sínodos foram organizados em Milão e em Hatfield (Inglaterra). Após estes sínodos regionais, o Papa Agatão convocou um Sínodo em Roma (Páscoa de 680), com a participação dos representantes daqueles Sínodos.

Após o Sínodo romano, o Papa Agatão enviou delegados a Constantinopla para se reunirem com os homólogos orientais, que foram convocados pelo próprio imperador Constantino IV.

“Os delegados, patriarcas e padres reuniram-se no salão abobadado do palácio imperial em 7 de Novembro de 680. Os monotelitas ou hereges da vontade única apresentaram o seu caso. Em seguida, foi lida a carta do Papa Agatão, que explicava a crença tradicional da Igreja de que em Cristo existem duas vontades, a divina e a humana. O Concílio concordou que Pedro falava através de Agatão. O Patriarca Jorge de Constantinopla aceitou a carta de Agatão, assim como a maioria dos bispos presentes” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 158).

Este Concílio pôs fim à heresia monotelita (uma vontade) e curou o cisma entre Constantinopla e Roma. O Concílio enviou os seus decretos a Roma para a assinatura do Papa, mas o Papa Agatão morreu antes de poder assiná-los. O seu sucessor, Leão II, iria recebê-los e confirmá-los.

No que diz respeito a assuntos eclesiásticos, o Papa Agatão resolveu com sucesso um problema em Inglaterra. Pouco depois de Agatão se tornar Papa, São Wilfred, arcebispo de York, chegou a Roma para pedir a ajuda do Santo Padre. Wilfred havia sido injustamente e canonicamente deposto da sua sé por Teodoro de Canterbury. O Santo Padre convocou um Sínodo em Latrão para estudar o assunto e Wilfred foi restaurado ao seu bispado (cf. Ott, Michael. “Papa Santo Agatão”. A Enciclopédia Católica. http://www.newadvent.org/cathen/01204c.htm). Desta forma, Agatão foi fundamental para aproximar a Igreja anglo-saxónica da jurisdição e das doutrinas de Roma.

São Agatão destacava-se pela sua afabilidade e caridade. Realizou muitos milagres, pelo que é chamado de “Taumaturgo” (Milagreiro) ou “Curador”.

Tanto a Igreja Latina como a Grega celebram a sua memória.

SÃO LEÃO II

(17.VIII.682 – 28.VI.683)

Tal como o seu predecessor, Leão II também nasceu na Sicília. Foi eleito pouco tempo depois da morte de Agatão, mas teve de esperar mais de um ano e meio antes de poder ser consagrado. Este atraso deveu-se provavelmente à exigência de que o imperador bizantino confirmasse a eleição. O Papa também tinha de pagar um imposto ao imperador pela sua consagração.

“O acto mais importante realizado por Leão no seu curto pontificado foi a confirmação dos actos do Sexto Concílio Ecuménico (680-681). Este foi realizado em Constantinopla contra os monotelitas e presidido pelos delegados do Papa Agatão. Depois de Leão ter notificado o imperador de que os decretos do Concílio haviam sido confirmados por ele, procedeu a divulgá-los às nações do Ocidente. As cartas que enviou para esse fim ao rei e aos bispos e nobres de Espanha chegaram até nós. Nelas, explicava o que o Concílio tinha feito e exortava os bispos a subscreverem os seus decretos. Ao mesmo tempo, esforçava-se por deixar claro que, ao condenar o seu predecessor Honório I, não o fazia porque este ensinava heresia, mas porque não era suficientemente activo na oposição à mesma. De acordo com o mandato papal, foi realizado um Sínodo em Toledo (684), no qual o Concílio de Constantinopla foi aceite” (Mann, Horace. “Papa São Leão II”. A Enciclopédia Católica. http://www.newadvent.org/cathen/09157a.htm).

Um problema também surgiu em Ravena quando o arcebispo local quis ser colocado em pé de igualdade com os Patriarcas de Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. O motivo? Os imperadores residiam em Ravena desde 402 e os seus representantes desde 584. O imperador romano ocidental mudou-se para ali em 402, porque a cidade era cercada por pântanos e era mais fácil defendê-la dos invasores visigodos liderados por Alarico. Assim, tornou-se uma cidade importante. O Papa Leão II conseguiu convencer o arcebispo a continuar sob a autoridade de Roma, isentando-o do pagamento do imposto que acompanhava a consagração como arcebispo.

Leão transferiu muitas relíquias de mártires das catacumbas para igrejas dentro das muralhas da cidade, provavelmente para protegê-las dos ataques lombardos.

É relatado que Leão II era um cantor talentoso e, por isso, promovia a Música Sacra. “Celebrava as funções sagradas com grande pompa, a fim de tornar os fiéis mais conscientes da majestade de Deus, e introduziu a aspersão do povo pelo Santo Padre durante as funções religiosas” (Caporilli, “Os Pontífices Romanos”).

Pe. José Mario Mandía

LEGENDA: Papa Agatão

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