Salvar o Panteão e o Povo: Bonifácio IV e Adeodato I
Bonifácio IV
(25.VIII.608 – 8.V.615)
O 67.º Pontífice Romano tomou São Gregório Magno como seu modelo e serviu sob a sua orientação. Gregório chamava-o de “meu amado filho Bonifácio, o diácono”. Bonifácio, um beneditino, seguiu Gregório na conversão da sua casa num mosteiro e incentivou o monaquismo.
Em 609, Bonifácio “consagrou o templo pagão de Agripa, chamado Panteão, à memória da Virgem [Abençoada] e de todos os santos, instituindo assim o Dia de Todos os Santos em 1 de Novembro” (Caporilli, “Os Romanos Pontífices”). O Panteão (do Grego pantheion, de pan “tudo” + theion “santo” – theos “deus”), um templo anteriormente dedicado a Vénus, Júpiter e Marte, tornou-se assim a Basílica de Santa Maria e os Mártires. O templo original de Agripa, construído por volta de 25 a.C., foi destruído por um incêndio e Adriano reconstruiu-o na sua actual forma circular em 609. Após dois milénios, a cúpula do Panteão ainda é a maior cúpula de betão não reforçado do mundo. A cúpula apresenta uma abertura circular de nove metros de largura chamada óculo (Latim para “olho”). O óculo é a única fonte de luz natural do edifício. Simboliza a conexão com o divino e também funciona como um relógio de Sol. Além disso, proporciona ventilação e ajuda a estabilizar a cúpula. Permite a entrada da chuva, e a água é coletada por um sistema de drenagem no piso. Ao convertê-lo em uma igreja cristã com a permissão do imperador bizantino Focas, São Bonifácio IV salvou o edifício da destruição causada pelas guerras feudais.
Bonifácio demonstrou um notável zelo missionário, especialmente em relação à Inglaterra e à Irlanda. Mantinha contacto com o primeiro bispo de Londres, o arcebispo de Canterbury, e o Rei Ethelberto de Kent (550-616), o primeiro monarca anglo-saxão a converter-se ao Cristianismo.
Brusher e Borden relatam que o Papa Bonifácio IV “também teve relações com aquele notável monge e missionário irlandês, o impetuoso, inquieto e adorável São Columbano [543-615]. São Columbano, um esplêndido exemplo do zelo missionário irlandês, já tinha pregado o Evangelho na Gália e na Suíça. Agora, trabalhava entre os lombardos do norte da Itália” (“Popes through the Ages”, pág. 134).
O Pontificado de São Bonifácio não foi isento de problemas. Durante esse período, Roma foi atingida por pestilência, fome e inundações.
O Papa retirou-se para o mosteiro que havia construído em sua própria casa e foi lá que faleceu.
SÃO ADEODATO I
(19.X.615 – 8.XI.618)
O Papa Deusdedit (Latim para “Deus deu”) ou Adeodato (Latim para “dado por Deus”) “distinguiu-se pela sua caridade e zelo. Ele encorajou e apoiou o clero, que estava empobrecido em consequência dos problemas políticos da época; e quando a sua diocese foi atingida por um violento terramoto [618 d.C.] e pelo terrível flagelo da lepra, deu um exemplo heroico com os seus esforços para aliviar o sofrimento” (Kelly, Leo. Papa São Deusdedit. The Catholic Encyclopedia. http://www.newadvent.org/cathen/04760a.htm).
À época, o poder do imperador bizantino no Oriente estava a diminuir, o que deu ao Pontífice uma maior autoridade temporal. Adeodato trabalhou para convencer os governantes bizantinos em Constantinopla a aumentar os subsídios para ajudar nos esforços de reconstrução de igrejas, mosteiros e edifícios públicos.
Seguindo a preferência do Papa Sabiniano (604-606) pelo clero secular (diocesano), Adeodato reverteu a política de Gregório Magno e a prática do seu predecessor Bonifácio IV de nomear monges para cargos administrativos papais e substituiu-os pelo clero diocesano. Ordenou cerca de catorze padres para a diocese de Roma, o que aconteceu pela primeira vez desde o Pontificado de Gregório. Em testamento, deixou uma quantia em dinheiro para ser entregue ao clero secular após a sua morte.
“Foi o primeiro a usar selos de chumbo para bulas e decretos pontifícios. O seu é o selo pontifício mais antigo preservado no Vaticano” (Caporilli, Os Pontífices Romanos).
O termo “Bula” vem do Latim bulla (selo). A partir daí, passou a ser usado para se referir ao próprio documento.
Pe. José Mario Mandía

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