GUARDIÕES DAS CHAVES – 33

GUARDIÕES DAS CHAVES – 33

Relações mais cordiais entre o Oriente e o Ocidente: Hormisda e João I

SÃO HORMISDA

(20.VII.514 – 6.VIII.523)

Antes de se tornar diácono, Hormisda era casado e tinha um filho, Silvério. Este tornou-se mais tarde o Papa Silvério (536-537). Pai e filho são venerados como santos.

O 52.º Papa gozou de um período de relativa paz. Assistiu à cura do Cisma laurentino (ou laurentiano) dentro da Igreja Romana no Ocidente. Mas ainda precisava enfrentar o Cisma acaciano no Oriente. Como vimos anteriormente, o envolvimento do rei de Itália no Ocidente e do imperador no Oriente foi útil para a Igreja em alguns aspectos, mas perigoso ao mesmo tempo.

Antes de se tornar Papa, São Hormisda era um dos assistentes mais competentes do Papa Símaco. Estava, pois, familiarizado com o Cisma laurentino. Uma vez eleito, trabalhou para eliminar quaisquer problemas decorrentes do cisma. Recebeu de volta à Igreja os adeptos do partido laurentino que ainda não se tinham reconciliado. O cisma havia surgido de uma antipatia pessoal por Símaco, e Hormisda pareceu lidar bem com o assunto (cf. John Moorhead, “The Laurentian Schism: East and West in the Roman Church, Church History 47”. 1978. pág. 131). Com o problema no Ocidente resolvido, o Papa Hormisda pôde dedicar mais tempo ao problema no Oriente.

O Papa Hormisda trabalhou para restaurar a comunhão entre a Sé de Roma e Constantinopla, que havia sido rompida pelo Cisma acaciano. Como vimos, este cisma ocorreu por causa do Henótico do imperador oriental Zenão e de Acácio, Patriarca de Constantinopla. Zenão foi sucedido pelo imperador oriental Anastácio I, que seguiu a crença monofisista de Zenão.

O sucessor de Anastácio I, o católico Justino I, imediatamente reverteu as políticas de Anastácio. Ele atendeu às exigências do Santo Padre e riscou os nomes do Patriarca Acácio e dos imperadores Zenão e Anastácio. O sucessor de Acácio, o Patriarca João II, aceitou relutantemente a fórmula de fé do Papa. Em 28 de Março de 519, na presença de uma grande multidão na Catedral de Constantinopla, o fim do cisma foi concluído numa cerimónia solene.

Hormisda morreu em 523 d.C. e foi sepultado na antiga Basílica de São Pedro. No entanto, este túmulo foi destruído quando a basílica foi reconstruída no Século XVI.

SÃO JOÃO I

(13.VIII.523 – 18.V.526)

Quando João I se tornou Pontífice Romano, Teodorico era o rei de Itália. O ostrogodo foi o segundo bárbaro a tornar-se rei da Itália depois de Odoacro. Já mencionámos que tanto Odoacro como Teodorico eram arianos, mas, mesmo assim, respeitavam a Igreja.

No Império Romano Oriental, porém, o novo imperador, Justino I (Justino, o Trácio), era um católico fervoroso, tendo ajudado a resolver o Cisma acaciano. Voltando a sua atenção para os arianos, emitiu um edito em 523 que apoiava o Credo Niceno, substituiu os bispos arianos por bispos ortodoxos e expulsou-os de Constantinopla, juntamente com os seus seguidores. Também os obrigou a devolver as igrejas que ocupavam aos católicos. Isto veio a aquecer os laços entre o Império Romano Oriental e Roma.

O decreto de Justino provocou o ressentimento de Teodorico por pelo menos duas razões, uma religiosa e outra política. A primeira é que Teodorico, sendo ele próprio ariano, ficou ofendido com a forma como os seus correligionários eram tratados no Oriente. Em segundo lugar, a melhoria das relações entre o Oriente e Roma fez com que ele temesse que, no futuro, os romanos pudessem tentar restabelecer a autoridade imperial em Itália e expulsar os ostrogodos.

O Papa João já estava com a saúde debilitada, mas Teodorico forçou-o a ir com alguns bispos e senadores para tentar persuadir o imperador Justino a moderar a aplicação do decreto. Teodorico também ameaçou o Papa que, caso ele falhasse na sua missão, o rei tomaria medidas contra os cristãos não arianos no Ocidente. O Papa João I tornou-se assim o primeiro Papa a ir a Constantinopla e, muito provavelmente, o primeiro a fazer uma viagem apostólica relativamente longa ao exterior.

Talvez para sua própria surpresa, o Papa João foi recebido calorosamente em todos os lugares por onde passou. Pouco antes de entrar em Constantinopla, uma procissão de clérigos carregando velas e cruzes o escoltou.

“O imperador Justino recebeu-o com as mais altas honras. No Domingo de Páscoa, 19 de Abril de 526, celebrou missa em Sancta Sophia. E coroou o imperador. Recebeu promessas entusiásticas de lealdade dos bispos orientais. Apenas Alexandria, agora endurecida na sua heresia monofisita, permaneceu distante” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 106). Santa Sofia, ou Hagia Sophia, era a principal igreja do Império Bizantino em Constantinopla. Foi convertida em mesquita depois de o Império Otomano ter conquistado a cidade em 1453.

O imperador aceitou as exigências do rei Teodorico, mas não concordou em permitir que aqueles que se convertessem do arianismo mantivessem o seu lugar na Igreja como diáconos, padres ou bispos.

Apesar do relativo sucesso da sua missão, quando o Papa João I regressou a Ravena (onde residia o rei), Teodorico mandou prendê-lo e encarcerá-lo, onde morreu devido a negligência e maus-tratos. Teodorico suspeitava que o Papa estivesse a conspirar com o imperador Justino.

O corpo do Santo Padre foi transportado para Roma e sepultado na Basílica de São Pedro.

Pe. José Mario Mandía

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *