Crescimento e defesa contra ensinamentos erróneos: Libério e Dâmaso
LIBÉRIO
(17.V.352 – 24.IX.366)
Libério, o 36.º Pontífice Romano, é o primeiro Papa não canonizado.
Vimos da última vez que após a morte de Constantino, Constantino II tomou a Gália, a Grã-Bretanha e a Espanha. Por sua vez, Constâncio tomou as províncias orientais (Ásia Menor, Egipto, Síria, etc.); e Constante governou Itália, África e Ilíria. Constantino II morreu em 340 e Constante em 350. Todo esta realidade deixou Constâncio, que abraçou o Arianismo, com vontade de unir todo o império.
O seu reinado mostra os efeitos indesejáveis do cesaropapismo, pois insistiu que o Papa condenasse Atanásio, o bispo legítimo de Alexandria. O Papa Libério resistiu. Constâncio baniu-o para a Trácia e instalou um antipapa chamado Félix II. Felizmente, os romanos não aceitaram Félix.
Há um debate sobre se o Papa Libério foi coagido a assinar uma fórmula de compromisso em determinado momento durante o exílio. Quando pôde regressar a Roma, porém, continuou a defender a verdadeira fé. Santo Hilário de Poitiers (ver PAIS DA IGREJA n.º 31) defendeu a fidelidade do Papa Libério.
Uma das basílicas importantes de Roma, Santa Maria Maior, está associada ao Papa Libério. Conta-se que um casal romano rico, durante o reinado de Libério, recebeu instruções de Nossa Senhora para construir uma igreja em sua honra no Monte Esquilino, onde a neve havia caído milagrosamente no meio do Verão, a 5 de Agosto. A basílica ficou conhecida como Basílica de Nossa Senhora das Neves ou, também, Basílica Liberiana.
Após a sua morte, o Papa Libério foi sepultado no cemitério de Priscila, localizado ao longo da Via Salaria.
SÃO DÂMASO
(1.X.366 – 11.XII.384)
O Papa Dâmaso I era um cidadão romano de ascendência espanhola. Era erudito e piedoso. Mas também um bom escritor e administrador competente. A Igreja gozava agora de paz; cresceu e desenvolveu-se sob a sua orientação.
Dâmaso lutou contra as heresias arianas, macedónias (também conhecidas como pneumatomachianas ou “lutadores contra o Espírito”) e apolinaristas, mas exerceu grande clemência para com os hereges que se arrependeram. Os arianos, como vimos, negavam que Jesus fosse Deus. Macedónio (bispo de Constantinopla entre 342 e 360 d.C.), por outro lado, negava que o Espírito Santo fosse Deus. Foi deposto devido aos seus ensinamentos. Apolinário, por sua vez, negava que Cristo, embora tivesse um corpo humano e uma alma humana, não tivesse um intelecto humano. Tanto a heresia macedónia como a apolinarista foram condenadas no Concílio de Constantinopla, em 381.
O Papa Dâmaso I também defendeu a primazia do Bispo de Roma. “A partir do século IV, a primazia romana foi exercida com grande energia sobre as igrejas do Ocidente: os papas intervieram repetidamente, através de cartas decretais ou por meio de legados e vigários. No Oriente, um grande concílio (o de Sardica, 343-4) reconheceu o direito de qualquer bispo do mundo recorrer ao bispo de Roma como tribunal de última instância” (Jose Orlandis, “Uma Breve História da Igreja Católica”, pág. 32).
Além disso, “Damaso publicou um cânone da Sagrada Escritura, ou seja, uma lista dos livros do Antigo e do Novo Testamento que devem ser considerados a palavra inspirada de Deus”. Para difundir o conhecimento da Escritura, o Papa instou o seu amigo, o grande Jerónimo [cf. PADRES DA IGREJA n.os 35-36], a traduzir a Bíblia. São Jerónimo assim o fez e produziu a edição da Vulgata, que serviu a Igreja durante tanto tempo e de forma tão útil…
“Agora que as perseguições tinham terminado, Dâmaso trabalhou arduamente para fomentar a devoção aos mártires. Ele encorajou as peregrinações às catacumbas. Construiu escadas e poços de luz nas abóbadas sagradas. Nas tumbas dos mártires, colocou inscrições. Na verdade, o próprio Papa escreveu muitas delas em versos excelentes. Ele pesquisou diligentemente os registos em busca de relatos de martírios. Os historiadores e arqueólogos, bem como os amantes das Escrituras Sagradas, devem muito a este papa inteligente e piedoso” (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 74).
“Ele determinou que os salmos fossem cantados dia e noite em todas as igrejas e deu essa ordem aos padres, bispos e mosteiros” (Liber Pontificalis). “Também contribuiu para enriquecer a liturgia, autorizando o Rito Ambrosiano, no qual coros alternados cantam os Salmos. Ele também introduziu o termo hebraico ‘aleluia’ (em Hebraico, ‘louvai ao Senhor’ ou ‘louvai a Deus’) na liturgia” (cf. Caporilli, “Os Romanos Pontífices”).
O Liber Pontificalis afirma que “o Papa Dâmaso foi sepultado na Via Ardeatina, na sua própria basílica, perto da sua mãe e da sua irmã”.
Pe. José Mario Mandía