O “trumpismo” e as nossas escolhas.
Não, não vou falar sobre Trump e as suas últimas “aventuras” na cimeira da NATO, na visita ao Reino Unido ou no seu encontro com Putin, em Helsínquia. Os disparates que disse antes dos encontros são os habituais “fake news” das suas conclusões desses mesmos encontros.
Sobre este tema prefiro interrogar-me sobre a postura submissa dos dirigentes mundiais, face às provocações arrogantes deste Presidente americano, antes de iniciar as suas conversações com os outros líderes. Noutro tempo, metade dos insultos que profere já tinham dado origem a uma guerra!
Alguém me diz que o “homem” está habituado a negociar comércio e é assim que intimida os seus interlocutores, obtendo vantagens negociais. Mas será que alguém lhe deu a ler um compêndio da história do mundo e das suas diversidades culturais, religiosas e políticas, para além da pequena grande história dos pistoleiros do Oeste americano e da sangrenta guerra civil americana?
Vivemos um século XX num conflito ideológico entre Capitalismo e Comunismo, muitas vezes traduzido e centralizado em disputas e confrontos militares controlados, justificados pela sensibilização dos povos à aceitação dessas mesmas ideologias. Fizeram-se tratados de defesa mútua, organizaram-se blocos de influência e aumentaram-se as máquinas de guerra para aquilo a que nos habituamos a prever como a auto-destruidora terceira guerra mundial, entre os comunistas e os capitalistas. De um lado e do outro assistimos a todo o tipo de manobras difamatórias e promoção dos respectivos regimes e, finalmente, na base das aspirações de liberdade individual e da defesa da paz, bem patenteadas na queda do Muro de Berlim em 1989, a grande maioria dos povos acabou por aceitar as vantagens da imperfeita democracia ocidental.
A partir desse facto histórico o mundo evoluiu de tal forma que hoje dificilmente se identifica qualquer país do mundo vivendo num sistema comunista ou mesmo socialista. Nem Rússia, nem China, com os seus milhares de multimilionários, nem Cuba que acaba de aceitar constitucionalmente o direito à propriedade privada, nem Vietname ou o Camboja do antigo sanguinário Pol Pot, nem nenhum país do continente africano assume hoje reger-se pela cartilha estalinista.
Então, se o mundo mudou, porque razão e contra quem continuam as guerras e as disputas de influência, tão pouco tempo depois do estertor dos regimes considerados comunistas? Fundamentalmente pela defesa de particulares interesses territoriais, económicos, comerciais, financeiros e, naturalmente políticos, entre países capitalistas que se disputam pelas suas áreas de influência.
Além disso, muitas das guerras de hoje perderam a sua antiga substância política, ideológica e programática mas, no entanto, para adquirem um elevado grau de aceitação entre os povos e aumentarem as suas fileiras de alistamento, recorrem à adopção das teologias religiosas como mentoras dos seus comportamentos.
Se a geografia política dos conflitos, associada às razões que estão na sua origem, mudaram significativamente nos últimos vinte anos, tornando-se numa disputa entre congéneres de regimes, porquê é que, no caso particular da maioria dos países europeus, não se altera o regime de alianças (antes supostamente existentes na base das identidades ideológicas) por uma unidade com outras partes do mundo que aceitem preservar os princípios que nos são identitários, renegando os ultrajes do actual Presidente americano? A resposta é óbvia: trata-se de um imprevisível chefe da maior potência militar mundial e a sua influência financeira é enorme!
Mas, se concluirmos conscientemente não estarmos disponíveis, como no tempo da “guerra fria”, a sujeitarmo-nos a uma dominação e humilhação por parte de quem não respeita ninguém, é tempo de começar a criar novos laços com quem pensa e age como nós e mesmo com aqueles que, não se assumindo com as mesmas identidades, respeitem a nossa e sejam, pela sua importância e influência, suficientemente persuasivos contra a actual política americana.
É preciso isolar, não o povo, mas o actual líder americano, antes que os seus deslizes, perigosidade, deseducação e sintomas autocratas, nos levem a uma situação de ruptura e de caminho sem retorno.
As democracias nem sempre elegeram os melhores e a história das nações o confirma, por isso os povos tiveram que sofrer até alterarem as suas escolhas.
Que a diplomacia política saiba conduzir-se por forma a evitar danos maiores, sem perder a face dos objectivos que unem os homens de boa vontade e do planeta que nos acolhe. Esse é o grande desafio dos tempos modernos!
LUIS BARREIRA