Um Novo Pentecostes – 50 Anos da Renovação Carismática Católica

«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos» (Mt, 11:28).

Depois do Papa Leão XIII ter consagrado o século XX à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, com a oração “Veni Creator Spiritus” (Vem, Espírito Criador), o Papa João XXIII viria a ser o precursor da Renovação Carismática Católica, ao compor como preparação espiritual da Igreja para os trabalho do Concílio Vaticano II a seguinte oração: «Repita-se no povo cristão o espectáculo dos Apóstolos reunidos em Jerusalém, depois da ascensão de Jesus ao céu, quando a Igreja nascente se encontrou reunida em comunhão de pensamento e de oração com Pedro e em torno de Pedro, pastor dos cordeiros e das ovelhas. Digne-se o Divino Espírito escutar da forma mais consoladora a oração que sobe a Ele de todas as partes da terra.

Que Ele renove no nosso tempo os prodígios como de um novo Pentecostes, e conceda que a Santa Igreja, permanecendo unânime na oração, com Maria, a Mãe de Jesus, e sob a direcção de Pedro, dilate o Reino do Divino Salvador, Reino de Verdade e Justiça, Reino de amor e de paz».

A partir de 1967 – muito evocado por orações no decorrer e no pós Concílio Vaticano II (1962-1964) – penetrava na Igreja Católica o novo Pentecostes, com o nome de Renovação Carismática Católica (RCC) ou Pentecostalismo Católico, o qual teve a sua origem num retiro espiritual realizado entre os dias 17 e 19 de Fevereiro de 1967, na Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos).

Patti Gallagher, uma das estudantes que participou no retiro, numa carta enviada ao professor e monsenhor Lacovantuno, em 29 de Abril de 1967 (dois meses após o retiro), descrevia o que aconteceu naqueles dias: “Tivemos um fim de semana de estudos nos dias 17 a 19 de Fevereiro. Preparámo-nos para este encontro lendo os Actos dos Apóstolos e um livrinho intitulado ‘A Cruz e o Punhal’, da autoria de David Wilkerson. Fiquei particularmente impressionada pelo conhecimento do poder do Espírito Santo e pelo vigor e a coragem com que os apóstolos foram capazes de espalhar a Boa Nova, após o Pentecostes. Eu supunha, naturalmente, que o fim-de-semana iria ser proveitoso, mas devo admitir que nunca poderia supor que viria a transformar a minha vida!

Durante os nossos grupos de discussão, um dos líderes enfatizou o facto de que devemos confirmar constantemente os nossos votos de Baptismo e Crisma, assim como devemos ter a alma mais aberta ao Espírito de Deus. Pareceu-me curioso, mas um pouco difícil de acreditar, quando me foi dito que os dons carismáticos concedidos aos apóstolos são ainda hoje dados às pessoas dos nossos dias – que ainda existem sinais do poder divino e milagres – e que Deus prometeu emanar o seu Espírito para que se fizesse presente a todos os seus filhos. Decidimos, então, efectuar a renovação dos votos de Baptismo e do Crisma como parte do serviço da missa de encerramento, no Domingo à noite. Mas, no entanto, o Senhor tinha em mente outras coisas para nós!

No sábado à noite tínhamos programado uma festa de aniversário para alguns colegas, mas as coisas foram simplesmente acontecendo sem alternativa. Fomos sendo conduzidos para a capela, um de cada vez, e recebendo a graça que é denominada no Novo Testamento de Baptismo no Espírito Santo. Isto aconteceu de diversas maneiras a cada um de nós. Eu fui atingida por uma forte certeza de que Deus é real e que nos ama. Orações que eu nunca tinha tido coragem de proferir em voz alta, saltavam dos meus lábios. (…)

Este não era, apenas, um agradável fim-de-semana, mas, na realidade, uma experiência transformadora de vida que ainda prossegue, desenvolvendo-se em crescimento e expansão. Os dons do Espírito são hoje manifestados – e isto eu posso testemunhar, porque tenho ouvido pessoas a orar em línguas; outras praticam curas, discernimento de espíritos, falam com sabedoria e fé extraordinária, profetizam e interpretam.

Eu, agora, tenho a certeza de que não há nada que tenhamos de suportar sozinhos, nem nenhuma oração que não seja atendida, ou necessidade que Deus não possa cobrir em sua riqueza! (…)

As Escrituras vivem! Amém! Eu estou segura de que jamais poderia ter acumulado por conta própria tanto conhecimento, apesar de todo o esforço desenvolvido, e com as melhores intenções que tivesse. (…)

Eu vi-me, de repente, a conversar com as pessoas sobre Cristo, e vi desde logo o resultado dessa experiência! Eu jamais teria ousado fazer essas coisas no passado, mas agora penso que é impossível deixar de fazê-lo. É como disseram os apóstolos, depois do Pentecostes: ‘Como podemos deixar de falar sobre as coisas que vimos e ouvimos!’ (…)”.

Estas notícias divulgaram-se rapidamente, causando um grande impacto no meio religioso universitário. O “fim de semana de Duquesne”, como ficou mundialmente conhecido este retiro, tem sido geralmente aceite como o ponto de partida que deu origem à Renovação Carismática Católica.

São muitos os frutos para a Igreja deste novo Pentecostes: um desejo maior da prática e vivência da fé – até mesmo em família – o gosto pela leitura da palavra de Deus, a valorização dos sacramentos, a redescoberta da Virgem Santíssima, o surgimento de grupos carismáticos de oração e fortes carismas em laicos e consagrados, como alguns sacerdotes, tornando-se instrumentos de Jesus num ministério tão urgente e que devia estar presente em todas as dioceses do mundo – o ministério da Cura e Libertação.

 

A CANÇÃO NOVA

A Renovação Carismática Católica tem vindo a crescer a uma escala planetária e, pela proximidade cultural, destacamos a grande bênção de Deus ao povo brasileiro e de língua portuguesa pelo instrumento na pessoa do monsenhor Jonas Abib, que ungido pelo Espírito Santo deu início, no dia 2 de Fevereiro de 1978, ao projecto Católico e Evangelizador “baptizado” por Canção Nova, que cresce a cada dia e que já alcançou uma dimensão incrível, estando também presente em Portugal. Não podendo aferir a diversidade dos seus frutos, destacam-se os retiros, encontros, palestras, publicações, televisão católica 24 horas por dia, rádio, liturgia, estando presente na Internet e também em aplicações para as novas plataformas interactivas como os “smartphones” e os “tablets”.

Muitos retiros e eventos são realizados num megapavilhão “Centro de Evangelização Dom João Hipólito de Moraes” que, na maioria das vezes, fica cheio.

É impressionante presenciar aqui o louvor a Deus. Neste local, como profetizou o monsenhor Jonas Abib, manifesta-se a glória de Deus. É considerado o “maior vão livre da América Latina”, com uma extensão de 119 metros e capacidade para aproximadamente 23 mil pessoas sentadas e 30 mil pessoas em pé (actualmente nesta zona encontram-se cadeiras, para que todos se possam sentar).

 

RENOVEMOS A NOSSA FÉ

Não há nenhuma religião como o Cristianismo, onde Deus quer ter uma relação connosco de Pai para filho. Fazendo-se Ele homem, veio em nosso auxílio habitando entre nós – Emanuel – resgatando-nos, renovando o amor com que nos criou, vencendo na Cruz o demónio, a serpente que envenenou os filhos de Deus.

Jesus ressuscitou ao terceiro dia, mostrando-nos que venceu a morte, e que todos os que morrerem com Jesus no coração também vencerão a morte.

Ainda na Cruz, o Senhor ouviu do cruxificado arrependido – podendo nós colocarmo-nos no seu lugar – e crente n’Ele: «Jesus, lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino», e o Senhor na sua misericórdia respondeu, confortando-o: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc, 23:42-43).

Jesus Cristo foi prova viva da sua promessa estando ressurrecto com os apóstolos, transformando-lhes e fortalecendo-lhes a fé que se tornou inabalável. Pela sua ressurreição, preparou-os soprando-lhes o Espírito Santo (Jo, 20:22), e dando-lhes a missão de irem por todos os povos em seu nome levarem a Boa-Nova, disse-lhes: «E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt, 28:20).

Jesus é o caminho, a verdade e a cura para todas as nossas doenças, as nossas aflições e, acima de tudo, para uma vida nova aqui e para toda a eternidade (Jo, 14:6).

Sejamos peregrinos do céu num mundo que jaz no maligno, e pela intercepção da Virgem Santíssima e da oração revistamo-nos com a armadura de Deus para termos capacidade de nos mantermos de pé contra as maquinações do diabo (Ef, 6:11-13).

O Senhor alertou-nos que o mundo o rejeitou a Ele primeiro; assim também rejeita aqueles a quem Ele escolheu (Jo, 15:18).

A nossa cruz fará a ponte para a outra “margem”, na nossa travessia para o céu; assim temos de abraçá-la com fé! (Mt, 16:24).

Abriremos o nosso coração a Cristo que na Santa Cruz nos resgatou da morte eterna, numa dádiva gratuita de amor e sacrifício infinito. Continua presente a sua Paixão em cada santa missa, a sua presença real – o seu corpo, sangue, alma e divindade – no Santo Altar e em todos os sacrários, o pão da vida, dando-se a cada um, presença excelsa do seu amor, e após recitarmos a oração do centurião no nosso coração (Mt, 8:8) o tomamos nos lábios, para que Ele habite em nós! Estas são palavras de Jesus para que nós creiamos: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue uma verdadeira bebida. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele» (Jo, 6:53-56).

Levantemos as mãos ao céu e em oração; peçamos misericórdia ao Pai Celeste e que todos sejam tocados pelo amor de Deus, a paz no mundo, ajuda no abandono do pecado e a graça da fé, para que esta se fortaleça a cada dia com a ajuda do Espírito Santo que há 50 anos voltou a incendiar e a renovar a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Que os filhos herdeiros do nosso Deus trino sejam apóstolos do seu amor e carismas, chamas vivas da presença de Jesus de Nazaré em cada um de nós e no mundo!

Demos Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, agora e para sempre, pelos séculos e séculos, Amém.

Miguel Augusto 

com Renovação Carismática Católica – Brasil

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