Teologia, uma dentada de cada vez (7)

Está a evidência interna nos Evangelhos segundo a evidência externa?

Depois de termos estudado o que as outras obras (“evidência externa”) dizem a respeito dos autores dos quatro Evangelhos, vamos agora comparar o que elas dizem com o que encontramos em cada um desses Evangelhos. Se encontrarmos coincidências com a “evidência externa”, então teremos mais provas da autoria desses textos.

MATEUS – A evidência fornecida por autores como Santo Ireneu, Clemente de Alexandria, Orígenes e Eusébio proclamam que (1) Mateus é o autor do primeiro Evangelho; (2) dedicou o seu trabalho aos judeus; (3) foi escrito originalmente em Aramaico; e (4) era destinado a fortalecer a fé dos judeus convertidos e para atrair possíveis novas conversões.

Quando examinamos o Evangelho atribuído a Mateus, descobrimos que (1) ele usava e referia muitas vezes o Antigo Testamento, o qual era familiar aos judeus; (2) citava profecias do Antigo Testamento que apontavam para o Messias; e (3) fazia referência a costumes e tradições, mas – ao contrário dos outros Evangelhos – não os explicava, porque assumia que os leitores conheciam os costumes a que o seu Evangelho reporta.

MARCOS – Autores como Papias, Santo Ireneu, Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano associaram São Marcos a São Pedro, e confirmaram que Marcos foi solicitado, pelos primeiros cristãos de Roma, a escrever o que Pedro pregara. Isto é o que a “evidência externa” nos diz.

Quando olhamos para este Evangelho, o que nele encontramos? Pedro é mencionado 24 vezes (em Mateus, 26 vezes; em Lucas, 29; em João, 41; e no mínimo o dobro das vezes em todos os outros apóstolos). O que tal nos revela é que Marcos simplesmente escreveu sobre as pregações de Pedro, que falou humildemente de si próprio. Em contraste com Mateus, este Evangelho não faz nenhuma referência a profecias do Antigo Testamento, nem aos costumes judaicos. Muitos dos acontecimentos que narra são os que São Pedro testemunhou pessoalmente e que por isso usou na sua pregação.

LUCAS – Podemos encontrar “evidências externas” fornecidas por São Jerónimo, Eusébio, Orígenes, Tertuliano, Santo Ireneu, São Policarpo e São Justino, o Mártir, que asseguram que o terceiro Evangelho fora escrito por Lucas, um gentio, médico e companheiro próximo de São Paulo. Este escreveu para os não judeus convertidos ao Cristianismo. Ao lermos o terceiro Evangelho, pudemos verificar o seguinte: (1) A construção gramatical mostra-nos que o autor não era judeu. (2) Paulo refere-se três vezes à sua ligação a “Lucas, o amado médico”. Aliás, Lucas, que também é visto como o autor dos Actos dos Apóstolos, fala da sua relação com Paulo no livro dos Actos. (3) Usa uma terminologia médica para descrever as doenças, quando fala das curas realizadas por Jesus Cristo. E (4) dirige-se aos convertidos e encoraja-os; fala sobre a alegria (felicidade) da conversão.

JOÃO – Santo Ireneu, um discípulo de São Policarpo, que por seu turno foi discípulo de São João, é ele próprio uma valiosa testemunha de que São João escreveu o quarto Evangelho. Eusébio, Justino e muitos outros também atestam a sua autoria. Neste caso, há mais “evidência interna” directa dos que nos outros três Evangelhos. São João diz, em 19:26: «Quando Jesus viu a Sua Mãe, e o discípulo que ele amava de pé, perto, disse a Sua Mãe, “Mulher, olha, o teu Filho”» e então, no verso 35 do mesmo capítulo, São João acrescenta: «Ele que viu isto tornou-se uma testemunha – o seu testemunho é verdadeiro e ele sabe que diz a verdade – na qual tu também poderás acreditar». Para além de que Ele se identifica no capítulo 21:20-24.

Pe. José Mario Mandía

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