Pedro Delfino, Cônsul Honorário de Portugal em Omã

Vasco da Gama é exemplo a seguir.

Afonso de Albuquerque fez de Mascate uma possessão portuguesa em 1507. A presença lusa durou até 1650. No passado mês de Agosto O CLARIM deslocou-se à capital do Sultanato de Omã, na Península Arábica, para tomar o pulso às relações comerciais e económicas entre Omã e Portugal junto do cônsul honorário Pedro Delfino, bem como ao legado português, à desinformação veiculada pela Imprensa ocidental e à coexistência da Igreja Católica num país de maioria muçulmana.

Pedro Delfino, cônsul honorário de Portugal em Omã desde 2015, leva-nos de automóvel até ao exterior do Palácio Al Alam, do sultão Qaboos, contíguo ao Museu Nacional, a pouca distância do Forte de Al Minari (antigo Forte do Almirante), de inspiração portuguesa.

Pelo caminho, assume haver espaço para estreitar parcerias comerciais e económicas entre Omã e Portugal: «Há imensas oportunidades. Há que explorar todas as vertentes e promover Portugal em todas as áreas para ser mais falado e conhecido. A marca “Portugal” tem que ser muito, mas muito mais publicitada e desenvolvida nesta parte do globo».

No seu entendimento, Portugal olha para Omã como um mercado secundário, porque no Médio Oriente dá mais importância ao Dubai. «A Arábia Saudita continua a ser um grande mercado, embora mais fechado. Há muitas empresas portuguesas que estão mais focadas nos entrepostos dos Emirados, no Dubai, e do Qatar, esquecendo um bocado o mercado de Omã, que é mais pequeno, mas mais fácil de penetrar. Depois, há outro mercado que poderá ganhar grande importância e ser uma aposta ganha no futuro por causa da posição geográfica e estratégica de Omã, mas cujo país encontra-se neste momento em guerra civil: o Iémen».

Estamos agora diante do imponente Forte de Al Minari. Do outro lado da baía temos o Forte de Al Jalali (antigo Forte de São João), também de inspiração portuguesa. Pedro Delfino reconhece que a viragem nas relações comerciais e económicas entre ambos os países apenas vão ser bem sucedidas com a «promoção e aposta da marca “Portugal”» nesta zona da Península Arábica, facto que irá contribuir para «criar mais oportunidades» de negócio, sendo também necessária a «visão de entidades e empresários portugueses na persecução deste objectivo». Assim sendo, insiste que se deve apostar na «publicidade» porque «a marca “Portugal” tem que ser conhecida no geral».

Questionado se o problema é transversal ao que se passa um pouco por toda a Ásia, o cônsul honorário mostra-se lacónico na resposta: «Portugal também era um país pequeno durante os Descobrimentos, no tempo de Vasco da Gama, e conseguiu descobrir o mundo inteiro. Com as tecnologias e a facilidade em viajar, não há razão para que a marca “Portugal” não seja conhecida, muito menos os portugueses, o próprio país ou as marcas portuguesas».

 

Desinformação

Um ocidental que visite Omã ficará surpreendido com a afabilidade dos omanis em geral, o que contrasta sobremaneira com o que as estações de televisão ocidentais transmitem sobre o Médio Oriente e a Península Arábica em particular.

«Há um grande estigma sobre o mundo muçulmano, não só do Médio Oriente, mas de todo. Há uma grande falta de explicação na informação que é emitida pela Imprensa. Por exemplo, Omã é dos países mais pacíficos do Médio Oriente, sendo o primeiro a ter uma mulher a exercer um cargo de ministro. As mulheres têm toda a liberdade: podem conduzir e trabalhar», descreve Pedro Delfino.

Com efeito, a Xariá não está instaurada. Já a maioria dos omanis não é sunita, nem xiita, visto pertencer a uma facção mais antiga – o ibadi – que só existe em predominância neste país.

«É preciso informar as pessoas que nem todos os muçulmanos são extremistas, muito menos os desta parte do mundo [Omã e Emirados Árabes Unidos]. Não se pode pôr tudo no mesmo saco. Se virmos estas cidades que se desenvolveram nos últimos quinze anos – Mascate, Dubai e Abu Dhabi… – são tudo menos extremistas. Pelo contrário, querem abrir os países ao mundo», frisa o cônsul honorário.

 

Um português das arábias (Caixa)

A residir em Mascate desde Outubro de 1999, Pedro Delfino conta que tudo começou quando foi abordado no Algarve, onde era treinador de ténis. «Estava a trabalhar num hotel do Algarve, de onde sou, e surgiu a oportunidade de vir, também como treinador de ténis, para o Médio Oriente, que sempre me fascinou, e aceitei», recorda, ao passarmos pelo distrito das embaixadas em Khuwair, na capital de Omã. Presentemente é empresário por conta própria. «Depois de cá estar alguns anos decidi fundar uma empresa ligada ao desporto e eventos desportivos, e também ao comércio de artigos desportivos. Para além do ténis, fui ainda pioneiro no estabelecimento da primeira escola de futebol», refere Pedro Delfino, adiantando que tem agora «muitos outros projectos», relacionados com «a promoção de Portugal» nas áreas do «turismo, das mobílias e da comercialização de produtos portugueses», entre outros que tem em vista.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

em Mascate

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