Nova página da História.
O Papa Francisco poderá visitar a República Popular da China em 2017; a Santa Sé deverá nomear bispos no continente chinês (possivelmente três) – o que acontecerá pela primeira vez desde a ruptura das relações diplomáticas entre os dois Estados; e o Vaticano poderá deixar de reconhecer Taiwan, avançava na última sexta-feira (29 de Janeiro) a edição digital do jornal italiano Corriere della Sera.
O virar de página nas relações entre a China e o Vaticano parece estar cada vez mais próximo, após o Sumo Pontífice ter enviado uma mensagem ao Presidente Xi Jinping, extensível ao povo chinês, por ocasião do Ano Novo Lunar.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em Pequim, Lu Kang, disse entretanto, na passada quarta-feira, que «a China é sincera na vontade de melhorar as relações com o Vaticano», numa reacção à histórica entrevista concedida pelo Papa Francisco ao jornal Asia Times, tendo referido que «o mundo não pode temer o crescimento chinês» e que admirava muito a história, a cultura e a sabedoria do País.
D. Stephen Lee, bispo de Macau, saudou o avanço nas relações entre a China e o Vaticano e mostrou prudência quanto às três possibilidades avançadas pelo Corriere della Sera, por ainda carecerem de confirmação oficial. «Se for verdade, será o melhor para a Igreja na China. Confio na Santa Sé e no Santo Papa», vincou, numa curta declaração a’O CLARIM.
Para o padre Franz Gassner, «é notável que o nosso Pontífice tenha enviado uma mensagem de Ano Novo Lunar a um líder chinês, o que não acontecia por esta ocasião há dois mil anos», enquanto «a visita do Papa Francisco à China poderá representar um verdadeiro salto gigantesco na História da China e da Igreja Católica».
Quanto à nomeação de novos bispos pelo Vaticano, o professor-assistente da Faculdade de Estudos Religiosos da Universidade de São José sustentou que se trata de um «desenvolvimento positivo» e desejou «que haja entendimento entre as partes».
«O sarar de feridas poderá começar [em breve], contribuindo este acontecimento [nomeação de bispos pela Santa Sé] positivamente para o futuro desenvolvimento da sociedade chinesa e do mundo», analisou Gassner, acrescentando: «Claro que isto não quer dizer que os dois lados possam aceitar todos os valores da outra parte, mas quererá simplesmente dizer que irão concordar com determinados pontos práticos, tal como fazem os Governos, e continuar com o necessário diálogo nos assuntos importantes. Tal passo encaixar-se-ia muito bem no legado do Papa Francisco, que enfatiza o aprender com os erros do passado e o estar aberto à misericórdia de Deus e à renovação de forma prática».
Nesse sentido, «a Igreja Católica na China pode fazer um melhor trabalho para a reconciliação deste imenso país. Além disso, a Igreja tem um grande potencial de receber e preservar as culturas e as identidades locais, traduzindo-se a longo curso numa vitória para ambos os lados».
Segundo o arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro, «a visita do Papa Francisco seria uma grande bênção para a China», porque «já não existe a razão que levou à criação da Associação Patriótica, que foram as injustas situações dos séculos XIX e XX, das potências coloniais influírem nos destinos da China», sem esquecer que «actualmente esta associação é vista como uma Gestapo, um elemento de sofrimento e desunião para os católicos chineses».
«A normalização das relações com a Igreja, através do Vaticano, será melhor para a China e para a hierarquia universal da Igreja que tem principalmente uma função espiritual, que procede do (legítimo) pai comum, que é o Papa. Um bispo nomeado fora dessa legitimidade é como um filho “legal”, mas ilegítimo, o que cria conflitos desnecessários», concluiu Vizeu Pinheiro.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
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