«Espero que as “offshore” sejam consideradas ilegais».
O caso “Panama Papers” é para o padre Stephen Rothlin, especialista em ética de negócios, «uma confirmação» sobre a forma de «agir do “capitalismo de compadrio”».
«Os documentos mostram até que ponto os poderosos cometem abusos de poder e determinadas personalidades fogem aos impostos. A informação não é uma verdade inquestionável, por isso tem de ser constantemente verificada e confirmada. No entanto, é reveladora dos abusos, a que chamamos “capitalismo de compadrio”» sustentou a’O CLARIM o director do Instituto Ricci de Macau.
«Estamos ainda no primeiro estágio de revelações, por isso mais casos vão ser denunciados. Estamos a atingir o ponto de ebulição em que, finalmente, situações destas não vão mais poder ficar escondidas debaixo do tapete. Com o tempo espero que as “offshore”, que têm ajudado tantos ladrões em todo o mundo, sejam consideradas ilegais», vincou o padre Rothlin, que defende «o estrito cumprimento das leis pelos Estados», sendo este «um importante elemento» a favor «da transparência e da credibilidade» que urge pôr em prática à escala global.
Confrontado com os últimos escândalos de grande magnitude, que por sinal até foram espoletados pelos Estados Unidos, sendo disso exemplo o caso de corrupção que abalou a FIFA, o sacerdote jesuíta disse «acreditar no cumprimento da lei», pois «há advogados agressivos nos Estados Unidos», cujo «profissionalismo» já contribuiu para «reforçar e melhorar a transparência dos bancos suíços» em relação «ao segredo bancário».
Por outro lado, não tem dúvidas em afirmar que «há muita corrupção nos Estados Unidos», embora «as companhias e as entidades [norte-americanas] não estejam a ser devidamente punidas», realidade que estará a ditar cartas na corrida às presidenciais. «Se olharmos para o inesperado sucesso de Donald Trump, percebe-se que a sua raiva personifica o sentimento que os americanos das classes baixa e média têm por uma elite composta por criminosos que abusa do dinheiro, tem fabulosos lucros e vive no luxo, fruto de massivas evasões fiscais, da corrupção e do branqueamento de capitais», referiu a propósito.
Para o padre Stephen Rothlin «é um alívio que haja agora cada vez mais casos documentados», embora reconheça que «as poderosas companhias americanas, para evitar o pagamento de impostos, contratem os advogados mais bem remunerados que exploram as áreas cinzentas da lei», algo que segundo ditam as boas práticas «poderá não ser ilegal, mas também não é ético».
PEDRO DANIEL OLIVEIRA