D. John Tong rezou pela cura das feridas na sociedade de Hong Kong

MISSA EM KOWLOON JUNTOU 800 FIÉIS E MAIS DE VINTE SACERDOTE

D. John Tong rezou pela cura das feridas na sociedade de Hong Kong

O cardeal D. John Tong, actualmente na função de administrador apostólico da diocese de Hong Kong, presidiu a uma missa na igreja de São Francisco de Assis, em Kowloon, a 23 de Agosto, que contou com a participação de mais de vinte sacerdotes e cerca de oitocentos fiéis.

D. John Tong rezou pela cura das feridas abertas no seio da sociedade de Hong Kong nos últimos dois meses e pelo diálogo e bom entendimento entre os residentes na ex-colónia britânica.

Na mesma ocasião, o vigário-geral da igreja de São Francisco de Assis, padre Peter Choy, disse que «os protestos não têm só a ver com a proposta de lei de extradição para a China continental– entretanto retirada pelo Governo da RAEHK no passado dia 4 de Setembro –, mas também com o mal-estar há muito verificado entre os chineses de Hong Kong e da China continental; a ausência de reformas políticas, nomeadamente no que respeita à habitação; e o crescente aumento do fosso entre ricos e pobres».

Neste quadro, o padre Choy deu a receita: «devemos orar para que haja esperança, compreensão mútua, aceitação e diálogo».

À mesma hora da missa celebrada na igreja de São Francisco de Assis teve lugar a formação de um cordão humano nas principais artérias da cidade. Ao semanário católico de Hong Kong em língua inglesa, Sunday Examiner, uma leiga de seu nome Patsy Young confessou que esteve na «dúvida entre participar na missa ou integrar o cordão humano». No final, decidiu pela missa pois considera ser «igualmente importante rezar a Deus pela Paz».

OUTRAS ACÇÕES EM NOME DA PAZ

No dia 24 de Agosto, o cardeal D. John Tong juntou-se a duas dezenas de proeminentes individualidades de Hong Kong para um pedido público à Chefe do Executivo, Carrie Lam, no sentido desta dialogar com os sectores da sociedade que têm vindo a demonstrar o seu descontentamento para com o Governo. Já no mês de Julho, o bispo emérito assinou um documento em conjunto com outros cinco líderes religiosos de Hong Kong, em que se opunham à invasão do Conselho Legislativo e reiteravam a necessidade de diálogo entre a sociedade e o Governo, com vista ao bem-estar dos cidadãos e ao normal funcionamento das instituições.

Nos últimos dias de Agosto a Chefe do Executivo acabou por reunir com alguns manifestantes, mas a iniciativa não surtiu o efeito pretendido e os confrontos continuaram, numa escalada de violência sem precedentes.

Já no início deste mês de Setembro milhares de alunos dos Ensinos Secundário e Universitário boicotaram o início das aulas, uma iniciativa que foi secundada pelos profissionais de saúde, que paralisaram alguns dos principais hospitais do território durante algumas horas. A Law Society of Hong Kong – o equivalente à Ordem dos Advogados noutros países – também se associou ao protesto, tendo muitos advogados realizado uma segunda marcha de silêncio.

Recuando ainda mais um pouco, lembramos a missa celebrada a 5 de Agosto na igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Wanchai, na qual o bispo auxiliar de Hong Kong, D. Joseph Ha afirmou que «os problemas políticos têm de ser resolvidos com propósitos políticos. O uso da força policial não é a solução. Os cristãos devem ser um instrumento de paz no meio do caos».

Na igreja de Nossa Senhora do Carmo foi colocada uma imagem de Cristo crucificado junto do altar, por forma a que os fiéis procurassem auxílio junto de Jesus num tempo conturbado.

Para o antigo secretário-geral da Comissão Católica para os Assuntos Laborais, Lawrence An, «todos os trabalhadores têm do direito de se manifestarem. No entanto, devem ter em conta o interesse público». O mesmo ex-dirigente sublinhou que «a maioria dos manifestantes não se opõe ao regime vigente. Apenas querem recuperar o que perderam: o amor e a justiça».

Há poucos dias, no âmbito da festividade do Bolo Lunar, registaram-se novos confrontos entre manifestantes e a polícia. Mais uma vez, as reivindicações voltaram a centrar-se nos mesmos pontos: libertação de todos os presos acusados pelos desacatos dos últimos dois meses, criação de uma comissão de inquérito à acção policial e a demissão da Chefe do Executivo. Como já vem sendo hábito, vozes mais radicais exigiram ainda a implementação do sufrágio universal para a escolha do Chefe do Executivo e do Conselho Legislativo de Hong Kong, e – numa segunda fase – uma maior autonomia da Região Administrativa Especial, senão mesmo a independência do território.

Embora o número de participantes nas manifestações pareça estar a diminuir (não há dados que o comprovem), a Igreja Católica em Hong Kong continua diariamente atenta aos desenrolar dos acontecimentos. São pois aguardadas novas declarações por parte dos seus mais altos representantes.

José Miguel Encarnação 

 com Sunday Examiner

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