Contra a indiferença dos poderosos.
Instituído pelo Papa Francisco, o 1º Dia Mundial dos Pobres, que será celebrado no dia 19 de Novembro, tem como objectivo sobrepor a cultura do encontro à indiferença dos poderosos. A’O CLARIM, o padre José Ángel Castellanos fala da população desprivilegiada que serve na qualidade de pároco da igreja de Nossa Senhora de Fátima. Já Paul Pun, secretário-geral da Cáritas, espera que Fernando Chui Sai On anuncie nas Linhas de Acção Governativa para 2018 medidas que tenham em conta quem passa por situações de manifesta carência, como sucede com as mães solteiras, empregadas domésticas, idosos e pessoas com deficiência ou doenças crónicas.
Na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, que abrange uma considerável parte da população de Macau a viver em sérias dificuldades, os mais pobres encontram-se entre as famílias desfeitas, as famílias monoparentais, especialmente mães solteiras, e os trabalhadores migrantes que lutam contra a falta de recursos materiais, na maior parte dos casos devido ao elevado custo das rendas para a habitação.
«Dado que estas mulheres [mães solteiras] não têm dinheiro suficiente para pagar as rendas, são acompanhadas pelas assistentes sociais ou pela Cáritas. Por vezes tentamos ajudá-las a encontrar um tecto a preço acessível, ou seja, barato. As famílias estrangeiras [de trabalhadores migrantes] deparam-se com muitas dificuldades, por isso também tentamos ajudá-las na questão da habitação arrendada», disse a’O CLARIM o padre José Ángel Castellanos, pároco da igreja de Nossa Senhora de Fátima.
«Por outro lado, temos a preocupação de consciencializá-las a favor do não desperdício, especialmente de comida, não só porque há pessoas pobres, mas também por causa do Ambiente e do nosso planeta», referiu o sacerdote dos Missionários do Verbo Divino, adiantando que para celebrar o 1º Dia Mundial dos Pobres as paróquias de Fátima e de São Lourenço vão co-organizar uma actividade dirigida às famílias carenciadas.
Riqueza versus precariedade
A Cáritas Macau é a prova viva de que o trabalho em prol dos mais desfavorecidos está longe de acabar no território. «Para nós, todos os dias são dias dos pobres. Mas este dia torna as pessoas mais conscientes, o que também é bom, pois leva-nos a pensar nos carenciados e negligenciados», salientou Paul Pun, ao abordar a celebração do evento mundial instituído pelo Papa Francisco.
«Macau é um território rico, mas a verdade é que tem pobres e pessoas desfavorecidas. É por isso que a Cáritas existe no território, ajudando a melhorar a vida dessas pessoas e a dar-lhes esperança. Caso contrário, não fazia sentido a nossa presença», acrescentou o secretário-geral da Cáritas Macau.
Embora os cofres públicos da RAEM sejam dos mais abastados a nível mundial, Paul Pun sustentou que teimam em existir situações de pobreza e precariedade no território, porque a prioridade vai para o desenvolvimento económico. E vincou: «Temos um bom programa de segurança social. O Governo melhorou em muitos aspectos. Contudo, há áreas que não são o alvo. Ou seja, para o Governo, o sistema foi criado para abranger todos de modo a que ninguém seja pobre, mas a verdade é que há pobres».
Linhas mestras para baixo
O Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, deve assumir um papel primordial em defesa dos mais desfavorecidos, já na próxima terça-feira, quando apresentar na Assembleia Legislativa as Linhas de Acção Governativa para 2018, defendeu Paul Pun. «Deve pensar nas pessoas com parcos rendimentos, incluindo os trabalhadores migrantes, dado que a maioria vive empobrecida, especialmente as empregadas domésticas. Esperamos que desta vez o Governo reveja o salário mínimo, ao pensar também nos trabalhadores migrantes de forma abrangente».
Embora haja quem seja pobre em termos financeiros, convém não esquecer quem também passa por idêntica situação devido a problemas de saúde. «Não podem trabalhar e estão em casa. São deficientes, idosos muito frágeis ou pessoas com doenças crónicas. Devem ter a atenção da sociedade», acentuou o mesmo responsável.
A Cáritas vai assinalar o Dia Mundial dos Pobres no Teatro Brito, com a projecção do filme “Para a Frente”, em língua chinesa, para maiores de treze anos. O CLARIM sabe que a diocese de Macau está a ultimar os preparativos para celebrar o evento mundial dedicado aos pobres.
Francisco pede mais compaixão (Caixa)
Na mensagem para o 1º Dia Mundial dos Pobres, publicada no passado dia 13 de Junho, o Papa Francisco referiu: «Conhecemos a grande dificuldade que há, no mundo contemporâneo, de poder identificar claramente a pobreza. (…) A pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças exploradas para vis interesses, espezinhadas pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco que se é constrangido a elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença generalizada!».
Nesse sentido, o Santo Padre convida «a Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste dia [19 de Novembro], em todos aqueles que estendem as suas mãos invocando ajuda e pedindo a nossa solidariedade». O Dia Mundial – conforme notou – pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte, e do desperdício, assumindo a cultura do encontro.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA