Comida, folclore e matrimónio.
Como já vai sendo tradição, o Grupo Folclórico Macau no Coração esteve em Portugal para acções de intercâmbio cultural e pesquisa etnográfica. De ano para ano tem aumentado o seu campo de actuação. Desta vez, aventurou-se na gastronomia.
Em resposta a um desafio lançado por um dos dinamizadores das vindas a Portugal, o empresário João Carlos Breda, duas das responsáveis do grupo, Ana Maria Manhão e Rosita Gaspar, juntamente com a especialista em culinária macaense, residente em Águeda, Diana Guerra, meteram mãos à organização do Festival de Gastronomia de Macau.Um evento aguardado pelos muitos que quiseram matar saudades dos pratos do antigo território português e pelos curiosos que queriam ficar a conhecer uma autêntica cozinha de fusão, sendo que acabou por superar todas as expectativas.
Ana Manhão disse a’O CLARIM que haviam cozinhado para três dezenas de pessoas, mas apareceram mais de cem! No entanto, não foi por isso que alguém ficou sem comer.
O desafio foi lançado há já algum tempo por pessoas envolvidas na vinda do grupo a Portugal e a ideia continuou a crescer e a ganhar forma. Segundo Ana Manhão, «para confeccionar os pratos macaenses como deve ser são precisos ingredientes que só se encontram em Macau, como por exemplo o “chao-chao pele”. Sem esses ingredientes específicos os pratos ficam apenas parecidos, mas o sabor é diferente». Daí que uma grande parte dos produtos tivessem de vir de Macau juntamente com a bagagem que cada elemento do grupo transportou. Só assim foi possível confeccionar o Tacho com “chao-chao pele”, como se come em Macau, ou o Porto Balichão e o Minchi com Orelhas de Rato (uma espécie de cogumelo muito utilizada na culinária chinesa).
«O Festival de Gastronomia de Macau teve como principal objectivo degustar pratos cozinhados por apreciadores, naturais e ex-residentes no território, e que alguns curiosos pudessem provar pratos mais ou menos exóticos, resultantes da fusão de duas cozinhas [a portuguesa e a chinesa] que ao longo dos séculos foi agregando outras cozinhas, aromas, saberes e sabores», referiu João Carlos Breda numa das suas publicações nas redes sociais.
Na realidade, o festival foi uma boa oportunidade para dar a conhecer novos sabores e saberes da verdadeira cozinha de fusão, onde o Tacho é um bom exemplo da evolução da gastronomia que acompanhou os movimentos das Descobertas. Neste contexto, a comida de Macau é o expoente máximo do agregar dos sabores da velha Europa Mediterrânica e Atlântica com os da quente África e da aromática Índia, com diferentes nuances do exotismo asiático.
Porco Bafassá ou Balichão, Porco Bafassá com batatas coradas, Minchi, Tacho, Minchi com Orelhas de Rato e Capela foram alguns dos pratos que os presentes tiveram a oportunidade de comer. No capítulo das sobremesas, havia o famoso Pudim de Manga, Pudim de Coco, Pudim de Xarope de Figo, Bolo de Laranja e Bolo Menino. Para acompanhar, além dos vinhos da região de Águeda, também o Xarope de Figo, bem fresquinho.
No decorrer do festival e ao entardecer do dia 27 de Agosto, numa das unidades hoteleiras situadas no centro de Águeda, um grupo de amigos da cidade, em sinal de agradecimento pelo trabalho feito pela associação Macau no Coração, distinguiram Ana Manhão com a atribuição de um Galo de Barcelos – o símbolo de Portugal para enaltecer o trabalho que a Macau no Coração tem feito pela promoção e divulgação da etnografia e da Língua Portuguesa, assim como das gastronomias portuguesa e macaense, tanto em Macau como na China. O referido Galo de Barcelos, pelo que O CLARIM conseguiu apurar, é da autoria da artesã Mina Silva Mina Gallos e foi feito exclusivamente para este fim.
Durante esta passagem por terras lusas, à semelhança do que tem acontecido em outros anos, a Macau no Coração mantém contactos com diversas instituições e organizações. Ao mesmo tempo realiza visitas que servem para recolher dados etnográficos, manter contacto com outras realidades e procurar novas oportunidades de cooperação. Este ano, numa visita a Fermentelos, falou-se da hipótese de ali se poderem vir a organizar regatas de barcos-dragão no próximo ano. A Junta de Freguesia mostrou-se interessada, havendo a possibilidade do projecto ter pernas para andar. Os seus responsáveis acreditam que pode ser uma forma de dinamizar uma zona do País que tem estado abandonada há vários anos, não sendo aproveitado o seu imenso potencial turístico.
Os elementos da Macau no Coração deverão já estar na RAEM aquando da publicação deste texto, mas não quisemos deixar de dar nota de um acontecimento que marcou quem o presenciou.
No ano passado, também por ocasião da passagem do grupo por Águeda, dois dos seus elementos juraram casar (o rapaz pediu a rapariga em casamento, na rua dos chapéus coloridos, e ela aceitou!) e este ano, após terem tudo organizado junto da Conservatória do Registo Civil de Águeda, o evento teve lugar no mesmo local onde havia sido feito o pedido de casamento. Uma forma deliciosa e muito bonita de terminar uma visita a Portugal.
O enlace realizou-se no dia 30 de Agosto, na Rua Luís de Camões. Para além de muitos convidados, participaram na cerimónia os transeuntes que visitavam a rua mais colorida e fotografada do mundo.
A Victoria e o Pedro estão de parabéns pela originalidade e pela criatividade que trouxeram a Águeda. Que sejam felizes e que continuem a participar nestas visitas a Portugal, a fim de divulgarem a cultura portuguesa do Oriente. Também eles próprios são o exemplo da miscigenação de culturas.
João Santos Gomes