Lisboa transfigurada em Seul?
À hora a que estas linhas são redigidas não se sabe qual a cidade-anfitriã da próxima Jornada Mundial da Juventude, mas Seul tem sido o nome mais falado nos corredores do evento. À semelhança das outras edições, a confirmação (ou não) da capital da Coreia do Sul será feita pelo Papa na missa de encerramento da JMJ Lisboa, agendada para este Domingo, dia dedicado à Transfiguração do Senhor.
Este Domingo, 6 de Agosto, a Igreja celebra a Festa da Transfiguração do Senhor, ou de Jesus, para além de ser o dia final da JMJ Lisboa. Talvez Jesus se transfigure e se reavive de forma radiante e luminosa, em glória divina, no coração da multidão de jovens que se congregará para o evento presidido pelo Papa Francisco.
Mas o que é então a Transfiguração do Senhor? É um acontecimento maravilhoso narrado nos Evangelhos sinópticos, ou seja, em Mateus 17, 1-6; Marcos 9, 1-8; e Lucas 9, 28-36, no qual Jesus, pouco antes da Sua Paixão, se transfigurou e surgiu de forma divinamente radiosa e gloriosa sobre uma montanha. Diante d’Ele, na Transfiguração, estavam três dos Seus apóstolos, Pedro, Tiago e João, no Monte Tabor, ou Monte da Transfiguração, que ali tinham ido para rezar com o Mestre. Pedro, Tiago e João, as testemunhas da Transfiguração, eram como que os três principais discípulos.
No topo da montanha, Jesus começou a brilhar com raios de luz refulgentes e brilhantes, aquilo a que se passou a chamar de “luz tabórica”. A completar o sublime e luminoso acontecimento, surgem os profetas Moisés e Elias ao lado de Jesus, O qual falou com eles. Jesus foi depois chamado de “Filho” por uma voz vinda do céu, por Deus Pai, como sucedeu no Seu baptismo no Rio Jordão. De recordar que se atribui ao Monte Tabor o privilégio de ter sido o cenário deste acontecimento, mas não há certezas. Apenas se sabe, segundo Lucas, que Jesus levou os três apóstolos até «à montanha para orar». Pensa-se que terá sido no Tabor, mas…
Em 2018, o Papa Francisco lembrou aos cristãos que a Transfiguração do Senhor serviu para ajudar os apóstolos e depois a todos os crentes “a compreenderem que a Paixão de Cristo é um mistério de sofrimento, mas, sobretudo, um dom de amor infinito de Jesus”. De forma prefigurativa, porque antes da Sua Paixão, serviu também para preparar e ajudar a compreender mais profundamente aquilo que seria a Ressurreição. A Transfiguração serviu para fortalecer a fé dos apóstolos, com a subida a uma montanha a prefigurar também o caminho para o Calvário, a colina da Paixáo, em Jerusalém. Ou seja, a “esperança da glória”.
Transfiguração significa “mudança de forma”, do Latim “trans” (através) e “figura” (forma, aspecto). É, assim, uma mudança de forma ou aparência. Com efeito, de acordo com as fontes bíblicas, Jesus mudou a sua aparência, tornando-se glorioso. Jesus anunciara a Transfiguração, segundo Lucas 9, 27 (que é o que mais e melhor descreve a Transfiguração), quando, a fechar uma prédica aos apóstolos, misteriosamente falou: «“Em verdade vos digo, há alguns entre vós que não provarão a morte até que vejam o Reino de Deus”».
A Transfiguração pode ser a base de uma reflexão para a JMJ, na qual se espera que Jesus, “acorde” os que se congregarem junto ao Rio Tejo. Que têm estado como que “adormecidos”, como estavam os apóstolos, que também, segundo Lucas, montaram tenda para seguirem o Senhor, segundo sugestão daquele que seria o primeiro Papa, Pedro. O Papa Francisco, vigário de Cristo, sucessor de Pedro, vem também acordar, para que se redescubra a glória e o caminho da conversão.
A aparição de Moisés e Elias representa a Lei e os Profetas, um vínculo de confirmação com o Antigo Testamento. Moisés doou a Lei e Elias foi considerado o maior dos profetas.
A experiência da Transfiguração aponta para o sofrimento que Jesus estava prestes a experimentar, na Sua Paixão. Esta serviria para fortalecer a fé dos discípulos, dos que O seguem, revelando-lhes a mão divina que operará a marcha de Jesus até à Ressurreição. Pedro queria as tendas, por outro lado, para prolongar a experiência da glória. Mas essa é, apesar de bondosa, uma experiência humana de satisfação e prazer, uma aposta errada. Não se deve, pois, ficar na montanha, mas antes preparar o caminho, o futuro, como as profecias anunciaram e Jesus viria a trilhar, até à Paixão redentora. Por isso veio a nuvem, a lembrar os que como Pedro querem ficar ali, sem se mexerem: «“Este é meu Filho, meu Escolhido; Ouçam-No!”».
Por último, a Festa da Transfiguração é celebrada por várias denominações cristãs. Tem origens incertas, mas ocorria já no Século IX, passando a celebrar-se a 6 de Agosto desde 1456, por iniciativa do Papa Calisto III (Papa entre 1455 e 1458), para celebrar o Cerco de Belgrado (1456) e a vitória cristã sobre os Otomanos.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa