FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ É CELEBRADA A 14 DE SETEMBRO

FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ É CELEBRADA A 14 DE SETEMBRO

Símbolo da realeza de Jesus e do amor verdadeiro de Deus

Exaltar a Cruz, o madeiro infame onde Cristo foi injustamente crucificado? Perguntam-se muitos cristãos assim, o porquê de tal festa católica, que cai a 14 de Setembro de cada ano. De facto, noutros tempos, entre os romanos, era um instrumento de suplício, terrível e causador de grande e demorado sofrimento. O Cristianismo transformou o infame lenho da dor e tortura na “Árvore da Vida”, da redenção e da nova aliança, símbolo da vitória pascal de Jesus sobre a morte, sinal da nova vinda do Senhor. A Festa da Exaltação da Santa Cruz é celebrada no dia seguinte à dedicação da Basílica da Ressurreição, erigida sobre o sepulcro de Cristo.

Exalta-se a Cruz do Senhor porque, na realidade, não é uma cruz qualquer; em primeiro lugar, porque é acima de tudo o instrumento de revelação do amor de Deus a toda a Humanidade e fonte de esperança, como recordou o Papa Francisco. A Cruz é a misericórdia que abraça o mundo todo, rematou Francisco.

A História revela-nos, envolta na Tradição, porém, que a 14 de Setembro de 320, Santa Helena (250-330), imperatriz de Constantinopla, mãe do imperador Constantino, encontrou o madeiro no qual se acredita que morreu Jesus. Todavia, em 614, a Cruz terá sido levada pelos persas como um troféu de guerra, depois de tomarem Jerusalém em 614, levando-a para Ctesifonte. Foi posteriormente recuperada pelo imperador bizantino Heráclio, em 628 (ou 629), que a carregou triunfalmente para Jerusalém, novamente, iniciando-se então a festa litúrgica da Exaltação da Santa Cruz. Também se justifica a data de 14 de Setembro por ter sido nesse dia, em 335, que a Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém fora consagrada.

No que se refere à tradição ligada a Heráclio, quando a Santa Cruz chegou novamente a Jerusalém, o imperador terá manifestado desejo de a acompanhar em solene procissão. Mas ter-se-á apresentado vestido de forma sumptuosa e faustosa, com muito luxo; contudo, deu-se conta que não conseguia avançar na procissão, imobilizado. A pompa do seu traje estava em desalinho com a humildade e a memória dolorosa de Cristo a carregar a Santa Cruz, segundo advertência do Patriarca de Jerusalém, Zacarias (609-632). Heráclio despojou-se então do manto e coroa de ouro, de toda a riqueza, descalçou-se e, humildemente, pôde então acompanhar a procissão pelas ruas de Jerusalém.

Para evitar novos furtos, o madeiro foi dividido em quatro pedaços, depois separados entre Roma e Constantinopla, enquanto o que ficou em Jerusalém foi depositado num um belo cofre de prata. Dos quatro fragmentos, pequenos pedaços foram feitos para serem distribuídos por várias igrejas do mundo, os quais foram chamados de “Vera Cruz” e venerados como relíquias. A Cruz tornou-se um símbolo cristão importante, taumatúrgico e apotropaico: Santo Antão (ou António), abade, andou como eremita no deserto egípcio, atormentado por tentações demoníacas – espantava o demónio fazendo o Sinal da Cruz. A tradição narra que desde então o Sinal da Cruz liberta dos males quem o fizer ou usar. Também a Virgem Maria terá ensinado Bernardette de Soubirous, em Lourdes, a fazer o Sinal da Cruz de forma reverente e cuidadosa como forma de respeito e cuidado contra o mal.

«Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me» (Mateus, 8, 24), é talvez o referente teológico e religioso mais importante na devoção da Santa Cruz, o zénite espiritual que a torna mais do que um símbolo. Instrumento do sacrifício do Filho, a Cruz representa, pois, uma forma de humildade, de caminho de sofrimento para a vitória espiritual. É o símbolo da realeza universal de Jesus, da derrota do mal e do amor verdadeiro de Deus, e de restituição da esperança, como exaltam os teólogos.

Vítor Teixeira 

Universidade Fernando Pessoa

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